Com uma malha logística de mais de um milhão de metros quadrados, distribuídos em 27 CDs e o apoio de 1.069 lojas físicas, o grupo dono da Casas Bahia e do Ponto Frio passa oferecer essa estrutura aos sellers de seus marketplaces, acirrando a disputa com Mercado Livre, Magazine Luiza e B2W
Todos os dias, mais de 1,5 mil caminhões percorrem o País para que uma série de produtos chegue até os consumidores. Nesses trajetos, os pontos de partida – ou de passagem – podem incluir desde um dos 27 centros de distribuição da companhia, que somam mais de 1 milhão de metros quadrados, até uma das suas 1.061 lojas.
Hoje, essa extensa malha é a base das operações da Via Varejo, dona da Casas Bahia e do Pontofrio. Mas, nos próximos meses, ela também será usada por outros lojistas, dentro do plano traçado pelo grupo para chegar ao destino que escolheu como prioritário para 2021: ganhar corpo na disputa dos marketplaces.
O projeto que materializa essa guinada leva o nome de Envvias. Por meio da plataforma, cujo lançamento, nesta semana, foi antecipado ao NeoFeed, a Via Varejo vai usar sua infraestrutura para oferecer um pacote de serviços de logística aos sellers cadastrados nos marketplaces da Casas Bahia e do Ponto Frio.
“Estamos plugando um motor a jato nos nossos sellers”, afirma Roberto Fulcherberguer, CEO da Via Varejo. “Esse processo impacta diretamente na expansão dos nossos marketplaces, por meio da oferta de serviços e soluções para diferentes tamanhos de lojistas.”
Com a nova área, a Via Varejo quer consolidar mais um caminho para reter e, também, turbinar sua base de sellers, formada por 8 mil vendedores, um número ainda tímido quando comparado aos seus principais concorrentes.
De janeiro a setembro de 2020, os marketplaces da companhia registraram um crescimento no volume bruto de mercadorias (GMV) de 92,5%, para R$ 2,2 bilhões. No período, o GMV total, considerando as operações online e as lojas físicas, foi de R$ 25,1 bilhões, um salto de 15,1%.
Para ajudar a impulsionar esses números, o pontapé inicial da Envvias foi dado em outubro com projetos-pilotos, boa parte deles ainda em curso. A primeira oferta disponível para toda a base de clientes é o Envvias Postagem, na qual, mesmo não usando sua rede, a empresa mostra o seu poder de fogo.
A modalidade dá acesso aos preços da tabela de frete da Via Varejo com os Correios. Enquanto o serviço postal cuida da logística, o grupo responde pela solução de qualquer problema relacionado às entregas. A oferta também inclui seguro em casos de extravios, roubos e avarias, com garantia de ressarcimento.
Em três meses, a ideia é ter uma suíte completa de serviços. Aqui, a estrutura da Via Varejo entra, de fato, no jogo, com entrega, fulfillment, logística reversa e coleta de produtos no endereço do seller. O plano inclui a coleta e a entrega itens de maior porte, como geladeiras.
“O que vamos oferecer é a possibilidade desse vendedor pegar carona no fluxo que já acontece no nosso dia a dia”, diz Sergio Leme, vice-presidente administrativo e responsável pela logística da Via Varejo. “À medida que cai nessa malha, ele passa a participar dessa eficiência e a ter acesso a clientes em todo o País.”
Um ponto, em particular, vem ajudando a dar mais velocidade a esses processos. Quinhentas lojas da empresa já abrigam mini-hubs, que funcionam como postos avançados para agilizar as entregas. Ao mesmo tempo, Leme diz que a empresa vai ampliar sua capilaridade com a abertura de mais de 100 unidades nesse ano.
De janeiro a setembro de 2020, os marketplaces da companhia registraram um crescimento no volume bruto de mercadorias (GMV) de 92,5%, para R$ 2,2 bilhões
“A grande vantagem da Via Varejo é o fato de já ter um parque de lojas bem distribuído nas capitais e no interior e de saber operar essa logística”, afirma Alberto Serrentino, sócio da consultoria Varese. “É claro que levar isso a terceiros é mais complexo, mas essa infraestrutura já existe.”
Esse é justamente o principal argumento da Via Varejo. “Vamos usar essa estrutura já azeitada para atrair o mar de pequenos e médios sellers, para quem esse modelo faz mais sentido”, diz Leme. “Outro apelo é a redução de custos logísticos proporcionada por essa malha que, no caso das PMEs, pode chegar a 30%.”
É também em empresas menores que a Via Varejo vem encontrando uma outra maneira de encurtar o caminho para fortalecer seus marketplaces. É o caso da Asap Log, comprada pelo grupo em abril de 2020.
Especializada na última milha, a empresa conecta os pedidos online a motoboys, motoristas de aplicativo e outros entregadores. Além do acesso a essa rede, Leme diz que a startup ajudou a acelerar o desenvolvimento da tecnologia por trás da Envvias.
Outro reforço veio em maio, com a conclusão da aquisição da BanQi, fintech que oferece contas e crediários digitais. E que está incluída no plano da Via Varejo de integrar essa última oferta para financiar os produtos vendidos no marketplace, com a remuneração dos sellers a cada transação.
Leme não descarta novas aquisições para encorpar a Envvias. O radar envolve desde ativos mais tradicionais, de operações de armazenagem e transporte, como empresas com softwares e soluções em áreas como roteirização, dimensionamento de cargas e acompanhamento do status das entregas.
Em busca do pódio
O executivo traça as metas para a plataforma em 2021. “O plano é colocar entre 5 mil e 10 mil sellers dentro da Envvias”, diz. “E queremos fechar o ano com as entregas feitas, predominantemente, no mesmo dia ou em até 24 horas.”
Além de diminuir os prazos, a Via Varejo busca recuperar o tempo perdido com os problemas gerados na gestão anterior à chegada de Fulcherguer e reduzir a distância em relação aos seus maiores concorrentes, que também vêm investindo pesado em logística e outras frentes para atrair sellers e consumidores aos seus marketplaces.
O Mercado Livre, por exemplo, inaugurou recentemente cinco centros logísticos e acrescentou 340 mil metros quadrados à sua malha. Com mais de 12 milhões de sellers e um GMV de US$ 5,9 bilhões no terceiro trimestre de 2020, a empresa comprou, em setembro, uma fatia na Kangu, startup com atuação centrada na última milha.
O Magazine Luiza também destinou cheques para a área. Dona de um marketplace com 40 mil sellers e que movimentou R$ 2,1 bilhões no terceiro trimestre, a empresa reforçou a sua logística com as compras recentes da GFL, especializada na última milha, e da SincLog, de gestão de cargas, fretes e motoristas.
Já a B2W, que conta com 87 mil sellers e cujo marketplace representou 60,5% do GMV total de R$ 7,2 bilhões da empresa entre julho e setembro, inaugurou cinco centros de distribuição em 2020, chegando a 21 unidades e uma área total de mais de 800 mil metros quadrados.
As bases de sellers e o GMV das plataformas do trio indicam que a Via Varejo ainda tem um longo percurso pela frente. “No marketplace, ela ainda está muito atrás”, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo.
“Mas essa batalha é sistêmica. E, em 2020, a empresa cresceu muito no e-commerce, que era uma de suas deficiências, e tem um varejo físico muito forte”, afirma. “A única desvantagem da Via Varejo é ter largado com atraso.”
Isso não parece ser um problema para Leme, que faz uma analogia com o automobilismo para ilustrar a confiança no que a Via Varejo vem construindo. “Estamos fazendo as melhores voltas”, diz ele. “É questão de tempo para emparelharmos com quem está na liderança.”
Fonte: Neofeed