O Grupo Pão de Açúcar (GPA) criou um novo modelo de negócio para a operação de lojas de bairro. O comunicado oficial deve ser feito hoje. A empresa começou a fechar parcerias com pequenos comerciantes, donos de mercadinhos de 150 a 300 m2, e passará a vender mercadorias – especialmente marcas próprias – para esses pontos de vendas.
Neste acordo fechado com os varejistas, os pontos de venda se transformarão em lojas da rede CompreBem, marca que deixou de ser utilizada pela empresa em 2011. Os lojistas – chamados pela empresa de parceiros ou aliados – poderão comprar mercadorias diretamente do grupo. O GPA ficará responsável pela entrega nas próprias lojas.
É um modelo menos comum no país e a empresa esclarece que não se trata de um sistema de franquias. Não há cobrança de taxas, royalties, ou obrigatoriedade de compra de certos produtos.
Os contratos entre a companhia e os comerciantes têm sido fechados pelo prazo de três anos, renováveis por mais três anos. O GPA fica responsável por instalar a fachada na loja, com o logo do CompreBem. Investimentos relacionados à operação, como folhetos promocionais, softwares ou contratações cabem ao comerciante.
Para o comando do GPA, o grupo ganha ao criar um novo canal de vendas para suas mercadorias, já que o lojista terá a sua disposição um portfólio com cerca de 800 a mil itens para compra, entre marcas próprias como Qualitá e Pra Valer, e também marcas líderes, normalmente adquiridas pelos mercadinhos em atacadistas. Mas terá a dura tarefa de administrar a logística para atender esses pontos, a principal dor de cabeça do modelo de minimercados.
Cabe ao lojista a decisão sobre qual produto comprar e o preço que será praticado ao consumidor. Uma equipe com cerca de 25 pessoas contratadas na área de vendas pelo grupo deve fazer visitas às lojas e retirar pedidos.
Inicialmente, existem 45 lojas operando dentro desse novo sistema, que começou a ser testado pela companhia em abril, como antecipou o Valor na época. Esses pontos começam a receber nova fachada nos próximos dias. Pelos cálculos iniciais de Marcelo Bazzali, diretor executivo de negócios de proximidade do GPA, a previsão é chegar a cerca de 2 mil lojas parceiras no prazo de seis anos.
“Teremos troca de informações entre o grupo e os varejistas, na área de gestão ou marketing por exemplo, na tentativa de aprimorar o modelo de operação dessas lojas. Também vamos aprender com eles mais sobre esse negócio”, diz o diretor.
O formato foi inspirado na operação já existente do grupo Exito, na Colômbia, empresa do Casino (que também controla o GPA). Na Colômbia são mais de 1,2 mil lojas da rede Surtimax. De certa forma, pela localização em bairros de grandes capitais, é um modelo que concorre com cadeias como Dia e Smart, do grupo Martins.
Há limitações definidas nesse acordo entre as partes. O GPA já opera no mercado de lojas de vizinhança, com o Minimercado Extra e com o Minuto Pão de Açúcar. Essas lojas não podem estar a menos de 300 metros de distância dos pontos do CompreBem – e acabam, obviamente, concorrendo com eles. Além disso, esses comerciantes têm de adquirir determinados volumes. Se a compra de itens pelas lojas começar a cair, e a parceria ficar desinteressante para algum dos lados, o acordo pode ser desfeito, sob pena de multa.
De certa forma, o GPA passa a vender para minimercados, segmento já abastecido pelo Assaí, rede de atacarejo do GPA. “Entendemos que não há concorrência, o atacadista abastece em grandes volumes e uma carteira mais ampla de mercadorias”, diz o diretor.
Um dos desafios é ser parceiro de redes que não necessariamente seguem princípios ligados à qualidade e atendimento. “Se uma loja for pega com produto vencido, por exemplo, podemos cancelar o contrato em 24 horas”, diz ele.