Em ano de pandemia, franqueadoras brasileiras também colocaram o pé no freio no processo de internacionalização de suas marcas
Por Kátia Simões
O presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo, Eduardo Terra, avalia 2021 como um ano de acomodação, quando o assunto é a entrada e saída de marcas internacionais no Brasil. “No segmento de franquias, nove redes estrangeiras fecharam suas operações no país no ano passado e grandes varejistas internacionais também saíram”, afirma. “Não significa que o Brasil perdeu relevância e que no futuro as mesmas companhias não possam retornar, como já aconteceu no passado.”
Da mesma forma, muitas franqueadoras brasileiras colocaram o pé no freio no processo de internacionalização. “Até o início da pandemia, 20% dos novos associados eram brasileiros”, diz Cristina Maria Matos, CEO da Associação Portuguesa de Franchising. “Agora está tudo em compasso de espera.”
A afinidade com a língua e a cultura fez de Portugal um dos destinos mais procurados pelas franquias brasileiras, perdendo apenas para os EUA. No ano passado, 41 redes atuavam em território português, visto como porta de entrada para a Europa. A familiaridade, porém, não diminui o tamanho do desafio e nem a necessidade de adaptação à realidade local. “A língua ajuda, mas representa no máximo 10% do processo”, diz Cristina. “A parte fiscal é complexa, a forma de se comunicar também, assim como o jeito de fazer negócio.”
Daniel Miglorancia, sócio da Nutty Bavarian, sabe o que isso significa. A rede escolheu Portugal para começar a operar no mercado europeu. Apesar de conhecer muito bem o país, esbarrou em problemas comuns a outros mercados: a necessidade de se associar a um empresário local, a desconfiança frente a uma marca pouco conhecida pelo consumidor e a dificuldade de abrir o primeiro ponto. “Passamos dois anos testando a penetração do produto”, diz. “Não desistimos, retomaremos o processo depois da pandemia.”
De acordo com a ABF, 163 franquias brasileiras operavam em 106 países até dezembro de 2020, o mesmo número do ano anterior. Os EUA permanecem como o principal destino, com 61 marcas, seguido de Portugal (41) e Paraguai (36). “O processo de internacionalização das redes brasileiras amadureceu nos últimos anos”, diz Natan Baril, diretor internacional. “O convênio firmado entre a ABF e a Apex, que acabou de ser renovado, colaborou muito para que isso acontecesse”. Em 2021, o foco de trabalho será o estreitamento de relações com entidades internacionais, como a Federação Iberoamericana de Franquias e a World Franchise Council para ampliar o leque de países com presença de marcas nacionais e criar um canal de negócio mais efetivo.
O mercado latino americano, aliás, é o ponto de partida para muitas redes brasileiras na hora de testarem novos mercados. Foi o que fez a baiana Clean New, especializada em blindagem de estofados e higienização. “A captação dos masters franqueados na Colômbia e na Argentina surgiu por meio da exposição da marca nas redes sociais”, diz o CEO, Fritz Paixão. “Buscamos ajuda de uma consultoria para garantir o sucesso da expansão. Os resultados surpreenderam. Em 2020, o faturamento cresceu 95% na Argentina e 35% na Colômbia”. A chegada aos EUA, via Miami, porém, levou Paixão a preparar voos mais altos. Até 2022, a rede concentrará seus esforços na expansão para a Europa, começando pela Espanha.
Fonte: Valor Econômico