A rede Accessorize, controlada pelo grupo inglês Monsoon, está reduzindo a operação no país e, segundo apurou o Valor, todas as lojas da marca podem ser fechadas nas próximas semanas. Há ações de despejo por falta de pagamento na Justiça de São Paulo e cobrança de dívidas em aberto por parte dos bancos.
Funcionários de pontos em operação em shoppings centers de São Paulo já foram informados dos fechamentos. A rede é focada na venda de acessórios para o público de alta renda.
A importação de mercadorias da marca tem se reduzido consideravelmente nos últimos meses, como reflexo de uma piora no cenário de consumo no país, que afetou a demanda nas lojas.
Segundo um ex-diretor da varejista, aumento dos custos com aluguel também pressionou as contas, especialmente neste ano. Negociações foram abertas com operadores de shoppings para reduzir, temporariamente, o valor dos aluguéis cobrados dos franqueados.
No mercado brasileiro, a empresa opera no formato de franquias, por meio de um grupo de representantes locais da marca – entre eles, o empresário Arlindo Conde Neto. Procurado, Conde Neto não foi localizado.
O executivo Robson Tatimoto, que trabalhou com Conde Neto, disse ao Valor ontem que deixou o comando dos negócios meses atrás e não tem conhecimento da situação financeira da rede.
O grupo Monsoon não se manifestou sobre o assunto até o fechamento desta edição. São pouco mais de mil lojas da rede no mundo, espalhadas em 70 países, de um total de mais de 1,5 mil lojas de diferentes bandeiras de varejo da empresa.
No início de 2014, a Accessorize operava com 32 lojas no país, e considerava um plano de crescimento, na época, com a inauguração de mais 20 pontos nos anos seguintes.
O auge da expansão orgânica ocorreu entre 2009 e 2012, quando 24 lojas foram abertas. Segundo um franqueado ouvido pelo Valor, as aberturas não ocorreram no ritmo programado, os investimentos caíram e há somente cerca de 20 unidades em operação no país hoje.
Há uma expectativa de que o encerramento dos negócios em São Paulo se acelere após o Natal, disse um lojista, que opera hoje com apenas 40% da coleção na loja.
No Tribunal de Justiça de São Paulo, a Accessorize tem duas ações de despejo por falta de pagamento, que data de outubro e novembro deste ano, nos valores de R$ 90 mil e R$ 131,5 mil. Os requerentes dessas ações são, respectivamente, a Fantasy Empreendimentos Imobiliários e a Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF).
Ainda há uma terceira ação, cujo autor é o Condomínio Shopping Center Iguatemi, no valor de R$ 385 mil, também por falta de pagamento na locação do imóvel no shopping. A unidade da rede no Iguatemi, em São Paulo, foi fechada neste segundo semestre – a empresa confirma o fechamento, mas não detalha em que condições aconteceram. Questionada sobre a soma em aberto, o grupo Iguatemi informa que não comenta relações comerciais. A unidade no Iguatemi foi a primeira aberta no país, em 2002, e foi considerada, então, a abertura mais bem sucedida pelo grupo num mercado estrangeiro.
O setor de franquias enfrenta um dos anos mais difíceis no país em 2016, com forte desaceleração dos negócios em relação aos anos anteriores, e expectativa de crescimento nominal entre 7% e 8% neste ano, segundo a associação do setor de franquias – a taxa variava de 15% a 20% em anos anteriores.