Setor enfrenta corrida contra o tempo para se adaptar às consequências da pandemia
O setor de Alimentação Fora do Lar (AFL) tem sido fortemente impactado pela pandemia do coronavírus. Em 2020, bares, restaurantes, pizzarias e lanchonetes tiveram que fechar suas portas e se adaptar a um novo cenário sem a previsão concreta da reabertura em sua totalidade. Mesmo com a flexibilização da quarentena isso ainda gera reflexos nos negócios até hoje. De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP), 30% dos comércios encerraram as atividades porque faliram nesse período.
Em comparação ao ano anterior, 2019, o crescimento do setor foi marcado por mudanças nos hábitos de consumo e, com isso, elevou o percentual de gastos dos recursos destinados à alimentação para 32,8%, segundo estimativas do IBGE. Já em 2018, esse mercado correspondia a 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, com um faturamento de R$ 176 bilhões.
O mercado de food service compreende todos os negócios que realizam transações ligadas ao consumo de alimentos preparados fora do lar, sejam para serem consumidos no estabelecimento, na casa do consumidor ou onde ele estiver. Mesmo com os números assustadores sobre os negócios que quebraram, muitos empreendedores encontraram oportunidades onde muitos não enxergavam. Um estudo da Mobills aponta que os gastos com os principais aplicativos de entregas de comida – Rappi, iFood e UberEats – cresceram 149% em 2020. Logo, o delivery deixou de ser visto como um diferencial para se tornar uma necessidade.
Essa foi uma das maneiras mais buscadas para manter o segmento de food service funcionando. Foi preciso correr contra o tempo para repensar conceitos, adequar menus e adaptar equipes e processos a essa nova realidade. Empreendedores tiveram de reestruturar seus negócios, não só as vendas, mas também a gestão de seus comércios. Segundo a pesquisa “Alimentação na Pandemia: a Visão dos Operadores de Foodservice”, desenvolvida pela consultoria Galunion e pela Associação Nacional de Restaurantes (ANR), um terço dos estabelecimentos (34%) comprou insumos com distribuidores especializados e outra parcela (31%) adquiriu direto com a indústria.
A jornada de compras de estabelecimentos comerciais em plataformas B2B mostra também uma adaptação do setor para o digital. Muitos players do setor de distribuição oferecem a opção de vitrine virtual, ou ainda, assumem a logística e criam modelos ligados diretamente à indústria criando um serviço diferenciado para abastecimento de bares e restaurantes. A tecnologia se faz cada vez mais presente no cotidiano da população. Com isso, a adesão dos negócios também tem sido cada vez maior. Outro fator importante que contribuiu para essa transformação é o investimento na experiência do cliente, é a estratégia omnichannel, que permite integrar diversas opções de atendimento ao consumidor.
Não há dúvidas de que a pandemia provocou mudanças no mercado de food service, sejam elas negativas ou positivas. Mas no Brasil o setor aponta um novo rumo já que os hábitos de consumo também mudaram dentro e fora dos comércios. Seja o consumidor que tem se alimentado mais por entregas, quanto o próprio empreendedor que deixou de ir à feira ou atacado para abastecer seu estabelecimento comprando pela internet.
Uma projeção da Food Consulting e levantamentos da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que o setor vai passar de uma queda de 32% em 2020 para uma alta de 22% a 25% em 2021. A expectativa é grande, quem conseguiu se reinventar e sobreviver à pandemia tem grandes chances de ascender devido às novas tendências nascidas durante o período.
*Ana Paula Coelho, CEO da Monte Carlo Alimentos
Fonte: Estadão