Na semana em que a americana Amazon anuncia a sua entrada no “marketplace” (shopping virtual) de eletrônicos no país, a B2W, maior empresa brasileira de comércio on-line, acena com novas ações que sinalizam que ela está no jogo. Em entrevista ao Valor, diretores mencionaram medidas para o avanço do negócio em outras direções – inclusive nas áreas em que Amazon e Mercado Livre tem conhecido domínio no mundo. A empresa nega relação das medidas com aumento da concorrência.
O Valor antecipou na quarta-feira que a Amazon iniciará a venda de eletrônicos no país amanhã. Desde então, a B2W perdeu 18% de seu valor em bolsa, equivalente a R$ 2,1 bilhões – após queda de 4% ontem, o grupo vale R$ 9,24 bilhões. O Mercado Livre perdeu, no período, 15%.
O comando da B2W informou ontem que até o fim de novembro a empresa vai começar a atuar na venda de produtos usados, negociados entre pessoas físicas. Lançará ainda o “Americanas Prime”, serviço de entrega premium, em que o cliente faz compras ilimitadas e paga, além do preço do produto, um valor fixo de frete ao ano. Deve também ampliar a atuação do “Submarino Prime”, lançado em 2015, para outras partes do país.
Por fim, a B2W vai permitir que os lojistas que expõem produtos em seus sites possam ter alguns itens à venda no serviço “prime”. Com vendas brutas anuais de R$ 10,5 bilhões, a B2W está, desde o começo do ano, num processo acelerado de redução da venda direta para migração ao shopping virtual, que consome menos caixa e tem margens mais altas – com rivais como Via Varejo, Magazine Luiza e Mercado Livre. Esse plano de aceleração do “marketplace” foi, inclusive, antecipado. Cerca de 62% da B2W pertence à Lojas Americanas, de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.
“Estamos avançando com essas ações porque montamos uma estrutura nos últimos cinco anos que nos dá essa condição. Viemos preparando a B2W desde 2012, compramos 13 companhias em tecnologia e logística desde então, e isso cria barreiras no mercado”, disse ontem Fabio Abrate, diretor de relações com investidores da B2W.
A entrada nos negócios entre pessoas físicas (segmento chamado C2C, ou de consumidor para consumidor) deve ocorrer no quarto trimestre. É um setor com margens acima da média do varejo e um grande competidor no país, o Mercado Livre. Consumidores poderão vender mercadorias nos sites da B2W, que passará a oferecer serviços (como propaganda e de frete) aos vendedores – e cobrará uma comissão por isso. O Valor apurou que a princípio, a B2W deve usar o site da Americanas.com para essa venda de usados. A empresa não confirma.
“Temos uma base de 15 milhões de compradores e vendedores ativos e vamos explorar esse potencial. Com o C2C, teremos sortimento ilimitado, mais tráfego e interação. É algo complementar ao que fazemos, que amplia nossa estrutura sem precisar de novos investimentos”, disse Thiago Barreira, diretor comercial da B2W.
A adoção do Americanas Prime deve ocorrer até o fim de novembro, antes, portanto da “Black Friday” e do Natal. Ao mesmo tempo, o Submarino Prime, lançado há um ano e meio – e até então atendendo São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte – vai ser estendido também para Sul e Sudeste a partir de hoje. Pelo Submarino Prime, o cliente vai pagar R$ 79,90 ao ano como uma taxa de frete único.
Esse serviço atende hoje só as vendas diretas, mas a B2W vai estender a opção para parte dos lojistas do “marketplace”. Os vendedores que utilizam o sistema de logística (B2W Entrega) terão preferência no uso. Quem irá definir os vendedores será a B2W.
A B2W Entrega era usada em junho, por 25% dos lojistas da base da empresa. “Ao conectar o marketplace no serviço ‘Prime’, vamos colocar de 1 milhão a 1,2 milhão de ofertas dentro desse serviço de entregas”, diz Barreira.
Segundo ele, todas essas ações foram sendo discutidas ao logo dos meses e não poderiam surgir como uma reação apenas à piora no ambiente concorrencial, ou expectativa de avanço da Amazon. “Não tem nada a ver com isso. Nem que a gente quisesse não conseguiríamos ter uma medida reativa num negócio dessa magnitude.”
Fonte: Valor Econômico