Para pesquisadores do Ibre/FGV, maior escolaridade não foi suficiente para tornar o Brasil mais competitivo nem a formalidade reflete eficiência. O aumento no número de anos de estudos não tem sido suficiente para incrementar a produtividade do País. A relação direta entre ensino e ganho produtivo é um dos mitos para explicar a estagnação do Brasil no ranking da produtividade, segundo análise feita por pesquisadores do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da Fundação Getúlio Vargas.
Outras mistificações questionadas pelos economistas são de que só o aumento da formalidade basta para melhorar a eficiência e que o País já resolveu seus problemas de improdutividade em alguns setores.
No livro Anatomia da Produtividade no Brasil, os economistas reconhecem que os investimentos públicos em educação cresceram sucessivamente nas últimas décadas. Em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), os gastos passaram de 3,8%, em 1994, para 6,0%, em 2014. Consequentemente, houve um grande aumento da escolaridade no período, por exemplo, com um maior número de pessoas ingressando no ensino superior.
“Não é uma questão de reduzir o valor do investimento em ensino, mas o que o Brasil fez em termos de educação só atacou parte do problema, a gente tem a questão da baixa qualidade e o elevado abandono do ensino médio. Ao contrário do que se imaginava, o aumento do nível educacional praticamente não se reverteu em ganhos de produtividade”, diz Bruno Ottoni, um dos coautores do estudo.
Para o economista, mesmo que o brasileiro passe mais tempo em sala de aula, isso não será aproveitado se o País não tiver um ambiente de negócios que gere empregos de qualidade.
O estudo do Ibre aponta, ainda, que uma das causas para o Brasil amargar baixa produtividade é o grande número de pequenas empresas e de empreendedores informais. Os dados mais recentes do mercado de trabalho apontam que a volta do emprego é impulsionada pelas micro e pequenas empresas.
Sem condições de competir, fazer grandes aportes de capital e produzir em maior escala, o pequeno empresário também é incentivado a não crescer para não deixar de ser enquadrado em regimes diferenciados de tributação, como o Simples.
No caso da informalidade, a produtividade agregada do setor formal é cerca de 3,4 vezes superior ao do informal, segundo dados de 2009. A realocação significativa do emprego do setor informal para o formal explica 87% do ganho de produtividade agregada entre 2003 e 2009.
Ilhas de produtividade
Um outro mito quando se discute a produtividade, explica Armando Castelar, também do Ibre/FGV, é o de que o País tem setores produtivos. Segundo o economista, o Brasil tem ilhas de produtividade em diferentes setores, com exemplos de empresas e produtores agropecuários que se destacam.
“O Brasil deu um exemplo mundial ao deixar de ser um País de insegurança alimentar para se transformar em um dos maiores players. Isso foi conquistado com tecnologia, com aumento produtivo”, diz Celso Moretti, diretor da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). “Como a maioria das propriedades é familiar, ainda há muito espaço para aumentar a produtividade. O Matopiba (região entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) tem áreas de pastagens degradadas que podemos recuperar.”
Fonte: Supermercado Moderno