Há quatro anos com escritórios no Brasil, a H.I.G. Capital é o único private equity global por aqui com o mandato de investir em pequenas e médias empresas. Nesse período, e sem concorrência, fechou 13 investimentos que já consumiram todos os recursos do primeiro fundo, que captou R$ 1 bilhão com investidores estrangeiros. O Valor apurou que a H.I.G. está captando um segundo fundo, que deverá ser três vezes maior, para buscar mais oportunidades no Brasil e em outros países da América Latina, onde a gestora planeja novos escritórios na Colômbia e no México.
Fernando Marques Oliveira, presidente da H.I.G. Capital Brasil e América Latina, não comenta a captação de um novo fundo. Mas afirma que, apesar da piora dos fundamentos macroeconômicos do país, a H.I.G., que administra globalmente US$ 19 bilhões, mantém os planos de investimentos de longo prazo no Brasil.
“Do ponto de vista macroeconômico, o cenário para o Brasil vem piorando desde que chegamos aqui, em 2012. Mas, apesar desse ano catastrófico de 2015 e provavelmente 2016, não houve mudança radical das estruturas da economia e das instituições democráticas brasileiras”, diz Oliveira. Segundo ele, a macroeconomia não é a tese principal de investimentos da H.I.G. “É claro que é importante pelos impactos que tem nos setores e nas empresas. Mas para nós o mais relevante são os fatores microeconômicos de cada negócio”, afirma.
Na crise, ele diz que as empresas investidas têm obtido crescimento do lucro maior do que do faturamento. “Lógico que gostaríamos que as receitas estivessem crescendo mais. Mas a nossa tese é justamente investir em empresas que acreditamos que poderemos melhorar a eficiência e o retorno. Então estamos satisfeitos com os investimentos por aqui”, diz. A H.I.G. costuma comprar participações minoritárias, ocupar a diretoria financeira e ter vaga no conselho das companhias. “Mais do que isso, procuramos ser sócios construtivos e sempre disponíveis para ajudar.”
Dos 13 investimentos, seis foram fechados no ano passado, pois dependem de intenso período de negociação. A gestora costuma adquirir participações minoritárias e mantém o fundador no comando dos negócios. Apenas agora a H.I.G. divulga a compra de participação na rede de academias de baixo custo Self It, do Nordeste, fechado há seis meses. A rede já passou de 5 para 10 unidades, na Bahia, Pernambuco e Paraíba.
Embora não haja uma estratégia definida de atuação, Oliveira conta que a gestora fez um levantamento global e identificou que metade das 300 companhias investidas nos últimos 23 anos transforma-se em plataformas para outras aquisições. Ou seja, a tendência é crescer um negócio por meio de novas compras. “Não é que seja uma regra, mas a atuação no Brasil tem seguido esse caminho. Temos quatro companhias investidas que incorporaram cinco aquisições.”
No setor de publicidade, a Eletromidia comprou a DMS Publicidade Interativa e a Telefônica On the Spot (Tots). A sorveteria Creme Mel comprou a Zeca’s. Por meio da LG, empresa de softwares para recursos humanos no Brasil, comprou a W3net. A NZN ficou com a Click Jogos. O fundo ainda investiu na rede de escolas de idiomas Cel Lep, na varejista de moda Mr. Cat e na Office Total, fornecedora de serviços de impressão.
Nesses quatro anos de Brasil, Oliveira diz que a equipe de análise do fundo, hoje com 25 pessoas, olhou cerca de 4 mil empresas espalhadas por todo o país – a H.I.G. tem escritórios no Rio, Recife, Porto Alegre e Goiânia. O foco são companhias com Ebitda entre R$ 15 milhões e R$ 90 milhões.
Ao cruzar dados de IBGE e Serasa, o fundo estima esse universo de empresas no Brasil entre 40 mil e 60 mil. “Quatro mil é um número imenso, mas ainda pequeno dentro do tamanho do mercado”, afirma Oliveira. Segundo ele, cerca de 700 despertaram interesse e a H.I.G. fez propostas para 100. Metade das ofertas não foi aceita pelas empresas. O fundo fechou 13 operações. Há 10 em negociação, 10 em fase de auditoria e em 17 o fundo desistiu do negócio.
Segundo Oliveira, no momento de crise atual, os empresários têm se mostrado mais abertos à entrada de sócios, mas não necessariamente porque a empresa está em dificuldades. “Como nos tornamos mais conhecidos aqui, agora muitas companhias também batem à nossa porta. Claro que algumas estão indo mal e precisando de capital. Mas muitas, apesar da turbulência, estão bem, só que o empresário está preocupado com o futuro e começa a considerar que, com um sócio para trocar ideias e dividir angústias, ele possa dormir mais tranquilo”, afirma Oliveira.
Essa “mudança de mentalidade”, diz, é a observação mais importante sobre o empresariado brasileiro e a receptividade a fundos de private equity nesses últimos anos. Para o executivo, o empresariado brasileiro entendeu o valor do “equity”, depois da onda de aberturas de capital no país, de 2004 a 2007. “Antes, nesse segmento de pequenas e médias, os negócios eram familiares, para sustento. Mas eles viram muitos empresários com dinheiro nas mãos depois de vender ações de suas empresas na bolsa. Agora, nós não precisamos mais iniciar nossa conversa com uma aula sobre private equity. Talvez apenas mostrar quais são os diferenciais”, diz.
Segundo Oliveira, a estratégia de saída do fundo poderá ser a venda para um investidor estratégico ou para um outro fundo de private equity. O mercado de capitais atualmente fechado para operações no Brasil não preocupa. “Somos investidores mais pacientes que a média. Investimos em pequenas e médias e sabemos que esse tipo de investimento poderá ter um tempo de saída maior do que os tradicionais cinco anos.”
Valor Econômico – SP