A possível entrada de grandes redes varejistas americanas no Brasil, atraídas por custos menores com a desvalorização do real, e a redução da atividade econômica devido à recessão deve ampliar a competição no mercado local e é bem vista por representantes de grandes companhias brasileiras.
Para Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, os americanos perceberam que há espaço para atuar no crescente mercado de consumo brasileiro, o que favorece esse movimento. “Toda a competição é saudável desde que a gente entenda o país que a gente tem”, afirmou. “Nós vivemos em um país que tem consumo e está em construção”, continuou ela, ressaltando que apenas 54% das famílias brasileiras têm máquina de lavar roupas automática.
“Falar que o consumo acabou não é verdade. As pessoas têm o direito de ter sua geladeira, sua televisão, seu fogão”, completou Luiza Trajano, durante a Feira Nacional do Varejo, realizada na semana passada, em Nova York. “Os americanos veem isso e não podemos nós achar que o consumo acabou.”
O presidente da Riachuelo, Flavio Rocha, também prevê dinamismo no varejo brasileiro, mesmo em ano de recessão. “Eu não tenho dúvida de que o Brasil da próxima década será tão dinâmico quanto será o seu varejo.” Segundo ele, se ingressarem no Brasil, os americanos “serão muito bem-vindos”.
“O nosso mercado, que chegou a ser clandestino no passado, com muita informalidade, agora, se modernizou, se formalizou, se organizou e o principal sinal disso foi a entrada dos ‘players’ globais no mercado doméstico”, afirmou. o executivo.
Para Rocha, o varejo é o protagonista na economia brasileira devido à alta produtividade. “Nós assistimos, na última década, ao desabrochar do varejo de alta produtividade, o varejo empresarial e organizado e é ele que está próximo do consumidor.”
O consultor Alberto Sorrentino, da Varese Retail Strategy, acredita que o país pode ser objeto de um novo foco de aquisições por meio de fundos de investimentos, que estão calculando o melhor momento para fechar negócios no país.
O “timing” seria o auge da depreciação de ativos no Brasil por causa da alta do dólar e eventuais dificuldades de caixa de algumas empresas diante da retração na atividade econômica doméstica. “Há muitos fundos com recursos captados olhando oportunidades, mas eles também observam os cenários “, diz Sorrentino.
Para o consultor, os investidores estão calculando se os ativos podem ficar mais baratos no Brasil, se a depreciação do câmbio irá aumentar e qual será a fragilidade das empresas caso a recuperação da economia demore um pouco mais. “A cada trimestre que passa, as empresas vão perdendo atratividade e valor”, disse. Nesse cenário, os fundos tendem a identificar o auge da depreciação para fazer aquisições a preços mais baixos.
“O interesse no Brasil como mercado estratégico de longo prazo não arrefeceu. O que aconteceu foi a postergação dos planos”, afirmou Sorrentino. “Quando teve início um cenário de maior turbulência, de desaceleração na economia, e essa desaceleração começou a se tornar retração, caiu o estímulo à entrada”, disse. Mas esse estímulo, afirma, pode ser retomado com a redução dos preços dos ativos das companhias brasileiras.
Valor Econômico – SP