No total, investimentos em aquisições chegam a R$ 642 milhões; Magalu adquiriu 16 empresas em menos de 18 meses
Por Adriana Mattos
As aquisições anunciadas ontem pelo Magazine Luiza, do sistema de busca SmartHint, e pela B2W, da plataforma de delivery Shipp, ampliam a lista de negócios fechados pelas líderes do varejo digital desde 2020. Em menos de um ano e meio, segundo cálculos do Valor com base em dados públicos de B2W, Magazine e Via Varejo, foram 24 aquisições, numa média de 1,5 transação por mês – grande parte por conta de Magazine, com 16 compras no período.
O Valor também buscou nas notas explicativas dos últimos balanços das empresas dados sobre valor das aquisições e o modelo de aquisição (pagamento com ações, em parcelas, atrelado a desempenho, entre outros). Foram pouco mais de R$ 642 milhões em compras apenas em 2020, o ano da pandemia, que fez disparar a venda on-line no país e aumentou o foco das empresas no braço de “marketplace” (shopping virtual).
As transações do Magazine Luiza em 2020 somaram até R$ 559 milhões (valor final depende de condições), sendo a plataforma Hub Fintech a mais cara, por R$ 290 milhões, seguida do delivery AiQFome, por até R$ 125 milhões. Em sua maioria, são operações em que parte do pagamento será feito por meio de cessão de ações de emissão da rede, mediante o cumprimento de metas e permanência de ex-donos por cinco anos.
B2W, Magazine e Via Varejo avançam em aquisições para criar ecossistemas de serviços digitais. Buscam montar plataformas que possam oferecer produtos e serviços a lojistas e clientes, e para isso funcionar precisam reforçar a operação com novas estruturas.
O que chama a atenção agora é que, até parte do ano passado, eram aquisições voltadas para sistemas e logística. Isso continua, até pela disputa aberta entre elas para reduzir prazos de entrega na ponta (o chamado “last mile”), com foco hoje para a entrega em algumas horas. Mas também aumentou o volume de negócios em outras frentes, como serviços financeiros, publicidade, e até em conteúdo informativo (veja tabela ao lado).
É algo que reflete a estratégia paralela ao marketplace, de criação de superaplicativos, os “super apps”, que reúnam oferta de serviços (cartão de crédito, empréstimos) e venda de produtos, num modelo próximo ao que se vê no mercado chinês.
Para Gabriel Lima, sócio da consultoria Enext, são transações com baixíssimo impacto em caixa para as companhias, todas capitalizadas com ofertas de ações recentes, mas ele chama a atenção para a falta de dados sobre o andamento dos processos de integração. “Não se consegue saber ao certo como isso avança, especialmente a questão cultural e de processos. Mesmo sendo operações pequenas, eles passam a ter que seguir normas de governança, e entram dentro de um sistema bem maior, e isso exige uma adaptação”, diz ele.
Ele lembra que o volume de aquisições leva o mercado a pressupor que as lacunas principais estão sendo resolvidas, e os resultados do marketplace mostram que há retorno com as iniciativas, mas não está claro ainda quanto tempo será necessário para as empresas montarem ecossistemas mais maduros.
Na B2W, foram quatro compras desde janeiro de 2020, segundo cálculos do Valor. Na Via Varejo, também foram quatro aquisições desde o início de 2020, parte delas com a empresa entrando como sócia minoritária de startups.
Na manhã de ontem, Magazine Luiza e B2W informaram novas aquisições. O Magazine concluiu a compra da SmartHint Tecnologia, sistema de busca inteligente e de recomendação de compra criado há quatro anos, com cerca de mil clientes. A B2W anunciou a compra da Shipp, plataforma de delivery fundada em 2017 no Espírito Santo, com 10 mil entregadores cadastrados em 700 cidades.
A operação de compra foi fechada por meio da SuperNow, marketplace de supermercados da B2W, que custou R$ 15 milhões, sendo 90% condicionado a metas até 2022, segundo nota explicativa do balanço do grupo. Adicionalmente, são mais quase R$ 18 milhões parcelados para quitar obrigações do SuperNow.
Na lista de aquisições do Magazine Luiza, a segunda maior transação em 2020 foi a AiQFome, por até R$ 125 milhões, sendo até R$ 37,5 milhões em cinco parcelas anuais a ser liquidada em ações de emissão da companhia caso atinja metas.
Fonte: Valor Econômico