Estoque em excesso é dinheiro parado; baixo, pode ser sinônimo de ruptura. A medida certa envolve exatidão na compra, relacionamento ajustado com o fornecedor, agilidade no recebimento, eficiência na reposição. Para não se perder em meio a esse processo desafiador, alguns indicadores precisam ser acompanhados.
01- Giro é indicador fundamental
O indicador mais importante de supply chain é o giro, avisa Robson Munhoz, vice-presidente de operações para a América Latina da Neogrid, empresa de soluções para a gestão automática da cadeia de suprimentos. Um exemplo: se o supermercado sabe que o estoque de um produto gira, em média, 24 vezes ao ano, deve estar preparado para renová-lo a cada 15 dias. Acima disso poderá haver perda de vendas, enquanto antecipar muito o pedido resultará em estoque acima do necessário. É fundamental ter essa informação e acompanhar eventuais mudanças no ritmo do giro, para realizar ajustes sempre que necessários. Reposição eficiente também é fundamental. Quanto maior o volume vendido, menor o tempo de estoque e menor deve ser o prazo de recebimento, destaca Luiz Muniz, fundador da consultoria de gestão Telos Resultados. “Isso significa aumento de produtividade e ainda se traduz em maior poder de barganha com os fornecedores”, afirma.
O que fazer
O planejamento anual, que se inicia com o orçamento, é a base para que as compras aconteçam de forma cadenciada ao longo do ano, acredita Luiz Muniz, da Telos Resultados. Afinal, o planejamento deve incluir as estratégias operacionais da loja e os planos de marketing para atrair mais clientes, fidelizá-los e, assim, elevar vendas. “É do orçamento anual que devem nascer as metas operacionais de vendas em volume e de rentabilidade”, afirma Muniz.
02- Atenção ao prazo de renovação
O tempo de renovação de estoque (ou ciclo econômico) é medido pela diferença entre o dia em que a venda é realizada e o momento em que a compra é feita com o fornecedor. Segundo Muniz, da consultoria Telos Resultados, quando esse intervalo for muito longo, a ponto de invadir o ciclo financeiro, ou seja, quando é maior que o prazo médio de pagamento, significa que há erro no planejamento de compras.
O que fazer
O consultor explica que cada negócio tem seu prazo de renovação de estoque ideal, que depende de fatores como capacidade de conversão de vendas, negociação com a indústria e disponibilidade de caixa. “Por definição, estoque é sinônimo de desperdício, mas, como ainda não existe um modelo de gestão no qual se possa operar com estoque zero, recomenda-se que o ciclo econômico seja menor que o prazo de pagamento a fornecedores”, enfatiza.
03- Considere custos de atrasos na entrega
Quanto custa para sua empresa aquela entrega que não chegou dentro do prazo combinado? Esse cálculo deve considerar perdas de venda em razão da ruptura, um problema ainda mais grave quando o produto que não chegou a tempo é de uma marca à qual os consumidores são bastante fiéis. Mas a conta do prejuízo deve incluir ainda eventuais horas extras da equipe com recebimento, armazenamento e abastecimento da loja, conforme Luiz Muniz, da Telos Resultados. Casos clássicos de custos adicionais para o supermercado são as entregas incompletas, que demandam esforço da equipe de logística para recebimentos não programados das mercadorias que ficaram faltando.
O que fazer
Há sistemas que consideram atrasos na entrega e fazem ajustes rápidos, por exemplo, elevando o estoque de segurança de determinados SKUs de um para dois ou três dias, conforme lembra Robson Munhoz, vice-presidente de operações da Neogrid na América Latina. Além de evitar riscos de ruptura, o respaldo tecnológico também torna mais produtivas as conversas com os fornecedores para ajustar problemas. “Quando o supermercado começa a ter gestão moderna, com uso adequado da tecnologia, o nível das reuniões com a indústria sobe e o comprometimento tende a ser maior”, afirma o executivo da Neogrid. Marcio Iavelberg, sócio da consultoria de gestão Blue Numbers, recomenda sempre estudar o histórico de cada fornecedor, para saber quais entregam pedidos rapidamente e os que costumam dar mais trabalho. No primeiro caso, o estoque pode ser mais justo, uma vez que imprevistos são raros. Já para os produtos de fornecedores que demoram ou apresentam problemas constantes na entrega, será necessário garantir mais tempo de estoque mínimo para não perder vendas, além, é claro, de avaliar a relação custo x benefício de seguir trabalhando com eles. Passar a comprar de outros fabricantes pode ser alternativa.
04- Acompanhe o prazo médio de recebimento das vendas
Luiz Muniz, da consultoria Telos Resultados, lembra que no varejo alimentar as vendas não costumam ser parceladas. Com isso, a eficiência da loja é fator fundamental para garantir o giro rápido. A regra básica aqui se repete: o prazo de recebimento sempre menor que o prazo de pagamento ao fornecedor. Caso contrário, há riscos de comprometimento do capital de giro, uma das principais razões da falência de empresas no Brasil.
O que fazer
Seja eficiente no acompanhamento dos recebimentos em cada meio de pagamento. Se na sua loja os clientes utilizam muito o cartão de crédito, talvez você precise negociar prazos maiores para pagar aos fornecedores, evitando assim o risco de ter boletos vencidos antes de o dinheiro da venda entrar na conta da empresa. E sempre avalie bem antes de fechar pedido muito grande que envolva pagamento rápido para aproveitar desconto do fornecedor. Muitas vezes, o que parece ótimo negócio pode comprometer o caixa da empresa.
Ter ou nao ter Centro de Distribuição?
Um centro de distribuição pode se refletir em ganhos de produtividade. Mas não vá pensando que o CD é a solução mágica para os problemas com logística. Segundo Muniz, da Telos Resultados, o sucesso depende de uma gestão eficiente que garanta os resultados almejados pela empresa, como redução na ruptura e diminuição nos custos. Sem isso, garante o especialista, pode ser até pior contar com um CD. “Basta pensar que a complexidade de operação é maior que a de um espaço de armazenagem individual de loja”, exemplifica. “E se a deficiência na gestão for significativa, os problemas serão intensificados”, completa.
Bem geridos, os CDs são eficientes, ainda mais em grandes cidades. Nelas é complexo receber mercadorias diretamente nas lojas, destaca Robson Munhoz, da Neogrid. O trânsito complicado, as longas distâncias e as restrições de circulação estão entre os empecilhos. Nesses casos, ressalta Munhoz, é eficiente ter um CD, inclusive para não aumentar demais o estoque em loja, o que demandaria maior espaço físico e, claro, elevaria custos. O executivo afirma que, hoje, um mesmo caminhão pode sair do CD com itens de diferentes seções para suprir poucos dias, otimizando o estoque em trânsito sem sobrecarregar as áreas de recebimento e armazenagem.
Ter um CD com boa gestão pode elevar a eficiência, mas a decisão envolve análise de fatores como local de atuação, capacidade de investimento, volume de produtos movimentados, estimativa dos benefícios que o CD pode gerar, entre outros pontos estratégicos.
Fonte: Supermercado Moderno