As vendas do varejo ampliado (que incluem automóveis, autopeças e material de construção) cresceram em junho 2,5% em relação a maio, feito o ajuste sazonal, alta insuficiente para compensar a queda de 5,1% do mês anterior, tombo provocado pela greve dos caminhoneiros. Com isso, o comércio varejista encerrou o segundo trimestre com um crescimento modesto sobre o primeiro, de 0,2%, também na série livre de influências sazonais.
Os números mostram que a paralisação dos motoristas causou uma desaceleração considerável das vendas em relação ao ritmo dos três primeiros meses do ano, quando avançaram 1,4% na comparação com os três meses anteriores. A variação, contudo, não chegou a ser negativa. O comportamento do varejo ampliado dá uma ideia da direção em que caminha o consumo das famílias. Como sempre lembra o ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore, o consumo das famílias, o principal componente do PIB pelo lado da demanda, tem grande correlação com o comércio varejista.
No caso do conceito restrito, que não engloba veículos, autopeças e material de construção, o comércio cresceu no segundo trimestre 0,7% sobre o primeiro. Foi um desempenho um pouco mais fraco que o 1% dos três primeiros meses do ano.
Em junho, as vendas de veículos, motos partes e peças aumentaram 16% em relação a maio, depois de ter caído 16% no mês anterior. No segundo trimestre, porém, essa categoria teve queda de 1,7% na comparação com o primeiro. Nos três primeiros meses de 2018, havia subido 8,7% sobre o quarto. Depois da queda de 9% em maio, as vendas de material de construção avançaram 11,6% em junho.
Das dez categorias do varejo, sete fecharam junho em alta e uma ficou estável (a de livros, jornais, revistas e papelaria). As duas que tiveram queda sobre maio foram as de combustíveis e lubrificantes, com recuo de 1,9%, e de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com baixa de 3,5%.
No primeiro semestre, a alta do varejo ampliado foi de 5,8% em relação à primeira metade de 2017, enquanto a do restrito (que não engloba veículos, autopeças e material de construção) ficou em 2,9%.
Os números mostram que o impacto da greve dos caminhoneiros sobre o comércio não foi desprezível no segundo trimestre, levando a uma perda de ritmo das vendas na comparação com o primeiro. O efeito, contudo, não foi tão forte como na indústria, que viu o volume de produção de abril a junho recuar 2,5% sobre a de janeiro a março.
Olhando para frente, o mercado de trabalho ainda fraco, com desemprego elevado e recuperação do emprego concentrada em vagas de baixa qualidade, indica um cenário de retomada lenta para o consumo. Além disso, a greve dos caminhoneiros causou um abalo na confiança dos consumidores. Esse impacto tende a se dissipar com o tempo, mas a incerteza em relação às eleições e a preocupação quanto ao emprego podem levar muitas pessoas a serem mais cautelosas em suas decisões de consumo.
Fonte: Valor Econômico