Conheça os detalhes da estratégia que permitiu o lançamento de mais de 200 produtos e 38 patentes em 2020
Por Marina Filippe
Em plena pandemia de covid-19, a fabricante de cosméticos Natura inova mais do que nos últimos anos, é o que revela o índice de inovação, que mede a participação da venda de produtos lançados versus os produtos vigentes do portfólio, e chegou a 67,1% em 2020, o mais alto desde 2015. Somente no ano passado, a marca depositou 38 novas patentes no mercado e lançou mais de 200 produtos no Brasil.
Na prática, só é considerado inovação aquele lançamento que traz novo conceito ou tecnologia. “No caso da Natura, consideramos a participação de vendas dos produtos lançados nos últimos 24 meses na receita bruta total do último ano e consideramos lançamentos aqueles que representam uma nova proposta de valor para o consumidor, como novas embalagens e/ou formulações”, diz Roseli Mello, líder global de P&D da Natura.
Entre as inovações está o relançamento do ativo Ekos Castanha, em comemoração aos 20 anos de Ekos. Também nesta linha há novas fragrâncias e ingredientes, como o Tucumã. “O desafio é combinar um conhecimento profundo da ciência e da biologia do ativo e de como a pele atua. Isto é o que chamamos de biobeleza e atrelamos aos nossos compromissos de sustentabilidade 2030”.
Enfrentar as mudanças climáticas, defender os direitos humanos e apoiar a economia circular são alguns dos compromissos e parte resultados já são atrelados à eles. Entre os produtos, 93% têm ingredientes naturais, e 84% são veganos. “São inovações que se consolidaram em 2020 e estão sendo desenvolvidas nos últimos anos”, diz Mello. Já no portfólio de enxaguáveis, 93% são biodegradáveis.
O tempo de inovação pode variar bastante. Um funil de desenvolvimento de produtos leva de sete meses a dois anos quando já há uma base tecnológica. No caso do Tucumã, com o qual foi preciso entender desde as características do fruto até as utilizações possíveis em cosméticos, o espaço de tempo é maior. “Para o tucumã chegamos em 350 possibilidades de uso. Quando decidimos como usuaríamos, entramos nesse funil de até dois anos no qual paralelamente são trabalhados embalagem, marketing e mais”.
Embalagem, inclusive, é parte da inovação. Em Kaiak Oceano, por exemplo, a novidade é a utilização de plástico retirado do oceano em parte da embalagem. A Natura também tirou o celofane, uma medida que parece simples, mas que demandou adaptações na linha de produção, sem deixar de entregar o mesmo valor para o cliente final.
Impacto dos investimentos
Estes exemplos retratam mudanças técnicas e de gestão que permitem um melhor resultado em inovação. Foram destinados 233 milhões de reais para projetos de inovação no ano passado, expansão de 9% em relação a 2019.
Em março do ano passado, por exemplo, foi inaugurado em Cajamar, no interior de São Paulo, o mais moderno parque tecnológico da Natura da América Latina. Assim, há melhor infraestrutura de dados, uso de inteligência artificial e mais. Além disto, foram intensificadas as práticas de gestão focadas em metodologias ágeis.
“Passamos a conseguir encontrar todos os dados de um projeto em um só lugar, sendo visível também para outras áreas. Assim gastamos menos tempo em atividade burocráticas e conseguimos maior eficácia”, diz Mello. No desenvolvimento de produtos da linha Todo Dia, por exemplo, houve redução de 20% do tempo.
A executiva conta ainda que as 250 pessoas que trabalham com pesquisa e desenvolvimento na Natura passam a se organizar em grupos independentes para cada marca, facilitando o desenvolvimento dos processos. E são mais 320 pessoas abaixo da vice-presidencia de marketing, inovação e sustentabilidade.
“Hoje 70% das pesquisadoras científicas da Natura são mulheres, um dado importante quando as mulheres ainda não são maioria nas pesquisas científicas das empresas em geral”.
Fonte: Exame