Crise aumentou senso de urgência e antecipou ações das empresas tanto em sistemas de retaguarda quanto no comércio eletrônico
A crise econômica causada pela covid-19 acelerou investimentos das empresas no uso de recursos tecnológicos digitais, mostra pesquisa global da consultoria KPMG. Entre as companhias brasileiras entrevistadas para a pesquisa, 71% aceleraram suas estratégias de transformação digital por causa da pandemia, enquanto 67% aumentaram seus orçamentos para esse fim de forma significativa ou moderada.
Para o sócio de experiência do consumidor da KPMG, Augusto Puliti, a pandemia não mudou tendências, mas antecipou investimentos em estratégias que as empresas já vinham adotando. Entram aí desde investimentos em sistemas para melhorar a gestão do trabalho remoto, como plataformas de reuniões, até sistemas de comércio eletrônico e atendimento direto ao consumidor.
“A pandemia não gerou nada, mas trouxe, talvez, uma inovação que seria implementada em cinco anos para ser feita em cinco meses”, afirmou o sócio da KPMG.
Segundo Puliti, as companhias não têm opção. É preciso fazer os investimentos em tecnologia, seja apenas para se manter no mercado, seja para estar na vanguarda da inovação. Tudo isso num ambiente de negócios voltado para clientes cujos relacionamentos são mais mediados por ferramentas digitais, que o sócio da KPMG chama de “era do consumidor”.
Conforme Puliti, na nova era, não basta atender bem. As companhias precisam estar atentas à “experiência” do consumidor, que, com uso das ferramentas digitais, pesquisa, compara e até compra de forma diferente. Com a “experiência” no foco, a concorrência aumenta, pois os consumidores passam a comparar sua “experiência” com serviços diferentes, como bancos digitais e telefonia.
Essa tendência é global, mas o Brasil parece estar mais atrasado do que as economias desenvolvidas. A pesquisa da KPMG, executada pela Forrester Consulting, entrevistou, entre maio e julho, 780 executivos, líderes de “estratégia de transformação digital”, de dez países diferentes.
Separando os dados referentes ao Brasil, a proporção de empresas que aceleraram investimentos foi maior do que no agregado global. Globalmente, 67% dos entrevistados disseram que aceleraram a estratégia de transformação e 63%, que aumentaram orçamentos, um pouco abaixo dos números para o Brasil.
Além disso, numa pergunta sobre a motivação para os investimentos em transformação digital, 62% dos executivos brasileiros entrevistados disseram que a sobrevivência das empresas é a principal motivação para a realização de investimentos em transformação digital, enquanto 38% justificam a aplicação da digitalização como uma estratégia de longo prazo. Globalmente, 46% dos executivos entrevistados disseram que a sobrevivência é a principal motivação, enquanto 54% escolheram a segunda opção.
Para Puliti, um atraso na adoção de tecnologias digitais nas companhias brasileiras, no contexto anterior à pandemia, poderia explicar essas diferenças entre os resultados para o Brasil e os resultados globais.
Segundo o executivo, a “maturidade digital” das empresas brasileiras é, na média, menor do que a de companhias dos outros países pesquisados. Assim, quando a pandemia desabou sobre a economia, a necessidade de evoluir mais rapidamente foi maior no Brasil.
Por outro lado, ponderou o sócio da KPMG, a necessidade de recuperar o tempo perdido nos investimentos na transformação digital pode também ser uma “oportunidade” para a evolução dos modelos de negócios, o que pode “levar as empresas a novos patamares”.
Fonte: Estadão