O Grupo Pão de Açúcar (GPA) vai avançar num projeto para instalar lojas de varejistas ou fornecedores em seus pontos de venda – as chamadas “store in store”. Já há testes piloto em andamento e novos contratos devem ser negociados com empresas de alimentos, cosméticos e brinquedos. Um modelo comercial foi desenhado para garantir rentabilidade mínima ao grupo.
Na Europa, há iniciativas isoladas em lojas do Casino, a companhia francesa controladora do GPA, com operação em oito países. Mas esse é o primeiro projeto mais estruturado em uma controlada.
A japonesa Daiso, de itens para casa e variedades, abriu há três semanas uma área de 150 m2 numa loja do Pão de Açúcar, em São Paulo. A rede de sorveterias Bacio di Latte começou a testar, em maio, um projeto piloto também no Pão de Açúcar, na capital paulista. A Swift, marca da JBS, abriu duas unidades, na semana passada, no Extra e no Pão de Açúcar.
Outras empresas fornecedoras do GPA, como Nestlé e L’Oréal estão entre possíveis novas parceiras. “Demos o pontapé no projeto há um ano e meio, dentro da proposta de rentabilizar o máximo possível a loja”, disse Jorge Faiçal, diretor comercial do multivarejo do GPA (área que reúne lojas das bandeiras Extra e Pão de Açúcar).
Na maioria dos pilotos, porém, não se trata de uma “store in store” com atendimento de funcionários da empresa parceira ou área de pagamento no local. O GPA está analisando se cria um modelo de pagamento com tablets, mas isso ainda não está pronto. Essa dificuldade existe por questões fiscais.
No caso da Daiso e da Bacio, nos pontos há áreas separadas com as linhas vendidas pelas marcas. O cliente pega o produto e faz o pagamento no caixa da loja do GPA. Na nota fiscal, trata-se de uma venda de um item do grupo. Ao fim de cada mês, o GPA faz a prestação de contas ao parceiro. Segundo a varejista, a venda nesses primeiros projetos está acima do esperado, mas números não foram informados.
“Somos nós que compramos a mercadoria, o estoque é nosso. Mas a empresa me garante o giro do estoque e o mesmo prazo de pagamento que ele já tem do fornecedor”, diz Luiz Felipe Barbosa, diretor comercial de não-alimentos do GPA.
“É o Pão de Açúcar que gerencia o ‘contas a pagar’ e o ‘contas a receber’, assim como o estoque. Deve ser uma venda quase em consignação e isso é a chave para um baixo ‘working capital'”, diz um consultor ligado ao grupo. O ‘working capital’ ou capital de giro é o recurso usado para financiar as operações de uma empresa.
Esse consultor lembra que o mercado deve reagir à iniciativa do GPA. “Se os fornecedores deles estão sendo chamados para entender o projeto e negociar um acordo, a disputa é igual para todo mundo. Se ele abrir negociação com apenas um ou outro parceiro, quem fica de fora pode não gostar e decidir dar melhores condições comerciais ao Carrefour ou Walmart “, afirma. Em cosméticos, por exemplo, o GPA abriu negociações com várias marcas.
Barbosa diz que a rede vai manter o mesmo nível de preço das lojas do parceiro nos supermercados e não há cobrança de aluguel pela área. “Mas ele me garante uma margem mínima e eu também estabeleço uma meta em valor vendido”, afirma.
O primeiro teste do modelo tradicional da “loja dentro da loja” ocorreu em 2017, com o acordo com a rede de móveis e decoração Etna. Há 30 unidades do Pão de Açúcar e do Extra com pontos da Etna. A maior tem 800 m2, localizada num Extra na zona sul de São Paulo. Nesse caso, os produtos da loja da rede que rivalizam com aqueles vendidos na área da Etna foram retirados da unidade do GPA. “Não faria sentido manter os produtos e ter a parceria com a Etna. Mas há uma preocupação em fechar acordos com redes que tenham linhas complementares e que não canibalizem as lojas do grupo”, diz Faiçal.
Também estão sendo criadas “store in store” para venda de celulares em unidades dos supermercados Pão de Açúcar. Desde abril, há cinco pontos com esse formato, em fase de testes, e todas em São Paulo. A intenção é ter essas áreas em praticamente todas as 186 unidades do Pão de Açúcar. A política de preços deve seguir a mesma dos hipermercados Extra, que já comercializam itens de telefonia, mas o Pão de Açúcar venderá celulares mais “premium”.
O modelo “store in store” tradicional nos supermercados, com funcionários da marca parceira no atendimento e caixa exclusivo para pagamento, é pouco frequente no país. Foi comum dentro das grandes lojas de departamento, nos anos 80 e 90. O que existe hoje são redes com acordos para instalação de estandes temporários ou “carrinhos” para venda nos supermercados.
Fonte: Valor Econômico