31/10/2014 às 05h00
Por Paulo Brito | Para o Valor, de São Paulo
A computação em nuvem deixou de ser discutida como tendência: ela já é tratada como opção apropriada para determinadas soluções de TI, especialmente aquelas que precisam de quantidade variável de recursos – maior poder computacional para épocas de grande número de transações, por exemplo, como acontece com o varejo em datas comemorativas como Natal ou dia das mães.
Oferecida por empresas brasileiras e multinacionais, cujos centros de dados estão aqui ou em outros países, tornou-se uma alternativa para empresas que não querem imobilizar capital em equipamentos que poderão estar obsoletos daqui a dois ou três anos.
Para alguns empresários, no entanto, ainda é inquietante aceitar que os dados da empresa sejam processados em máquinas virtuais, ou seja, não existem de verdade – são criadas nas memórias de poderosos servidores do prestador de serviços de nuvem, cuja localização física pode muito bem ser do outro lado do mundo. Apesar disso, esse mercado cresce no Brasil 38,7% ao ano, segundo a consultoria Frost & Sullivan.
Para o diretor de marketing da Amazon Web Services, Hermann Pais, a computação em nuvem coloca ao alcance de todas as empresas recursos que antes só podiam ser adquiridos pelas grandes corporações: “Eu faço uma analogia com as impressoras 3D: com uma delas, que custam até US$ 1.500, você faz coisas que antes exigiam investimentos de US$ 300 ou 400 mil, coisas que só podiam ser feitas em fábricas. Do mesmo modo, a nuvem traz recursos caros com acesso praticamente universal. As empresas podem se utilizar de tudo sem precisar ter verbas como as de um grande banco”, comenta.
Nuvens como a da Amazon são chamadas de públicas, porque podem ser contratadas por qualquer empresa, mas há também nuvens privadas – uma corporação pode construir uma para uso exclusivo de seus funcionários, com a flexibilidade que caracteriza esses ambientes, enquanto o uso simultâneo dos dois tipos é chamado de nuvem híbrida.
Seja qual for o tipo, ele presta três categorias de serviços, detalha Carlos Salvador, diretor de soluções da Informatica Corporation: “Os provedores oferecem como serviço software, plataforma e infraestrutura”, explica. No primeiro caso, o provedor hospeda uma aplicação que o cliente utiliza de onde quiser, como os sistemas de gerenciamento de clientes (CRM), por exemplo: “No segundo, o serviço é a plataforma para o desenvolvimento das aplicações, e no terceiro são as máquinas para uso remoto do cliente com suas aplicações”, acrescenta.
As vantagens para quem adota computação em nuvem são muitas, segundo Salvador: “A primeira de todas é a flexibilidade; depois temos a mobilidade, que permite acessar os recursos de qualquer lugar e com qualquer dispositivo”, diz ele. Mas o diretor da Informatica destaca a questão do custo reduzido como vantagem para as empresas: “O preço pode ser estabelecido pelo uso, não há despesas de capital, apenas de operação”, pondera.
E se o futuro cliente de computação em nuvem ainda tiver dúvidas sobre a segurança de seus dados e transações, Salvador recomenda que ele examine a lista de certificações do provedor e as estatísticas do serviço, para ter a certeza de que está contratando a empresa adequada.
Antonio Pina, diretor de tecnologia e operações da provedora Mandic, indica três grandes razões para uma empresa adotar computação em nuvem ao invés de criar sua própria infraestrutura de TI: “O primeiro motivo é que não há despesas de capital. O segundo é que o provisionamento dos recursos é imediato; e o terceiro é a escalabilidade, a elasticidade dos recursos da nuvem”, diz ele.
Embora essas vantagens pareçam suficientes, há empresários que ainda não adotam nuvens por causa de sua preocupação com a segurança ou porque acham de que a estrutura anterior é melhor: “Mas quando um CIO analisa as três grandes vantagens ele escolhe a nuvem pública”, afirma. A nuvem privada, segundo ele, pode até dar ao empresário uma falsa sensação de maior segurança, mas vai exigir grandes investimentos quando for necessário ampliá-la ou atualizá-la.
“A nuvem está na moda, mas a adoção exige que os empresários sejam educados, para que compreendam bem seus benefícios”, observa Carlos Gazaffi, vice-presidente de tecnologia da Tivit. “Para as pequenas e médias empresas, o primeiro desafio nesse caminho é conhecer bem o mercado, as vantagens e desvantagens do modelo, os tipos, e escolher o mais apropriado. No caso das startups em negócios digitais, a nuvem é uma opção muito favorável, porque oferece ao cliente independência para ir calibrando seus recursos aos poucos”, explica.
No caso de pequenas e médias empresas já estabelecidas, com muitos recursos de TI em operação, Gazaffi recomenda que se verifique quais as aplicações prontas para utilização em nuvem: “A aplicação pode ainda não estar pronta para tirar todo proveito que a nuvem oferece. Por isso, é importante escolher um provedor que também ofereça serviços de suporte, para o caso de haver a necessidade de adaptações”.
Ricardo Dutra, diretor de marketing e negócios do UOL, lembra que a computação em nuvem assume pelas empresas responsabilidades como alocação de espaço para TI e preocupações como ar-condicionado, fornecimento ininterrupto de energia, manutenção de equipamentos, atualização deles e das licenças de software por exemplo: “A empresa paga pelo que consome. Ela aluga uma certa capacidade computacional de um fornecedor”, explica. Mesmo que ela erre no dimensionamento dos recursos, esclarece, é um problema muito menor do que errar na compra de equipamentos próprios.
Valor Econômico – SP