Até que ponto o varejo brasileiro está preparado para o grande desafio que deve chegar em breve ao País, materializado no e-commerce da Amazon? Talvez concorrer com a rede norte-americana de Jeff Bezos seja a maior ameaça às redes locais, sejam gigantes, como o Walmart, ou pequenos, como são a maioria dos estabelecimentos em todo o Brasil. Esse foi o tema do debate “O futuro do varejo: omnichannel or die” durante o segundo dia do ProXXIma 2018, que acontece em São Paulo (SP), mediado pelo partner e CEO da A5, Paulo Humberg.
O varejo brasileiro que opera via e-commerce corresponde apenas a 3% do total movimentado pelo setor, afirma a cofundadora da startup Neomode e gestora do ecossistema startups de varejo no Oasislab, Fabiola Paes. Vinda de uma experiência longa no varejo – 12 anos de C&A e mais dois de Boticário -, Fabiola lembra que voltou da edição 2014 da NRF, o maior evento de varejo do mundo: “De cada dez palestras, oito falavam da convergência de canais (omnichannel). Voltei incomodada porque não havia nada aqui, no Brasil, de e-commerce”, recorda.
Hoje, quase meia década depois, o ambiente mudou, mas não o suficiente. “Neste momento, estamos nos preparando para nos tornarmos omnichannel. O maior gap está na governança das estruturas do varejo, ainda muito departamentalizadas. Outra coisa é que o consumidor tem que estar no centro da estratégia. E os canais não podem ser verticalizados: e-commerce, loja física, venda direta. O consumidor é um só”, lembra. Para Fabiola, há muito varejo que ainda não virou a chave. “Os softwares de ERP, o e-commerce e os gateways não se conversam. O consumidor compra em vários lugares, mas não temos uma visão única dele, com a unificação dos dados. Portanto, o varejo tem dois grandes desafios: preparar a governança e também a tecnologia para entregar a experiência única ao consumidor”, afirma.
Deficiência
Essa deficiência do varejo levou a Unilever, uma das fabricantes globais de bens de grande consumo (fast-moving consumer goods), a criar duas iniciativas: uma plataforma B2B para distribuidores, em que 40 empresas estão conectadas, na qual esses distribuidores vendem aos varejistas; e outra, mais recente, que começou a funcionar em março deste ano, que é a plataforma Meu Mercado em Casa, em parceria com Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Esse projeto é uma espécie de marketplace pela qual o consumidor pode escolher o varejo mais próximo de sua casa.
“O varejo não está preparado, ainda, por várias razões”, afirma a diretora de e-commerce e digital da Unilever, Patricia Amaro. “Historicamente, quem empurra os grandes desenvolvimentos é a indústria, que consegue olhar à frente. O varejo é imediato: se não vende hoje, amanhã tem que vender o dobro. A indústria identificou a mudança do consumidor e temos que influenciar o varejo para criar soluções para esse consumidor ominichannel”, diz. Esses projetos vieram depois de pesquisas feitas com os consumidores, diz Patricia. “Não acreditamos em ir direto ao consumidor. Simplesmente não acreditamos que isso gere valor relevante. Portanto, fizemos um plano de desenvolvimento para os varejistas, depois de pesquisas com o consumidor, e começamos a criar soluções para que participassem dessas duas plataformas”, explica. Essas iniciativas da Unilever têm um tom de crítica ao varejo porque, segundo a executiva, existe uma certa comodidade do setor em não ter presença digital forte. Mas, adverte, isso terá que mudar porque a Amazon está para entrar no mercado brasileiro.
“O varejo está preparado, sim”, rebate o CEO do Walmart.com, Paulo Silva. “Estamos preparados para operar omnichannel. Estamos num momento relevante de trabalhar a integração de forma extremamente agressiva. Estamos fazendo essa transição. Agora, não dá é para abrir e fechar o e-commerce conforme a vontade. Ou se tem uma visão consistente ou não fara nada nessa questão”, diz, em referência a grandes redes varejistas cujas estratégias online têm mudado constantemente. E, em concordância com a executiva da Unilever, diz que o grande desafio é lidar com “o concorrente que nasceu digital (a Amazon), nunca pensou em omnichannel e está ganhando um terreno importante. É um grande desafio, mas a preparação do nosso terreno foi feita. Talvez falte ser mais arrojada”, afirma.
Fonte: PróXXIma