Não bastasse a queda significativa em comparação a 2014 (quando 13 mil pessoas entraram para equipes temporárias em lojas de todo o Estado), o volume de contratações de trabalhadores para os períodos de Natal e de veraneio (em janeiro e fevereiro de 2017) será menor do que havia sido previsto pelas entidades do comércio. Ao invés de 5 mil pessoas, até o dia 10 de dezembro as mais de 27 mil lojas do Rio Grande do Sul terão absorvido no máximo 4,5 mil funcionários temporários. De acordo com o presidente do Sindilojas Porto Alegre, Paulo Kruse, a maioria das vagas já foi preenchida, mas ainda há quem esteja contratando. “Mas com certeza vai sobrar candidatos”, comenta o dirigente, referindo-se ao grande volume de currículos disponíveis na entidade para consulta das empresas.
Além da certeza de que “a ocupação não será plena”, Kruse destaca que a partir de outubro de 2016 houve mudança no perfil dos admitidos em vagas temporárias. “Tradicionalmente, sempre foram as pessoas mais jovens que buscaram ocupação neste período, mas este ano – quando muita gente ficou desempregada – houve um crescimento significativo da presença de uma mão de obra mais qualificada, de profissionais de diferentes áreas”, afirma o dirigente.
O presidente da Associação Gaúcha para o Desenvolvimento do Varejo (AGV), Vilson Noer, observa que o volume de contratações deve ultrapassar um pouco o registrado em 2015, quando o comércio varejista absorveu 4,2 mil temporários no Estado. “Os empresários contratam à medida que o consumo acontece”, ressalta Noer.
Uma vez que já estão prevendo um desempenho de vendas iguais ao ano passado, sem possibilidade de aumentar o movimento, a maioria dos lojistas, principalmente os pequenos, está buscando outras alternativas, a exemplo do deslocamento de funcionários de um setor para outro ou da convocação de familiares para ajudar na demanda das operações. Já empresas de médio e grande porte (principalmente dos segmentos de confecção e eletroeletrônicos, que vendem bem no Natal) estão mais dispostas a contratar, comenta o presidente da AGV.
Kruse complementa lembrando que os funcionários efetivos no varejo estão conscientes da crise econômica, e, “entendendo que precisam preservar seus empregos” estão mais dispostos a trabalhar um pouco mais nesta época do ano. “É preciso reduzir custos, pois a expectativa de vendas é a mesma de 2015. A boa notícia é que a produtividade dos comerciários aumentou.”
Desempregada há quatro meses, a comerciária Marissol Machado da Silveira (25 anos) conseguiu uma colocação temporária recentemente. Agora, ela se foca em trabalhar bastante para ser efetivada após o verão. “Sempre trabalhei no comércio. O começo de dezembro é mais tranquilo, mas quando chegar perto do Natal, o movimento deve aumentar”, observa, ao comentar que está preparada para atender uma demanda forte de clientes nos últimos dias do ano.
“Como recentemente passamos por uma expansão do espaço, nosso quadro já está maior, mas ainda assim contratamos a Marissol e mais uma funcionária para divulgar as ações de Natal da loja”, comenta a gerente da Jump Calçados, Aracheine Molarinho Fagundes. Empresa de pequeno porte, a Jump é uma loja conceitual de sapatos, assessórios e confecções de couro, focada no atendimento exclusivo. “Por isso, apesar de já contarmos com uma equipe grande, apostamos na contratação de uma vendedora temporária”, explica Aracheine, emendando que isso não significa que Marissol não será efetivada. “Pelo contrário. Sempre digo que quem é bom fica.”
Veraneio traz oportunidades no litoral
O presidente da FCDL-RS Vitor Augusto Koch destaca que os três meses que antecedem o Natal são os mais dinâmicos no Estado em matéria de criação de novos empregos. Segundo ele, na última década foram abertas 32 mil vagas temporárias entre setembro e novembro. “Após passarmos por uma crise sem precedentes no final de 2015, quando o setor industrial, especialmente, deixou de contratar por conta da brutal queda de consumo da população, neste 2016 a situação mostra-se diferente. Já há sinais evidentes de lenta, mas firme recuperação da atividade econômica em vários segmentos”, enfatiza o dirigente. Ele lembra que os municípios litorâneos também ganham com o início da temporada de veraneio gerando mais postos de trabalho. “É importante frisar que o emprego temporário representa uma oportunidade para que o trabalhador obtenha uma vaga fixa na empresa”, salienta o presidente da FCDL-RS. “Dando o máximo de si e contribuindo para o crescimento do negócio, eles têm possibilidade de ser efetivados ao final de seu contrato. Nos anos em que a economia estava fortalecida, cerca de um terço dos temporários acabavam sendo contratados em definitivo”, recorda.
Na opinião de Vilson Noer, presidente da AGV, poucas admissões devem ocorrer até o dia 10 de dezembro. “Agora mais é contratação de emergência. É na primeira quinzena de novembro que acontece a admissão de temporários até para se aproveitar e treinar a equipe durante o Black Friday.” Noer observa que em período de crise a equação de custos e despesas é difícil de ser resolvida. “Inclusive nas encomendas que têm que ser feitas.” O dirigente observa que os lojistas em geral estão mantendo estoques baixos, procurando fazer reposições semanais, de acordo com necessidade. “Os empresários estão trabalhando com preços realistas, dentro do cenário de um desempenho que não tem sido muito forte.”
Contando com 75 unidades em todo o Rio Grande do Sul, a loja de material de construção, móveis, brinquedos e eletroeletrônicos CR Diementz investiu na contratação de 10% (do volume total de funcionários) de pessoas a mais no quadro para dezembro. No entanto, nem todas as lojas aderiram à iniciativa. “Nossa filial não abriu vagas temporárias este ano, pois acreditamos que o número de profissionais disponíveis será suficiente, e apostamos no treinamento para agilizar o atendimento”, diz o gerente da unidade Dr. Flores, Cristiano Grando. Ele observa que outras lojas da CR Diementz optaram pela não contratação. “Prova disso, é que em 2015 a rede contratou o dobro de gente neste período.”