Empresas se aproveitam do fato de que, mesmo sem tempo para escolher e preparar, o consumidor brasileiro não abre mão de alimentos frescos e saudáveis
Nos Estados Unidos, maior economia do planeta, cerca de 27 milhões de pessoas vivem em áreas conceituadas como “food deserts” (desertos alimentares), apesar de haver um restaurante de comida rápida em cada esquina. Essas áreas são caracterizadas pela ausência — ou impossibilidade de aquisição — de alimentos frescos, como frutas e vegetais. E quem mais se prejudica é a população pobre das periferias.
No Brasil, a situação não é muito melhor. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a obesidade já atinge 20% dos brasileiros, enquanto mais da metade sofre com o sobrepeso. Entre 2010 e 2014, o aumento na taxa de sobrepeso subiu de 51,1% para 54,1%; já a de obesidade saiu de 17,8% para 20%, com maior prevalência entre mulheres.
À medida em que profissionais passam mais tempo fora de casa, aumenta a busca pela alimentação fora do lar, setor que vem crescendo ano após ano na última década — em 2016, auge da crise, o segmento de foodservice teve um crescimento de 3% no faturamento, com um total de R$ 184 bilhões, segundo dados do Instituto Foodservice Brasil (IFB).
Esse crescimento não veio de graça. Mesmo sem tempo, o consumidor brasileiro não abre mão de alimentos frescos e saudáveis. Um estudo global da Nielsen aponta que 66% dos brasileiros aceitam pagar mais por alimentos que não contenham “ingredientes indesejáveis” — como lactose ou glúten. Para atender às exigências desse perfil de consumidor, empresas que querem aumentar as vendas investem em inovações operacionais, ingredientes frescos e produtos de origem certificada, mas sem abrir mão da necessária praticidade.
InFarm
O varejo é a ponta de um processo que tem início no plantio. Entre a colheita, processamento, logística, distribuição e venda, grande parte dos alimentos é desperdiçada sem nunca ter chegado aos consumidores. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), cerca de 30% de tudo o que é produzido no planeta se perde antes de chegar à mesa do consumidor — o que representa um prejuízo de quase US$ 1 trilhão por ano.
A startup alemã InFarm desenvolve uma solução que pode reduzir drasticamente esse quadro, possivelmente refundar o modelo de negócios predominante no varejo de alimentos: fazendas verticais dentro dos supermercados.
O conceito de agricultura vertical não é novo, mas a ideia de colocar as estufas próximas ao consumidor, que pode adquirir o alimento na sua origem sem o bônus dos pesticidas, é inédita. As fazendas podem ser instaladas em supermercados, farmácias, shoppings ou lojas de conveniência.
Cada módulo conta com sensores conectados a sistemas de irrigação e nutrição que podem ser controlados pela internet. Com tecnologias de Inteligência Artificial e machine learning, a solução pode desenvolver a capacidade de identificar e resolver problemas referentes a colheita, por exemplo. Além de contribuir para a redução do desperdício, anula os impactos negativos e garante que os produtos entregues estejam frescos.
Petit Poti
O hábito de comer bem começa na infância com a introdução de alimentos adequados a cada faixa etária na dieta — além do exemplo paterno. Hábitos alimentares nocivos — como o consumo em excesso de carnes processadas e açúcares — contribuem para o desenvolvimento de obesidade na adolescência, cujas taxas chegam a 8,4% entre os adolescentes brasileiros, de acordo com o Ministério da Saúde.
A empresa Petit Poti, sediada em Natal (RN), atua com foco na produção e venda de alimentos saudáveis para bebês, além da orientação nutricional junto aos pais. O foco é no atendimento de crianças entre seis meses e dois anos de idade. A empresa oferece opções no menu pela internet e redes sociais e providencia a entrega — o pico de demanda é nos fins de semana.
O diferencial está em oferecer produtos frescos que atendem a todas as necessidades nutricionais dos bebês para suas respectivas faixas etárias, diferenciando-se das papas e sopas industrializadas disponíveis nas gôndolas dos supermercados. As refeições são divididas em ciclos e podem ser consumidas com porções reduzidas de sal.
Com o sucesso das vendas, as sócias — a nutricionista Gabriela Villa Boas, a pediatra Sonia Mesquita e a jornalista Nathalia Groner — passaram a oferecer oficinas de capacitação para os pais. Dessa maneira, além de disseminar conhecimento, cativam um público fiel de clientes.
Frugale
Quando a fome bate durante a jornada de trabalho, a menor preocupação é com a qualidade da alimentação. Qualquer salgado ou fritura vendidos na barraca mais próxima quebram o galho. Com o hábito diário, surgem os problemas de saúde que vão desde indisposição e dores até patologias cardiovasculares. A Frugale, empresa fundada em 2013, oferece uma alternativa.
O negócio de catering in company já conquistou grandes empresas, como Vale, Cyrela e GE. A ideia é disponibilizar um ponto de vendas móvel nos corredores com opções de alimentação saudáveis para os funcionários — evitando não só a perda de produtividade com o tempo gasto para ir comprar lanches, como também o consumo de produtos pouco saudáveis.
O cardápio vai desde snacks até sucos e refeições completas. “O funcionário não precisa mais se deslocar para ter acesso a um produto saudável ou de qualidade, ou seja, não perde tempo saindo do escritório: tanto o colaborador quanto a empresa se beneficiam”, afirmou o diretor de operações da Frugale, Maurício Nogueira, ao Jornal do Brasil.
Saladenha
Quando a agência de publicidade onde Acchile Biagioli trabalhava começou a sentir a queda no faturamento por conta da crise econômica, ele precisou pensar em outras possibilidades de complementar a renda. A primeira ideia foi comercializar saladas em potes e atender via delivery, um produto até então pouco disponível no mercado.
Na cozinha da própria agência, montou os primeiros potes adquiridos com um empréstimo de R$ 200 da noiva. Seu sócio, o dono da agência, criou a identidade visual para ilustrar os rótulos; as fotografias eram postadas diretamente nas redes sociais.
As vendas chegaram a 50 unidades no primeiro mês. Um ano depois, o negócio já se expandia por meio de franquias com uma previsão de faturamento de R$ 1,5 milhão entre dezembro de 2015 e março de 2016. Atualmente, o cardápio já é mais diversificado, com ofertas de sanduíches, sucos e wraps naturais.
Do bem
Em 2009, quando a marca de sucos que hoje pertence à Ambev foi lançada como linha de produtos de um pequeno negócio, as bebidas em caixa que predominavam nas gôndolas pouco tinham de natural. A quantidade de açúcar é equivalente à encontrada em bebidas gaseificadas. Para evitar a deterioração rápida, o uso de aditivos químicos é corriqueiro. Tudo isso colabora para um preço de venda acessível às custas da saúde e do bem-estar do consumidor.
A marca do bem, criada pelo administrador Marcos Leta, identificou um nicho de mercado que ainda estava germinando. Quem prefere sucos ao invés de refrigerantes procura um benefício para a saúde e um status enquanto consumidor. A partir daí, Leta, ainda em 2007, começou a buscar conhecimento sobre como embalar e comercializar sucos em caixa no varejo sem que a deterioração natural prejudique a experiência do consumidor.
O resultado foi não apenas um produto com a qualidade prometida, mas uma estratégia de marketing que se comunicava diretamente com os consumidores-chave: jovens de renda média a alta, bem informados e cuidadosos com o corpo.
Deu certo: a marca hoje é distribuída em pontos de venda espalhados por todo o país e conquistou diversos prêmios, incluindo o de empresa de bebidas mais disruptiva do Mundo, realizado por um consórcio de companhias que inclui Facebook e Bolsa de Valores de NY (NYSE). Em abril de 2016, a do bem foi adquirida pela Ambev por um valor não revelado.
Fonte: Administradores.com.br