Imprevisível. Indomável. Selvagem. Essas são algumas das características usadas para definir os tubarões. Não é muito diferente com o empresário João Appolinário, de 58 anos. Pelo menos quando se trata de negócios. Fundador e presidente da Polishop, rede varejista que fatura cerca de R$ 2,3 bilhões anuais – segundo dados da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) –, ele é conhecido por brigar por cada centavo, seja numa mesa diante de fornecedores, seja na hora de reformar o escritório-sede da empresa e, sobretudo, quando está negociando uma participação percentual em startups no programa Shark Tank Brasil – Negociando com Tubarões.
No reality show, exibido pelo canal Sony, ele é enérgico e não dá o braço a torcer. Foi assim que Appolinário investiu R$ 300 mil para ter 30% da UniqueBox, empresa paranaense de presentes personalizados. Lincoln Almeida, idealizador do negócio, queria entregar apenas 10% do negócio em troca do dinheiro. “Ele tem um produto com várias ramificações, que mexe com o emocional das pessoas e que é escalável. Essa é a minha principal preocupação quando vou fazer um aporte”, diz Appolinário.
A empresa paranaense, fundada em 2017, fatura R$ 1,3 milhão e recebeu o investimento no primeiro semestre de 2018, embora o programa só tenha ido ao ar no último dia 17 de dezembro. “Nosso primeiro desafio é melhorar o e-commerce. Com poucas modificações, a UniqueBox já conseguiu dobrar a margem e aumentar a rentabilidade. Está vendendo R$ 300 mil ao mês”, diz. Além do aporte de recursos, o empresário também auxilia as pequenas empresas na parte fiscal, contábil e financeira, utilizando parte da estrutura da Polishop. E são tantas sociedades que ele nem se lembra mais. “Acho que, com a terceira temporada, nós investimos em torno de 15 a 18 empresas”, afirma.
Quem visita a sede corporativa da Polishop, localizada no Jardim Dom Bosco, em São Paulo, se impressiona com uma área de 8,5 mil metros quadrados (m²), que detém o prédio administrativo; três estúdios de TV; diversas ilhas de edição de vídeo e de som; central de contact center; agência de publicidade; departamentos de tecnologia da informação (TI), cenografia e de engenharia de qualidade; um restaurante que serve cerca de 550 refeições por dia, entre outras coisas. Mas não se engane. Apesar da grandiosidade do espaço, ele diz que o segredo do sucesso é ter um controle rígido de suas despesas. “Tudo aqui é muito espartano”, afirma Appolinário. “Eu gostaria muito de ter um escritório maravilhoso. Mas, ao invés de reformar, prefiro utilizar esse dinheiro para abrir quatro lojas. O nosso grande desafio é ser grande, mas pensar como uma empresa pequena na forma de administrar.”
Esse esforço é reconhecido. “Appolinário tem um controle muito próximo de toda a operação. A Polishop é um reflexo do modelo de gestão que ele tem em mente”, diz Ana Paula Tozzi, CEO da AGR Consultores. Desde 2007, a empresa está com balanços auditados, tem conselho de administração, formação de comitês e políticas de governança corporativa. Apesar disso, Appolinário descarta veementemente uma abertura de capital nos próximos anos. “Neste momento, um M&A ou um IPO não faz sentido”, diz ele, que mantém um contato próximo com fundos de investimento.
Uma coisa que Appolinário não perde é oportunidade. E isso é um retrato do extenso número de lojas da Polishop. Hoje, são 292 pontos de venda, espalhados por todo o Brasil, com modelos de negócio que variam entre 80 m² a 600 m². Em 2018, eram projetadas apenas quatro aberturas, mas a empresa acabou terminando o ano com 18 novas unidades. “O que acontece é uma questão de oportunidade. Eles me dizem: ‘olha, nós montamos a loja para vocês, damos descontos no aluguel, isso e aquilo’. O que eu posso fazer? Tenho que aceitar”, afirma. Para este ano, a empresa projeta a abertura de 19 pontos de venda.
LOJAS FÍSICAS As lojas físicas são cruciais para que a empresa avance na sua estratégia de integração de canais de venda, dizem especialistas. Desde 2017, a Polishop trabalha com o apoio da VTEX, plataforma líder de digital commerce no País, para implementar a retirada de produtos vendidos pela internet em suas lojas físicas. “Hoje, nós temos o ‘retire na loja’, mas já queremos, em um curto prazo de tempo, lançar o serviço de entrega rápida. Caso o produto esteja disponível em uma loja próxima da residência do cliente, o pedido chegará em uma ou duas horas”, diz Appolinário.
A Polishop já surgiu com um modelo inovador. Em 1999, a empresa já comprava horários na TV para vender por televendas e também pela internet. “O modelo de negócio da Polishop sempre foi multicanal. O televendas, que já nasceu integrado com os programas de TV, é hoje uma parte do ecossistema de vendas e prestação de serviços do grupo”, afirma Ana Paula. Só em 2003, a rede decidiu abrir a primeira loja física.
PORTFÓLIO Os tempos mudaram e agora o desafio é outro. Conhecida pela venda de grills e fritadeiras, a empresa buscou outros negócios para se consolidar em tempos de crise. Hoje, um dos canais que desponta é o de venda direta, que conta com 160 mil revendedores e já representa cerca de 15% do grupo. Boa parte disso vem da linha de produtos de beleza, a Be Emotion, que cresce numa média de 23% ano desde 2016. Para ‘bombar’ as vendas de maquiagem pelo País, Appolinário decidiu comprar, em 2015, os direitos para organizar o concurso Miss Brasil, que antes era realizado pela Rede Bandeirantes. Antes voltada apenas ao público feminino, a Be Emotion já tem diversos produtos, como barbeadores, xampu para pets e creme dental à base de carvão ativado.
Agora, a aposta é em duas novas frentes. No primeiro semestre deste ano, a Polishop quer impulsionar a marca de alimentação saudável Viva Smart Nutrition. “É uma linha inteligente, que conta com energéticos e salgadinhos de quinoa”, diz Appolinário. Além da venda direta, esses produtos também serão comercializados por meio de vending machines que serão instaladas em academias parceiras – o empresário também é sócio da rede Runner, que conta com seis unidades em São Paulo. A outra aposta será na linha fitness de marca própria, Genis, que é produzida pela empresa em Manaus (AM). Uma primeira esteira dessa linha deve chegar ao mercado até o final de janeiro. Se tubarões podem se adaptar a diversos ambientes para sobreviver, Appolinário sem dúvida é um deles.
3 perguntas para João Appolinário
O fundador e presidente da Polishop fala sobre as perspectivas para o Brasil com o novo governo
Para fomentar a criação de empregos, o Movimento Brasil 200 lançou, em parceria com a Fiesp, a campanha “Empregue +1”. Você é um dos apoiadores da iniciativa. Como será isso?
O Flávio Rocha, idealizador da campanha, é meu amigo pessoal e conselheiro do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). É um movimento importante e conta com a participação dos empreendedores, que são os maiores pagadores de impostos do País, aqueles que fazem girar a roda da economia. O emprego é a melhor inclusão social que existe. Na Polishop, estamos prevendo 250 novas vagas para o ano de 2019.
Você está otimista com o novo governo?
Não dava mais para ficar igual ao que estava. Entregar o País de novo na mão da ‘petralha’? Nós vimos todos os escândalos que aconteceram na gestão deles. Será que só eu vi isso? Dizem que sou a favor do Bolsonaro… eu não sou a favor, nem contra. Sou a favor de um bom governo. Esse é o ponto. Se ele vai ser bom ou não, nós vamos ver. Só sei que precisamos de um governante que faça alguma coisa diferente do que estava sendo feito. Eu acho que é necessário ter alternância política sempre. São Paulo, por exemplo, está na mão do PSDB há quantos anos? Não dá para continuar assim. Dizem que o Doria está rachando o PSDB. Tomara que rache tudo mesmo…
Qual é a maior dificuldade para quem quer empreender no Brasil?
Por conta da minha participação no Shark Tank, eu invisto em algumas startups e montei um fundo para fazer esses aportes. Entro com as nossas inteligências para dar suporte a esses novos empreendedores. Isso começa desde a parte fiscal, passando pela financeira, contábil, toda a parte de organização da empresa. O Brasil não é um país simples. Cada Estado tem a sua própria legislação, fora a lei federal e todos os sindicatos. Tem uma parte logística complexa também. É um desafio empreender no Brasil. Nós entramos para resolver esses problemas, fazendo auditoria e deixando a empresa redonda, buscando corrigir o que por acaso não estava sendo feito corretamente. Quando você começa um negócio, tem que fazer a coisa acontecer. Não adianta ficar preocupado com contabilidade, com isso ou com aquilo.
Fonte: IstoÉ Dinheiro