Empresas como Mercado Livre e Pague Menos veem demanda por produtos sustentáveis explodir durante a pandemia
Por Katia Simões
Além de acelerar a transformação digital, a pandemia impulsionou a pauta socioambiental e de governança das companhias. “A oferta de produtos sustentáveis será cada vez mais um diferencial importante no olhar dos investidores e do consumidor”, afirma Alberto Serrentino, fundador da BTR Varese, especializada em varejo.
Menos de cinco anos depois de promover a primeira campanha Eco Friday em sua plataforma, o Mercado Livre viu a demanda por produtos sustentáveis explodir. Entre 2017 e 2019, o número de vendedores cresceu 198%, chegando a 2.500 players. A quantidade de produtos subiu 322%, para cerca de 11.200 itens à venda.
“Em 2019, nós lançamos a categoria de produtos sustentáveis, dividida em cinco grandes grupos: mobilidade sem emissões, eficiência energética, reutilizáveis e lixo zero, energia renovável, hortas e composteiras”, diz Laura Motta, head de sustentabilidade do Mercado Livre. “Em 2020, cerca de 1,4 milhão de consumidores adquiriram pelo menos um produto sustentável no marketplace e para 81 mil novos clientes da plataforma a primeira compra foi de um item com esse conceito”, afirma.
Na visão de Laura, o varejo tem um papel importante no trabalho de migração das linhas sustentáveis de um consumo de nicho para uma demanda de grande escala.
Ciente dessa necessidade, a rede de farmácias Pague Menos, com 1.100 unidades no país, foi uma das primeiras no segmento a investir no conceito. A Eco, marca própria da rede, lançou uma linha vegana, 100% natural, de xampus e condicionadores sólidos, em embalagens de 100 g que não geram resíduos. São seis itens, com preço final de R$ 35, que rendem até 40 lavagens, o que equivale a 350 ml de xampu líquido.
A linha apresentada pela Pague Menos faz parte de uma categoria de produtos que vem ganhando espaço no varejo, a chamada clean beauty. “Há dois anos poucas marcas nacionais tinham produção certificada e em quantidade suficiente para atender à demanda de beleza limpa”, diz Christiane Bistaco, diretora de negócios da Época Cosméticos, e-commerce do Magazine Luiza. “Hoje, 5% das 500 marcas atuantes na plataforma são sustentáveis. Desse volume, 25 nacionais, sendo que 10 delas chegaram à loja neste ano”. Segundo a executiva, o desafio do varejo está em acompanhar a cadeia produtiva a fim de ampliar o mix, além de alinhar a comunicação dessas linhas bem menos promocionais.
Foi para falar com o consumidor final que a Orgânica, maior vendedora de bucha vegetal do país, com 1,5 milhão de unidades em 2020, decidiu diversificar sua presença no varejo. “Com 30 anos de mercado, estamos presentes em mais de 2.000 pontos de venda, mas sentimos que tinha espaço para abrir um canal próprio”, diz o diretor João Galhardi. “Em 2019, lançamos nossa franquia, nas versões quiosque e express.”
A iniciativa exigiu ampliação na oferta de produtos e uma personalização de linhas para não conflitar com o varejo tradicional. Em 2020, o faturamento foi de R$ 15 milhões e a meta para este ano é crescer 20%.
Para Amauri Gennari, diretor comercial da Gimba, que vende produtos e utensílios domésticos sustentáveis, o momento é mais propício para ampliar o mix de ofertas. “Produtos sustentáveis representam 5% do faturamento do ramo de limpeza, que movimenta R$ 4 milhões por mês.”
Fonte: Valor Econômico