Enquanto sua pizza está sendo feita, ele está vendo tudo. “Ele”, no caso, não é o Big Brother de George Orwell, mas um sistema de inteligência artificial que monitora o trabalho dos funcionários da Domino’s. O sistema avalia, por meio de câmeras e machine learning, a qualidade do trabalho feito pelos pizzaiolos da empresa.
Instalado nas cozinhas da franquia na Austrália e Nova Zelândia, o “Dom Pizza Checker” serve, nas palavras da Domino’s, como “ferramenta usada para treinar os membros de nossas equipes e aumentar a qualidade e consistência de nossas pizzas, e não punir aqueles que cometem erros.”
No entanto, foi confirmado que os dados coletados são enviados à matriz, onde franquias são pontuadas pela qualidade do serviço. Segundo a Domino’s, a ideia é apenas melhorar o serviço em restaurantes que estão passando por dificuldades, mas sites como o iTnews temem que seja uma maneira de avaliar quais lojas deveriam ser fechadas ou vendidas.
Em apresentação aos investidores, a empresa explicou as novidades que o serviço oferece. Em menos de três segundos, a IA analisa a pizza pela sua qualidade, usando uma fórmula que checa a qualidade da borda, do queijo e demais coberturas. Caso a pizza seja considerada abaixo das expectativas, o sistema alerta que ela precisa ser refeita. Tudo isso antes de ir ao forno.
Quem fez o pedido online também recebe uma foto da pizza, para constatar que está sendo bem feita.
Arwa Mahdavi, colunista do jornal The Guardian, teme que isso seja mais um passo para o monitoramento completo de funcionários pelo seus chefes. “Estamos entrando em um novo mundo de monitoramento no local de trabalho em que somos vigiados 24 horas por dia e tudo o que fazemos é examinado. E as coisas ficarão apenas mais invasivas quando corporações nos tratam menos como seres humanos e mais como máquinas,” escreveu.
Existem muitas maneiras em que trabalhadores são vigiados no trabalho hoje. Não apenas por câmera de seguranças, mas por leitura de e-mails, registro de pesquisas no Google e até contagem de tempo em sites com Facebook e Twitter.
Mahdavi também levanta exemplo de outras novidades no setor, como chips implantados debaixo da pele, leitura de ondas cerebrais e pulseiras ultrasônicas da Amazon.
“Não vai demorar até todos termos chips implantados que rastreiam nossa produtividade e acionam um mecanismo de combustão espontânea quando não somos considerados úteis aos nossos mestres de inteligência artificial,” ironizou. “Mas enquanto o futuro parece ser sombrio, pelo menos teremos pizza de qualidade consistente até lá.”