Enquanto houver risco de o comércio precisar fechar por conta da pandemia, a empresa vai focar em sua transição digital e na expansão via franquias
Por Marina Falcão
David Lee: “O frete tem ficado cada vez mais barato porque temos vários novos entrantes nesse setor de logística”.
Sem concretizar a oferta pública inicial de ações (IPO) no ano passado, a varejista Le Biscuit interrompeu as aberturas de lojas para preservar o caixa. Enquanto houver risco de o comércio precisar fechar por conta da pandemia, a empresa vai priorizar a transição digital e a expansão via franquias. Se houver uma reabertura de 100% das lojas no segundo semestre, a estreia na bolsa pode ser retomada em fevereiro de 2022, disse David Lee, presidente da empresa, ao Valor.
Sediada em Feira de Santana (BA), a Le Biscuit tem 144 lojas, sendo 110 no Nordeste. As unidades vendem 18 categorias de produtos, como artigos para festas, decoração, brinquedos e utilidades para o lar.
Perseguindo o modelo multicanal posto em prática pela americana Target, a empresa lançou o seu comércio eletrônico próprio no meio do ano passado, com 12 mil itens. Segundo Lee, a oferta de itens deve ser ampliada para pelo menos 30 mil quando a empresa agregar novos varejistas à sua plataforma, a partir do próximo mês. “São vendedores para complementar o portfólio das categorias em que já atuamos, gerando tráfego”, disse.
A empresa tem oferecido frete grátis para compras acima de R$ 200, seu atual tíquete médio no canal. “O frete tem ficado cada vez mais barato porque temos vários novos entrantes nesse setor de logística”, disse Lee.
Em paralelo, a empresa está iniciando agora sua operação digital de vendas diretas, com a plataforma Le Consultores. A companhia já começou o recrutamento e treinamento de 400 vendedores e pretende atingir, no mínimo, 5 mil até o fim do ano. Os consultores, todos autônomos, receberão comissão entre 8% e 12% das vendas. “Por conta da crise, a procura tem sido grande, pois é uma oportunidade de renda extra”.
A Le Biscuit tem 45% do seu capital nas mãos da Vinci Partners e 10% com o fundo americano Siguler Guff. Os demais 45% pertencem à família do fundador Aristóteles Martins Santana.
De acordo com demonstrações financeiras reportadas ontem, a empresa faturou R$ 860 milhões no ano passado, com uma queda de cerca de R$ 17% em relação ao ano anterior. As vendas “mesmas lojas” (abertas há mais de 12 meses) recuaram 23% em 12 meses.
Além da piora no desempenho operacional, a companhia teve um maior prejuízo financeiro, em parte por conta de efeitos da variação cambial e perdas com instrumentos derivativos. Com isso, a Le Biscuit encerrou o ano com prejuízo líquido de R$ 55,5 milhões, frente ao lucro de R$ 13 milhões em 2019.
Isolando o quarto trimestre, as vendas reagiram, subindo 5,6% na comparação anual e a empresa ficou no azul.
Para suportar os novos canais de vendas, a Le Biscuit está abrindo seu segundo centro de distribuição, em São Paulo, com 3 mil m2. Segundo Lee, a região Sudeste já é a segunda maior compradora da empresa via internet, mesmo com o prazo de entrega entre 7 e 10 dias. O outro centro, com 40 mil m2, fica em Camaçari (BA).
Não há previsão de aberturas de novas lojas físicas neste ano. Cada nova unidade demanda em média R$ 2,5 milhões em investimento da varejista, que está preservando suas reservas diante de um cenário ainda nebuloso para o funcionamento do varejo. Por outro lado, a expansão via franquias, que não demanda desembolso de capital próprio, será acelerada. Serão abertas 20 novas unidades franqueadas – atualmente são seis – em cidades com 100 mil e 150 mil habitantes.
Lee prevê que os novos canais de vendas, incluindo as franquias, deverão representar metade do faturamento da varejista já em 2022.
Fonte: Valor Econômico