A partir deste ano, fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de eletroeletrônicos precisam implementar um sistema de logística reversa dos produtos usados pelo consumidor. O não cumprimento pode levar à suspensão de licenças de funcionamento ou à não concessão de licença de importação, por exemplo, e, dependendo do caso, multas aplicadas podem chegar a R$ 50 milhões. As regras estão em vigor desde o dia 1º de janeiro. Em 2021 será necessário coletar e reciclar 1% de tudo o que a indústria produziu em 2018. Muitas empresas do setor correm para se adaptar em meio a pandemia, que tem sido um entrave extra ao processo.
A medida foi estabelecida por decreto federal de 2020 e já era prevista no acordo setorial de outubro do ano anterior, em que diversas fabricantes se comprometeram a coletar e dar destinação ambientalmente adequada aos produtos já usados pelos consumidores. Mas a discussão ainda vinha de antes, de 2010, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Agora, o que era um acordo de algumas empresas virou obrigação legal para toda a cadeia. Foram criadas metas que aumentam gradualmente até 2025: em 2021, primeiro ano, o objetivo é coletar e destinar 1% da produção de 2018. Em 2025, o índice deverá chegar em 17%. Além disso, a expectativa é de chegar a 5 mil pontos de coleta em 400 cidades com mais de 80 mil habitantes (um ponto deve ser instalado a cada 25 mil habitantes). De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, até 2019 havia apenas 70 pontos em todo o país.
“Com as lojas fechadas, parte da nossa operação foi afetada. Mas conseguimos avançar nas parcerias tanto com os municípios quanto com operadores e alguns varejistas. Aumentamos para mais de 1,3 mil pontos de coleta.” Hoje, a Abree reúne cerca de 40 empresas associadas e mantém parceria de coleta com seis municípios paulistas. O objetivo, segundo Mara, é fazer parcerias também com consórcios de municípios, para aumentar a capilaridade, especialmente para a coleta de itens de médio e grande porte. “No dia 31 de dezembro eu estava sendo contatada. Muitas empresas só tomaram conhecimento agora.”
O gerente executivo da Green Eletron, Ademir Brescansin, avalia, porém, que as companhias tiveram tempo para se adaptar. Hoje, a gestora tem mais de 60 associados para serviços de logística reversa de eletrônicos e pilhas, mas o número cresce diariamente (no dia da entrevista ao Valor, foram 19 novas associadas). A Green Eletron encerrou 2020 com coletores em 13 Estados, após fechar parceria com a rede de lojas Casas Bahia, do grupo Via Varejo.
Para Brescansin, parte das dificuldades está na fiscalização mais efetiva das agências ambientais e Ministérios Públicos estaduais, em especial sobre as importadoras. Pelo texto do decreto, as empresas deverão apresentar anualmente seus planos de implementação da logística reversa de eletroeletrônicos ao Gap, ou grupo de acompanhamento e performance, que é o conglomerado de entidades setoriais. Nesses planos, deve constar número e localização de novos coletores, montante que deve ser coletado a cada ano, além de planos de comunicação e educação ambiental e relatório de impacto socioambiental. O GAP é responsável por analisar esses relatórios e informar ao Ministério do Meio Ambiente se cada sistema está de acordo, ou não, com a legislação.
Sobre eventuais revisões das medidas estabelecidas, França diz que é preciso acompanhar o primeiro ano da adoção das regras, mas não descartou mudanças, como redução, por exemplo, de pontos de coleta voluntária. “Tem hábitos de consumo que também influenciam o aperfeiçoamento do sistema, como pessoas que preferem repassar um produto usado ou consertar. Mas o importante era dar o primeiro passo”.
Fonte: Valor Econômico