O consumidor brasileiro já se acostumou a usar comandos de voz para fazer o celular executar tarefas simples, como tocar música ou anotar recados. Agora, poderá aplicá-los em um ação mais elaborada – fazer compras.
O Google liberou para desenvolvedores de aplicativos e marcas nacionais uma nova funcionalidade de seu assistente de voz, o Google Assistente, que permite fazer transações financeiras. As primeiras opções disponíveis são a compra de água no serviço de entregas Bonafont em Casa, da Danone, e a assinatura do serviço de resumo de livros 12min.
“Vai haver uma curva de aprendizado [por parte do consumidor], mas que será rápida. As pessoas vão querer usar por curiosidade ou comodidade, como fazer uma compra enquanto dirigem. Há uma grande expectativa de atrair novos clientes”, diz Rodrigo Matheus, gerente de marketing de retornáveis da Danone Águas Brasil. Desde o lançamento do serviço Bonafont em Casa, há seis meses, a marca atendeu mais de oito mil pedidos só na grande São Paulo.
De acordo com Marco Oliveira, gerente de parcerias do Google Assistente, novas marcas vão reforçar a lista nos próximos meses. “Tínhamos uma demanda grande desde o lançamento do Assistente no Brasil [em agosto de 2017]”, diz.
Cada empresa vai definir as regras de uso. No caso da Bonafont, o consumidor precisa fazer um cadastro no serviço de entrega da marca antes de usar o assistente digital pela primeira vez. A compra é paga ao entregador. Mas o Google oferece a oportunidade de pagamento on-line para as companhias que decidirem usar esse modelo.
Na avaliação de Léo Xavier, presidente da agência Pontomobi, que trabalhou com a Bonafont, o assistente digital é interessante para compras feitas com frequência, de produtos que não têm muitas versões ou modelos diferentes. Compras assistidas, que requerem a ajuda de um vendedor para detalhar características e funcionalidades, também podem ser facilitadas pelos comandos de voz.
Nos Estados Unidos, as compras com assistentes de voz somaram US$ 2 bilhões em 2017, diz Xavier, com expectativa de que esse número seja multiplicado por 20 até 2022. “No Brasil é uma questão de tempo, mas esse uso também vai se expandir”, afirma.
A estimativa é que metade dos telefones com sistema operacional Android no Brasil – cerca de 60 milhões de aparelhos – seja compatível com o assistente de voz. Quem tem iPhone pode baixar o aplicativo. O Brasil é o terceiro país que mais usa o Google Assistente no mundo em smartphones; o português brasileiro é a segunda língua mais falada sob o serviço, atrás do inglês.
Fora do Brasil, o serviço é mais acessado por meio de dispositivos parecidos com caixas de som, mas que obedecem a comandos de voz. Marcas como Panasonic, Sony, Lenovo, LG e JBL já lançaram equipamentos desse tipo.
Segundo Oliveira, o Google tem intenção de trazer seus próprios dispositivos para o Brasil, mas não há nenhum plano nesse sentido no momento.
As companhias não precisam dividir com o Google a receita obtida com as vendas pelo assistente digital. “É mais um canal para a empresa atender seus clientes”, diz Oliveira. A companhia de internet pode, no entanto, manter dados sobre as transações. As informações, que não trazem identificação pessoal do consumidor, podem vir a alimentar algoritmos e bases de dados do Google.
Fonte: Valor Econômico