Vanessa Barone
Publicada em: 10/02/2016 às 05h00
Enquanto a moda para adultos vive em constante rebuliço – entram tendências, saem tendências -, a moda infantil costuma ser refém de estereótipos. Nada de cartelas de cores por estação, mas a velha monotonia de oferecer azul para meninos e rosa para meninas. Princesas, só elas podem ser. Heróis, somente eles. E ai do consumidor que tentar fugir dos personagens de desenhos animados: vai gastar muita sola de sapato sem conseguir alternativas para os “Minions” (personagens do filme de animação homônimo da Universal) ou para a onipresente princesa Elsa (do filme “Frozen”, da Disney).
Felizmente, há marcas querendo “let it go” (algo como “soltar a franga”), para citar a música-tema de “Frozen”. São grifes – algumas com tempo de mercado, outras mais recentes – que vislumbram clientes com personalidade: pais e mães que não querem ver os filhos repetindo padrões ultrapassados, mas livres para vestir o que o gosto decidir.
“A nossa clientela, por exemplo, quer comprar roupas que vão além do universo infantil, com informação de moda”, diz o empresário Tico Sahyon, que criou a grife infantil Mini Us (de “urban style”) há um ano e meio. O mais certeiro, diz Sahyon, é traduzir comportamentos. “Neste momento em que o surf está em alta, criamos uma coleção com a cara do Havaí”, afirma o empresário. E isso conquista pais e filhos, diz.
Com uma loja no bairro de Moema e outra a ser aberta em março, no shopping Cidade Jardim (ambas em São Paulo), a Mini Us tem como lema a expressão “coxinha não”. Ela traduz a intenção de criar uma moda autenticamente infantil sem ser caricata. “Roupa de criança não deve ser igual a de adulto em tamanho menor”, diz Sayhon. É preciso aliar o conforto com informação de moda e ainda trazer símbolos do universo infantil – tudo isso com uma pitada “rock and roll”, no caso da Mini Us. A equação não é exata, é preciso usar a sensibilidade.
Sensibilidade que a coordenadora de estilo Marta Rodrigues afirma exercitar o tempo todo, para criar as coleções da marca carioca Fábula. Aberta em 2009, a Fábula tem sete lojas, entre São Paulo e Rio, e é focada em meninas de seis meses a dez anos. As coleções contam histórias, exploram diferentes cores e estampas e tentam manter a roupa como mais uma ferramenta lúdica.
“O tempo todo queremos reforçar a liberdade de escolha e a criatividade, e não afirmar tendências”, diz Marta. Muito menos, reproduzir personagens infantis importados ou reforçar estereótipos. “Nossa cliente é uma menina moleca, que veste peças unissex e de todas as cores.” De acordo com Marta, o sucesso de mercado de grifes como a Fábula é um sinal de mudança de comportamento. “As meninas estão saindo da carruagem de cristal porque podem ser femininas sem serem necessariamente princesas”, diz.
Outra que prefere “fugir do excesso de rosa e de ‘glitter'” é a BB Básico, fundada há 14 anos e com 65 lojas. “O segmento infantil ainda é carente de roupas básicas e descoladas, com bom design e estamparia”, diz Paula Costa, diretora criativa da BB Básico. Para idealizar coleções que fogem do lugar-comum, Paula busca inspiração nas artes, no cinema, na natureza e nas próprias famílias.
As recentes campanhas da marca, por exemplo, trazem crianças e suas famílias de verdade como “modelos”. O resultado são imagens mais próximas da realidade. Quanto às roupas, a prioridade é equilibrar conforto e design sem apelar para os estereótipos dos gêneros. “Temos cor de rosa para meninos e meninas, estampas gráficas que vestem ambos os sexos”, afirma.
Estamparia interessante, modelagem gostosa de vestir e tendências de moda traduzidas para o universo infantil compõem a fórmula de sucesso da Reserva Mini, destinada a meninos de até 12 anos. Linha infantil da marca masculina Reserva, a Mini tem como carro-chefe a coleção Tal Pai, Tal Filho, que replica para os filhos e filhas o estilo da roupa dos pais. Mas, quando o assunto é a gama de peças exclusivas para crianças, a prioridade é a irreverência.
“Entre as nossas propostas está a linha ‘roupas que brincam’, com ‘t-shirts’ que podem ser pintadas pelas próprias crianças”, diz Antonia Farroco, coordenadora de estilo da Reserva e Reserva Mini. E assim a roupa pode alcançar a sua principal função na vida dos consumidores-mirins: a de brinquedo.
Valor Econômico – SP