Ana Luiza McLaren e Tiê Lima criaram um blog em 2009 para vender produtos usados que não lhes serviam mais. Pouco mais de uma década depois, o enjoei tem valor de mercado de mais de R$ 3 bilhões, está listado na B3 e suas ações já avançaram mais de 60% desde o IPO, em novembro.
É claro que a história da marca não é tão linear assim (a empresa ainda nem alcançou o caminho da rentabilidade), mas a rapidez com que tudo ocorreu ilustra o que pode ser um novo momento do mercado de capitais nacional. Juntamente com Méliuz, enjoei está na primeira leva de startups nacionais que buscaram a bolsa para levantar recursos.
(A estreia na bolsa, inclusive, foi de dar dor de barriga. Os papéis despencaram mais de 7% no dia 9 de novembro. Mas logo veio o rali de fim de ano e, com isso, uma valorização forte de ENJU3.)
“Foi um grande processo de aprendizagem, porque fomos construindo esse caminho sem grandes referências”, diz Tiê Lima, CEO do site, em entrevista ao CNN Brasil Business. “Até poderíamos fazer novas rodadas privadas de captação, mas queremos que o investidor aposte no futuro da companhia e ganhe os prêmios desse crescimento.”
Para isso, a companhia não quer perder suas raízes como marketplace que conecta compradores e vendedores de forma simples e descolada, mas também vem buscando ampliar seu escopo de atuação. O grande símbolo do movimento até aqui é o acordo firmado com a varejista C&A, anunciado em janeiro.
Com o programa “Novo de novo”, a rede terá uma vitrine especial no enjoei. Além disso, todas as peças selecionadas farão parte do acervo do enjuPRO, serviço pelo qual o usuário envia as peças que quer vender para o enjoei, que realiza curadoria dos produtos, tira fotos, publica os anúncios e cuida da logística de entrega após a venda.
A parceria ainda prevê benefícios para todos os usuários vendedores cadastrados no enjoei. Segundo comunicado ao mercado, todos os créditos disponíveis no enjuBANK, a carteira virtual do enjoei, poderão ser usados para compras no site da rede C&A e darão direito a bônus.
“Nossos centros de distribuição continuam sendo as casas das pessoas e nosso objetivo principal ainda é trazer cada vez mais pequenos vendedores”, afirma o executivo. “Com a entrada das marcas, no entanto, estamos buscando ter ainda mais acesso aos produtos que os consumidores querem.”
A tendência, segundo Lima, é que mais parcerias do gênero ocorram num futuro próximo, “para que a marca participe do movimento do e-commerce cada vez mais e não limite as escolhas dos seus usuários”. Outras empresas como Farm, Melissa e Forever 21 também já possuem acordos parecidos.
Nessa linha, e com mais de R$ 600 milhões em caixa provenientes do IPO, a empresa deve investir cada vez mais em marketing para seguir atraindo novos usuários para a sua plataforma.
Segundo resultados do terceiro trimestre de 2020, ainda sem o efeito (e o dinheiro) da abertura de capital, o tráfego do site aumentou em quase 180% em relação ao mesmo período de 2019, enquanto o número de compradores ativos saltou 98%, para 660 mil. Agora, a empresa trabalha em avenidas de crescimento para rentabilizar a operação.
Agregando serviços
Uma das verticais disponibilizadas na plataforma com este objetivo é o enjuPRO, citada acima. A modalidade permite que os usuários enviem as peças que querem vender para que a equipe do enjoei faça todo o trâmite (curadoria, fotos, anúncio, negociação, venda, envio e, finalmente, pagamento).
Em troca, a empresa cobra uma comissão de 50% nas vendas: 20% de tarifas e outros 30% referentes aos serviços prestados. O serviço só está disponível, por enquanto, para vestuário feminino, mas a marca garante que há demanda por roupas masculinas e infantis na modalidade.
“Entrar no processo nos dá vantagem competitiva com os nossos clientes e é também uma forma de acelerar o número de produtos enviados”, diz Tiê. A operação conta com um centro de distribuição em Embu das Artes (SP), “com espaço e condições de expandir rapidamente”.
Moeda própria e carteira virtual
Ainda na diversificação, o enjoei vem trabalhando outra via lateral para o futuro: sua carteira digital. O enjuBANK, como é chamado, permite que o usuário receba pagamentos e mantenha dinheiro em conta para ser utilizado em compras no site ou para ser sacado. Uma taxa de R$ 1,50 é cobrada para cada saque abaixo de R$ 200; a manutenção da conta vale R$ 9,99 mensais.
“O nosso motor é flex. O que buscamos inicialmente é aumentar nosso inventário e, consequentemente, nossa liquidez”, diz. “Mas, hoje em dia, todo mundo tem sua wallet, e nós também temos nossa moeda própria. Se conseguirmos incluir isso no nosso business, envolvendo também as empresas parceiras, ótimo.”
Fonte: cnnbrasil.com.br