O aplicativo brasileiro 99, que permite chamar táxis e carros particulares, recebeu ontem investimento de US$ 100 milhões da gigante de internet e telecomunicações japonesa SoftBank. O valor faz parte da mesma rodada de investimentos iniciada em janeiro, quando o aplicativo de transporte mais popular da China, o Didi Chuxing, fez aporte de US$ 100 milhões na startup brasileira, em parceria com o fundo de investimentos Riverwood. O total de US$ 200 milhões representa o maior aporte já recebido por uma startup brasileira em uma só rodada na história.
O 99 começou a operar em 2012 como um aplicativo exclusivo para táxis e, no ano passado, começou também um serviço de carona para competir com o Uber, o 99POP. Hoje, o 99 tem mais de 200 mil motoristas e 14 milhões de passageiros registrados. É um dos principais rivais do Uber no País, ao lado do espanhol Cabify.
Com o acordo, o SoftBank se torna acionista minoritário da 99, assim como a Didi. O negócio foi finalizado na semana passada. A transação está sujeita à aprovação de órgãos reguladores, incluindo o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no Brasil.
“Vemos um crescimento forte e uma perspectiva ótima para as soluções de mobilidade na América Latina”, afirmou, em nota, David Thévenon, diretor geral do SoftBank. “A 99 tem feito progresso impressionante no Brasil e estamos comprometidos a dar suporte aos campeões locais.”
Fundado em 1981, o SoftBank é dono da operadora japonesa de mesmo nome, além da americana Sprint. Em 2016, a companhia comprou a britânica ARM – responsável por criar a arquitetura dos chips usados na maioria dos smartphones e tablets. O grupo japonês também é um dos principais investidores na chinesa Didi Chuxing, tendo participado da última rodada de captação do aplicativo, que levantou US$ 5,5 bilhões.
Expansão. Presidente executivo da 99, o americano Peter Fernandez se aproximou dos executivos do SoftBank em janeiro, após a 99 fechar o acordo da Didi Chuxing. “Um investimento desse tamanho é demorado. Eles vieram visitar a 99 no Brasil e eu tive de ir a Londres e a Tóquio”, disse Fernandez, em entrevista exclusiva ao Estado (ler mais abaixo). “O investimento na 99 fortalece a ligação entre a rede de empresas que já recebeu aportes da Didi e do SoftBank, como o indiano Ola e o asiático Grab.”
Segundo o executivo, o dinheiro será usado para acelerar a expansão do 99POP. A empresa opera o serviço só em duas cidades – São Paulo e Rio de Janeiro –, enquanto o aplicativo de táxi funciona em cerca de 400 municípios. Nos últimos cinco meses, porém, o número de corridas do 99POP se multiplicou por 25 vezes e o serviço de carona superou os táxis em corridas na capital paulista.
“Queremos chegar a todas as cidades brasileiras com mais de 1 milhão de habitantes até o fim desse ano”, diz Fernandez. “E queremos dominar São Paulo e Rio de Janeiro em participação de mercado.”
Além da expansão, outra frente de investimentos é a segurança. Desde dezembro passado, uma equipe sob o comando direto de Fernandez cria novos recursos para proteger motoristas e passageiros.
Como resultado, o app passou a notificar motoristas sobre áreas de risco. O motorista também é avisado antes de passar em um cruzamento onde ocorrem muitos acidentes. “Desde o investimento liderado pela Didi, nossa prioridade é crescimento agressivo e segurança”, diz Fernandez.
Os planos da companhia incluem ainda a expansão pela América Latina, possivelmente em 2018, e o lançamento de novas modalidades de transporte. “Nossa missão é muito grande”, diz o executivo. “É algo para realizar em 20 anos.”
Perspectiva. O alto investimento impressiona, mas, segundo o coordenador do Centro de Estudos de Negócios do Insper, Paulo Furquim de Azevedo, ele é mais do que necessário para que apps de transporte prestem um bom serviço em larga escala. Entre os principais custos das empresas do setor está o investimento em tecnologia e atendimento, além do subsídio do preço de corridas, que atrai novos passageiros. “Nesse mercado, só sobrevive quem é grande”, afirma Azevedo.
Na China, quem levou a melhor nesse mercado foi a Didi Chuxing, que nasceu em 2015, fruto de uma fusão entre os dois maiores apps de transporte do país – o Didi e o Kuaidi. Depois de uma briga ferrenha de preços com o Uber, a Didi levou a melhor e comprou a operação do app americano no país.
Segundo Azevedo, os três principais aplicativos de carona paga devem conviver no Brasil por um bom tempo, apesar da “guerra” de descontos. “O potencial de crescimento dessas empresas é muito grande”, diz o professor. “Elas podem mudar a demanda por automóveis nas grandes cidades.”
Para Mike Ajnsztajn, empreendedor e fundador da aceleradora de startups Ace, o investimento do SoftBank no Brasil não é positivo apenas para a 99 e para o segmento de transporte, mas para todo o ecossistema local de startups. “O fato de um investidor como o SoftBank olhar o Brasil é um reconhecimento de que estamos nos tornando interessantes”, diz Ajnsztajn. “E isso vai fazer outros grandes investidores buscarem oportunidades no Brasil.”
Fonte: Estadão