Enquanto redes que dependem mais de megacidades, como São Paulo e Rio, investem sobretudo em atacarejos e lojas de vizinhança, varejistas de médio porte dizem que, em locais onde trânsito não é um grande problema, hipermercados ainda são rentáveis.
Enquanto redes como Pão de Açúcar e Carrefour investem em pequenas lojas de bairro, com marcas como Minuto Pão de Açúcar e Carrefour Express, ainda há supermercados no Brasil que estão ampliando suas redes de megalojas, um modelo de negócio tido por muitos como ultrapassado. As empresas sulistas Angeloni, Zaffari, Muffato e Giassi estão entre as que ainda investem nos hipermercados – e não pretendem alterar seus projetos.
Segundo analistas, essas redes continuam tendo êxito com o modelo porque sempre privilegiaram os produtos alimentícios – eletrodomésticos e bazar entram apenas como complemento, enquanto vestuário nem é comercializado. A localização das lojas, não tão distantes do centro, e a forte identificação com a região em que atuam também favorecem essas companhias.
A paranaense Muffato, sexta maior rede do País em faturamento, está investindo em duas novas lojas. Suas unidades têm em média 6 mil m2, enquanto os mercados de vizinhança, principal tendência do setor, não costumam ultrapassar os 600 m2. Para Everton Muffato, diretor do grupo, os hipermercados são mais interessantes por permitirem que os custos se diluam por uma maior área de venda e por oferecerem um mix de produtos mais variado. “Os minimercados são mais relevantes em cidades com problemas de locomoção”, diz.
No Angeloni, de Santa Catarina, o projeto de expansão também continua explorando unidades maiores. Com 27 lojas em operação, a 12.ª maior rede do País aguarda autorização da Prefeitura de Curitiba para iniciar as obras de um mercado com 4,8 mil m2 de área de venda, 25 mil m2 de área construída, 15 lojas de apoio e 500 vagas no estacionamento.
O presidente da companhia, José Augusto Fretta, também destaca estar em cidades do interior, com cerca de 300 mil habitantes, onde não há problemas de trânsito. “Não acreditamos em lojas pequenas para a nossa região. Talvez o modelo de bairro não seja uma tendência do varejo, mas um formato que tem se desenvolvido bem alguns locais. Em São Paulo, por exemplo, pode haver um grande fluxo de pessoas passando em frente a uma loja pequena. Aqui, é mais difícil.”
Fretta lembra que sua rede não mantém áreas de vendas que chagam a 10 mil metros quadrados nem comercializa vestuário, características de hipermercados que fecharam as portas nos últimos anos. “Vestuário exige muito espaço”, diz.
Zefiro Giassi, da também catarinense Giassi, afirma que, apesar de suas lojas serem grandes, estão localizadas no centro das cidades. Ele cogita abrir pontos em bairros, mas com pelo menos 1,5 mil m2. “Lojas pequenas têm um custo de abastecimento mais elevado e não têm espaço para atrair clientes com produtos diferentes”, explica. A rede está construindo uma unidade com 5,5 mil m2 no centro de Jaraguá do Sul (SC), cidade de 167 mil habitantes.
De acordo com Manoel Antônio de Araujo, da consultoria especializada em varejo Martinez de Araujo, essas empresas operam com uma margem maior do que as megalojas de concorrentes, oferecem uma linha de alimentícios de qualidade superior e estão em zonas de poder aquisitivo elevado.
Muitas das unidades estão em cidades do interior em que atuam são polos regionais, o que faz com que atendam mais de um município, destaca o fundador da consultoria Varese Retail, Alberto Serrentino. O atacarejo (atacado que vende ao consumidor final), que tem roubado clientes dos antigos hipermercados, também não é um modelo tão desenvolvido no Sul, o que favorece essas redes.