Para reverter o desempenho do ano passado, varejista projeta abertura de 38 pontos de venda e expansão na Região Nordeste
Por Adriana Mattos
A rede Pernambucanas quer, neste ano, pelo menos voltar ao patamar de vendas de 2019, quando registrou receita de pouco mais de R$ 4 bilhões, para tentar superar a queda do ano passado. Em 2020, com a crise gerada pela pandemia, houve queda no faturamento de 4,4%, para R$ 3,87 bilhões. O lucro líquido, de R$ 108,9 milhões, caiu quase 60%.
“Será a nossa luta do ano [voltar ao número de 2019]. Acho que dá para ser melhor que 2020 porque os fechamentos de lojas irão durar menos tempo”, disse o presidente Sérgio Borriello. “Caímos um dígito baixo em vendas neste começo de 2021, mas cremos numa retomada na segunda metade do ano”.
Para recuperar o desempenho, apesar da queda de confiança com a pandemia e o início de ano frustrante para o comércio, a varejista decidiu focar os investimentos na abertura de 38 lojas e abrirá as suas primeiras unidades no Nordeste – uma das regiões mais beneficiadas pelo auxílio emergencial, que volta a ser liberado a partir de abril. Se atingir as 38 inaugurações previstas, repetirá o recorde de 2020, quando o grupo manteve as aberturas projetadas antes da crise. Em 2019, foram 33 novas lojas. São pouco mais de 400 pontos no país.
Ainda entra nesse planejamento o avanço da digitalização, após o braço digital ter passado de cerca de 10% para 15% das vendas entre 2019 e 2020 – alta que refletiu as restrições de circulação. Há iniciativas em amadurecimento, mas na prática, esta é a aposta unânime do setor para o ano. Para tentar sair mais à frente, a Pernambucanas quer explorar uma vantagem que acha que capturou no ano passado, e pode beneficiar loja e digital.
Em 2020, a rede foi menos conservadora na política de renegociação de crédito numa hora em que parte dos clientes estava na bancarrota – a rede tem uma financeira própria, a Pefisa. Naturalmente, há custo em estender a mão nessas horas, pelo efeito dessa medida na receita financeira, mas a rede entende que isso pode ser benéfico neste ano.
“Aumentamos descontos, reduzimos taxas e tarifas, estendemos a carência de pagamento e ampliamos o prazo de pagamento sem juros. Isso onerou nossa receita com serviços financeiros, mas é uma decisão pensada porque esse cliente vai voltar a consumir e quem esteve do lado dele sai na frente”, diz Borriello.
Para se ter ideia mais clara desse cenário, a receita com operação financeira da Pefisa caiu 30% – nas concorrentes com capital aberto, o recuo variou de 20% a 25%. Mas a financeira terminou 2020 com volume de títulos e créditos a receber (com cartões) com leve alta de 0,5%, e melhora no total de créditos com alto risco de perda. Nas redes concorrentes, algumas com política mais conservadora, a queda no volume de créditos a receber variou de 0,5% a 15%.
Pelo lado da alavancagem, a varejista elevou seu endividamento em 2020, com rolagens e captações preventivas para enfrentar a pandemia. Com intuito de reduzir esse impacto, fechou em outubro a venda de 66 imóveis, por R$ 450 milhões, a um fundo do Credit Suisse. A cadeia passou a pagar aluguel pelos pontos, portanto, se entra caixa novo, fica a despesa com locação. Mas Borriello entende que a rede consegue equilibrar sua estrutura de capital, abrindo espaço para investimentos.
Entre os projetos de curto prazo, além das 38 lojas, o CEO cita a abertura de novos Espaço Disney, área dedicada aos produtos licenciados da marca – desde dezembro, há uma área na loja no Shopping Aricanduva, em São Paulo. Ele não detalha o número de aberturas. Também menciona o plano de lançar a opção de conta digital integrada ao cartão de crédito.
Segundo o balanço de 2020, as vendas “mesmas lojas” (pontos com mais de um ano) caíram 10,3% – Renner, Riachuelo, C&A e Marisa recuaram mais. “Caímos menos porque estávamos atrás [deles] no on-line, e aproveitamos para andar com os projetos”, diz. A venda on-line cresceu 1.081% em 2020, uma alta, vale ressaltar, em cima de base mais fraca.
Para 2021, Borriello diz que fevereiro e março foram “horríveis, com queda de um dígito baixo nas vendas” no primeiro trimestre, e não acha provável que a cadeia consiga reabrir as portas das 400 unidades em abril – 100 estão fechadas por causa das restrições. “Já no segundo semestre temos uma base de comparação menor e estamos esperançosos com o retorno da demanda reprimida”.
Um de seus receios é uma volta do descompasso entre varejo e indústria, como em 2020, quando as fábricas pararam após o início da pandemia. A cadeia diz que a queda de demanda agora fez varejistas adiarem ou cancelarem pedidos, o que leva a indústria a rever produção, levando ao risco de outro desequilíbrio. “Nós não cancelamos porque temos caixa e, quando voltar o consumo, teremos estoque”.
Em 2020, o Valor noticiou que a empresa vinha sendo sondada por bancos para avançar numa abertura de capital. O executivo diz que isso hoje é especulação.
Fonte: Valor Econômico