Em um mercado em que as oportunidades com carteira assinada estão cada vez mais raras, cresce a procura por um negócio próprio. Neste sentido, as franquias estão sempre no radar dos possíveis investidores por representar um modelo já testado e, em tese, mais seguro na hora de investir. Por conseguir se reinventar— vide as promoções de hambúrgueres a R$ 7 nas grande redes de lanchonetes —, o franchising cresceu 8,1% no 2° trimestre de 2016, de acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira de Franchising (ABF). Enquanto isso, o PIB recuou 0,6%.
Outra reinvenção deste mercado de franquias é apostar em diferentes modelos para atrair novos interessados ou um preço mais em conta no valor do aporte. Na 10ª Expo Franchising ABF Rio 2016, feira do setor que acontece de quinta a sábado no Riocentro, as redes levarão modelos portáteis que, em sua maioria, exige um investimento mais baixo, como as modalidades quiosque, contêiner, home-office e food trucks.
— Uma das habilidades do franchising é ter reações rápidas de mercado. Estes novos modelos economicamente mais lucrativos se adaptam ao bolso do investidor e do consumidor, que está com o poder aquisitivo mais curto. E, assim, o nome da marca segue forte — considera o presidente da ABF Rio, Beto Filho.
O desligamento das empresas gera um público ávido por investir nas franquias com o dinheiro da rescisão do contrato. O sócio-diretor da rede de espetinhos Espetto Carioca, Bruno Gorodicht, explica que percebeu no mercado a necessidade de um modelo mais simplificado, atingindo assim ex-funcionários que foram recentemente desligados. Por isso, decidiu lançar o modelo contêiner, com custo menor e formato mais enxuto.
— Há muita gente boa disponível, que acabou de sair do mercado de trabalho, está com dinheiro para investir e quer ser empreendedor — acredita ele, que hoje tem 28 lojas no Rio.
Na Idream, franqueadora de boutiques tecnológicas, o movimento de novos empreendedores também foi reconhecido. A empresa decidiu criar mais um produto no leque do cardápio da franquia. Além das lojas e quiosques, a companhia vai lançar um modelo de microfranquia voltado para o serviço de assistência técnica para smartphones, com investimento a partir de R$ 30 mil.
Para quem já tem uma loja, o franqueado poderá oferecer o serviço em seu espaço comercial, utilizando o selo Idream. Para quem não tem, a empresa criou um troller (como aquele carrinho de serviço de bordo do avião) com bancada móvel adaptável com todas as ferramentas de assistência técnica e computador. Neste caso, o investimento passa para R$ 40 mil, afirma Leandro Tomasi, sócio da rede.
Numa pesquisa da ABF sobre localização das unidades das redes, o sistema de home-office chega a 4%. A corretora de seguros San Martin tem quatro modalidades de franquia e, na mais barata delas, o franqueado trabalha de casa. O casal Marcio e Daniele Batista abriu a primeira filial da rede no Rio há dois anos e, hoje, tem 200 clientes no portfólio.
— A vantagem é conseguir fazer meu horário — afirma Daniele.
NADA DE MODISMOS
Os organizadores da Expo Franchising estimam que um público de mais de 20 mil pessoas vai passar pelos três dias de evento. Das 200 marcas expositoras, mais de 10% oferecem as modalidades diferentes daquelas lojas tradicionais. A expectativa é movimentar R$ 200 milhões em negócios.
Para quem pretende visitar a feira, independentemente do tipo do negócio, é importante ir disposto a conhecer, ouvir e observar, sem de forma alguma fechar negócio, alerta Roberto Kanter, professor dos MBA de marketing de varejo da FGV e diretor do Canal Vertical.
— O mercado vive um momento de multiplicidade de opções que é muito bacana. No entanto, é importante o futuro franqueado não se deixar levar por modismos e escolher realmente a área que gosta, para qual tem vocação. Esta é a primeira regra básica — afirma o professor.
Ele lembra ainda que estas franquias, especialmente as de alimentação, exigem dedicação integral, o que muitas vezes não é condizente com o estilo de vida da família.
— O food truck, por exemplo, implica trabalhar nos fins de semana nestes diversos eventos de gastronomia. Se ele não está disposto a isto, ou tem filhos pequenos, este modelo não é uma boa opção— lembra Kanter, que salienta que é preciso ter atenção com o dinheiro necessário:
— A regra é: pegue o capital que tem disponível para investir, e divida pela metade. Desta metade, 70% é o que vai usar na franquia. O restante é capital de giro. É importante lembrar que não vai entrar dinheiro nos próximos meses para pagar suas contas pessoais, então é preciso fazer uma reserva. Ou então você vai colocar uma pressão no seu negócio que ele não merece.
Para Allain Guetta, da Guetta Franchising, quem pretende abrir uma franquia precisa esquecer a mística de que está distante de perigo:
— É como qualquer negócio: tem bons franqueadores, tem os ruins, tem risco e não é tão pequeno. E, no caso destas novas modalidades, o custo pode ser mais baixo, mas o retorno também. Às vezes, o pedágio de entrada é barato, mas não alavanca. Antes ficasse com dinheiro no bolso — afirma o consultor.
Pioneiro no franchising nacional, Guetta aponta o setor de serviços como opção para quem pretende investir num negócio com o custo mais em conta.
— Em vez de apostar em geringonças como estes contêineres ou food trucks, pense numa franquia na área de serviço. Há muitas opções interessantes. Fique bastante alerta para a estrutura que será oferecida: é preciso que tenha uma rede altamente formatada, com treinamento e capacitação — aconselha.
Modalidades:
Food truck
O modelo conhecido nas feiras de gastronomia chega ao mercado de franquia. O La Calaca, de comida mexicana, vai lançar seu sistema de expansão durante a Expo com investimento inicial de R$ 340 mil. “A vantagem de ser uma franquia é trabalhar com uma operação enxuta, já que temos uma fábrica própria para a entrega de produtos”, afirma o sócio Diogo Dumet
Contêiner
Diversas redes, especialmente de alimentação, estão investindo neste tipo de modelo, que tem um custo mais baixo. A Espetto Carioca, por exemplo, entrará nesta nova modalidade, investindo no varejo, já que fará a venda dos espetinhos crus. O investimento inicial é de R$ 245 mil. “Vamos começar parcerias para instalação em postos de gasolina”, explica Bruno Gorodicht, sócio-diretor
Quiosque
Esta modalidade corresponde a 8% do total de operação de franchising. Durante a feira, a Casa da Empada lançará seu novo modelo de quiosque e mudará o nome para Casa da Empada & Café. O investimento inicial é a partir de R$112 mil . “Estamos avaliando a possibilidade de novas lojas na Barra e em Madureira”, diz Lucia Rodrigues, gestora administrativa
Home-office
Nesta modalidade, o franqueado não tem loja física: trabalha de casa ou presta serviço diretamente na residência do cliente. Têm investimentos mais baratos. A San Martin, corretora de seguros, oferece franquias na modalidade home a partir de R$ 18 mil. “O fato de ser franqueado alivia o peso administrativo de ser uma corretora independente”, afirma o diretor executivo da empresa, Carlos Alexandre Gomes