Por Helena Canhoni | Em seu quinto ano de operação na América Latina, o 5G continua impulsionando a inovação, ainda que de maneira gradual, com avanços em áreas como redes privadas, Fixed Wireless Access (FWA) e novos serviços ao consumidor. Por conta disso, a consultoria Omdia, em parceria com o Futurecom, apresentou dados de dois estudos exclusivos: “Evolução do 5G no Brasil e no Mundo” e “Digital Consumer Insights” na última quarta-feira (9).
Ari Lopes, gerente sênior de Service Providers Americas da Omdia, e Hermano Pinto, diretor de Portfólio de Tecnologia e Infraestrutura da Informa Markets/Futurecom, discutiram o panorama do 5G globalmente e o desenvolvimento desigual dessa tecnologia na América Latina.
O relatório analisa o cenário do 5G na América Latina, com foco em seu progresso em 2024, avaliando os fatores que impulsionam ou restringem o crescimento futuro, incluindo aplicações que integram Inteligência Artificial.
Consumidores digitais
O estudo da Omdia mostra a crescente adoção de ferramentas de IA generativas, como ChatGPT e Gemini, na América Latina. No Brasil e no México, o uso de GenAI é significativamente maior do que a média global (66%), enquanto a América Latina registra 73%.
O Brasil ocupa uma posição de destaque, ficando atrás apenas de Índia, China, Egito e Arábia Saudita.
A estatística evidencia o quanto a IA está se integrando à vida cotidiana e ao trabalho na região. No Brasil, 40% dos consumidores digitais utilizam IA principalmente para fins profissionais ou educacionais, destacando a relevância da tecnologia no ambiente de trabalho.
O levantamento também traz insights sobre o comportamento de consumo de serviços digitais. Cerca de 39% dos entrevistados planejam aumentar os gastos com assinaturas de jogos online, mais do que o dobro da intenção de aumentar gastos com telefonia móvel.
Além disso, para os consumidores, a confiabilidade do sinal de Wi-Fi e o suporte ao cliente são mais importantes do que a velocidade da internet nos serviços de banda larga fixa. Em relação ao 5G, 89% dos entrevistados o associam principalmente a uma internet móvel mais rápida, e apenas 26% consideram comprar um novo telefone por causa da tecnologia.
Uma volta ao redor do mundo
Apesar da América Latina já ter alcançado 47 milhões de conexões 5G até o primeiro trimestre de 2024, países como Argentina e Colômbia foram mais lentos na disponibilização do espectro. Enquanto Brasil e México lideram os investimentos em 5G e fibra, outros países estão apenas começando a implementar essa tecnologia.
Chile, Porto Rico, Brasil e México superaram 10% de participação no 5G, enquanto Argentina, Peru e Colômbia iniciaram suas implementações mais tardiamente.
“A América Latina está ficando atrás não apenas dos países desenvolvidos, mas também de outras regiões em desenvolvimento, como Oriente Médio e Ásia, em termos de adoção do 5G”, afirma Lopes. Ele menciona que, após uma primeira onda com poucos países e uma pausa em função da pandemia, veio uma segunda onda de leilões em 2021 – incluindo nações como República Dominicana, Chile e Brasil. No entanto, em países-chave como Colômbia e Argentina, os leilões de espectro foram adiados para o final de 2023.
O diretor do Futurecom complementa que os testes comerciais de 5G no segmento B2B ainda são tímidos, pois o ciclo de adoção de novas tecnologias pelas empresas é mais longo devido ao alto custo e à necessidade de validação da tecnologia antes de sua integração em atividades essenciais.
Transformando o Brasil
As principais operadoras brasileiras, Vivo, Claro e TIM, estão avançadas na implantação do 5G, de acordo com o cronograma da Anatel.A Omdia prevê que o 5G crescerá aceleradamente na América Latina, atingindo 490 milhões de conexões até 2028, quando deverá se tornar a tecnologia predominante na região.
Quanto aos smartphones, a América Latina tem previsões para atingir 692 milhões até 2028 – 66% deles alimentados por 5G. Os quatro maiores países da região, Brasil, México, Colômbia e Argentina, concentrarão 80% das assinaturas em 2028.
Em junho de 2024, a faixa de 3,5 GHz foi liberada, permitindo que 4.302 cidades recebam o 5G, abrangendo 90% da população brasileira, 192,4 milhões de pessoas. Até o final de 2024, todas as cidades brasileiras estarão autorizadas a receber a tecnologia.
E a América Latina?
A participação do 5G no total de conexões na América Latina foi de 5,97% no primeiro trimestre de 2024, ficando à frente apenas da África e da Europa Oriental. Porto Rico lidera a região com uma taxa de 37%, seguido pelo Chile com 26%. Brasil e México, as maiores economias, possuem 11% e 10% de participação no 5G, respectivamente, representando 79% das conexões 5G na região.
A desigualdade na adoção do 5G na América Latina está relacionada à implantação do 5G FWA, que ainda enfrenta resistência das operadoras locais, apesar de seu sucesso nos EUA. Além disso, a monetização do 5G segue como um desafio, já que as operadoras ainda não conseguem oferecer serviços exclusivos que justifiquem pacotes de valor mais alto para clientes pós-pagos.
Vale a pena ficar de olho
O 5G FWA (acesso fixo) deverá ganhar espaço nos próximos dois anos na América Latina, especialmente em áreas onde a infraestrutura de fibra óptica não chega.
Além disso, o mercado de redes privadas e IoT com 5G na América Latina ainda é incipiente, mas espera-se que essas áreas mostrem progresso em setores como manufatura, mineração e educação. Segundo a Omdia, depois do FWA, as redes privadas são o próximo mercado 5G que mostrará progressos na região
Ainda faltam casos de uso claros para o mmWave na América Latina, e as operadoras locais têm feito apenas testes. O fatiamento de rede também está em fase experimental, com pilotos como o da Claro na Fórmula 1 brasileira em 2023, conectando câmeras de TV ao 5G. A cobertura limitada e o alto custo de dispositivos mmWave ainda dificultam a expansão dessa tecnologia na região.
Fonte: E-Commerce Brasil