Números divulgados pela B2W e Mercado Livre mostram aumento das vendas e migração do consumo para os canais digitais em meio à pandemia
Por Adriana Mattos
Números publicados pelas varejistas on-line B2W e Mercado Livre mostram ritmo forte de aumento de vendas neste ano, especialmente após fevereiro, quando as restrições de circulação cresceram. O ritmo supera ou se iguala ao que se viu nas empresas no fim de 2020, período de Black Friday e Natal. Nesta semana, Via e Magazine Luiza divulgarão seus números. A dúvida é se o aumento na competição afetou as margens de lucro.
Apesar da boa fase, ainda é um movimento de migração da demanda das lojas ao digital, e não de aceleração de consumo. “Março foi recorde histórico de vendas o-line para o mês. Em abril, a alta foi de 43% sobre um forte abril de 2020. Na segunda metade do ano, pela maior base de comparação do ano passado, esses índices devem desacelerar”, diz Fabrício Dantas, CEO da Neotrust, que faz pesquisas mensais desse mercado.
Para Danniela Eiger, analista da XP, a concorrência vai se intensificar em 2021, com a pandemia sendo vista como uma oportunidade para as plataformas se consolidarem. Balanços até agora publicados reforçam o quadro citado pela XP, com a B2W (Americanas.com, Submarino) voltando a crescer mais rápido, após ter perdido velocidade em 2020.
De janeiro a março, as vendas totais da plataforma da B2W (em inglês, o chamado GMV) subiram 90,4%, para R$ 8,68 bilhões. O GMV só do braço de “marketplace”, que vende itens de terceiros, subiu 105%. Ao se juntar os pontos da Lojas Americanas e o digital da B2W, o chamado “universo Americanas”, esse valor atinge R$ 11,1 bilhões, alta de 53%. Abril foi o melhor mês do ano para a B2W.
Quando Magazine Luiza publicar seus números na quinta-feira, precisará ter crescido acima de 45% para manter-se à frente do “universo Americanas” no ranking geral do GMV, calculou o Valor.
A receita líquida da B2W avançou 73,3%, para R$ 3,64 bilhões. O total de itens vendidos subiu 252%, impulsionado pelo negócio de supermercados, que gera volume e traz frequência de clientes.
A B2W chegou consumir mais caixa no trimestre, em parte, por razões de sazonalidade e para elevar estoques próprios. De janeiro a março, o consumo de caixa cresceu 39%, para cerca de R$ 897 milhões. E o total estocado subiu 70% sobre 2020, para R$ 2 bilhões em março.
Guilherme Assis, da equipe do Safra, diz que os resultados da B2W confirmam alta do GMV em detrimento das margens e “com significativa queima de caixa”.
Sobre rentabilidade, a margem ebitda, que mede lucro após despesas operacionais, caiu de 7,5% de janeiro a março de 2021 para 4,4% neste ano. Foi uma queda justificada pela B2W na sexta-feira.
Ocorre que a linha de despesas incluem gastos com o programa de frete grátis da B2W, que subiram neste ano. Nele, a ideia é dar esse subsídio a lojas que usam o sistema de logística da B2W, numa forma de tentar melhorar o nível de serviço geral e, com isso acabar ganhando mercado.
“O investimento em despesa é feito atendendo um equilíbrio entre caixa e margem e ainda está atrelado à coparticipação do lojista no nosso programa. Houve concorrentes que investiram também, com efeito em margem maior do que o nosso”, disse a analistas o diretor de relações com investidores Raoni Lapagesse. “Ressalto que seguimos mantendo o firme compromisso de gerar caixa”.
Outros indicadores avançaram na B2W. A entrega rápida, em poucas horas, foi 14% do total (era 11% no fim de 2020). O envio no mesmo dia passou de 40% para 44%.
Para efeito de comparação, no Mercado Livre, que publicou números na quarta-feira, o GMV no Brasil teve alta de 92% no trimestre, acima da taxa de expansão do quarto trimestre (84%), período mais forte para o varejo. A receita avançou 139% em reais, o maior índice trimestral desde o começo da pandemia. A sua rede própria de entregas (Mercado Envios) no Brasil atingiu 83% das entregas no período, versus 79% do quarto trimestre de 2020. Na B2W, a taxa está em 80%. Além do serviço de retirada de produtos pelo Mercado Livre junto ao vendedor, a companhia antecipou ao Valor que começou a testar neste mês a possibilidade de o lojista deixar a mercadoria num posto credenciado, uma espécie de parceiro, que pode ser uma loja, hotel, restaurante, etc. O Mercado Livre não tem lojas como Via e Magazine, então usará esses postos para espalhar mais a sua rede de coleta de mercadorias.
Fonte: Valor Econômico