10/12/2015 às 05h00
Por Ana Paula Ragazzi | Do Rio
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) adiou para o ano que vem a audiência pública para discutir uma regulamentação das ofertas de investimento coletivo, o “crowdfunding”.
A agenda de regulação de 2016 será definida no próximo dia 16.
Antes de iniciar esse debate, a área de orientação aos investidores da CVM fez uma pesquisa com 140 investidores cadastrados no serviço de atendimento ao público da autarquia.
“A pesquisa já apontou alguns aspectos importantes que devem ser usados para consolidar a nossa discussão interna antes na preparação de uma minuta de regulamentação que será levada à audiência pública”, diz Leonardo Pereira, presidente da CVM.
Os entrevistados mostraram grande interesse nessa modalidade de investimento: 86% desejam investir e 14%, não. O resultado, no entendimento da autarquia, está de acordo com o perfil de quem respondeu ao questionário: pessoas jovens, de alta renda e que concluíram o ensino superior.
Um dos dados que mais chamaram a atenção na pesquisa, destaca a CVM, foi a resposta à pergunta: “Por quanto tempo você estaria disposto a esperar para obter retorno ao investir em crowdfunding?”. A maioria dos entrevistados disse ter paciência de esperar menos do que o mínimo de três anos que se entende como um período de maturação para um investimento com essa característica: 29% disseram estar dispostos a esperar entre um e dois anos; 27% têm a expectativa de obter ganhos em menos de um ano; e 13% entre dois e três anos. Entre os que têm mais tempo no horizonte, 27 % podem esperar entre três e cinco anos e apenas 3% aguardariam por mais de cinco anos.
Esse pode ser um sinal de incompatibilidade de boa parte dos investidores com esse tipo de projeto de investimento. José Alexandre Vasco, superintendente de proteção e orientação aos investidores da CVM, que apresentou a pesquisa durante conferência sobre educação financeira promovida pela autarquia esta semana no Rio, destacou que o levantamento forneceu subsídios para a discussão. Um ponto que mostrou-se relevante é endereçar essa eventual expectativa de retorno rápido de parte dos investidores, o que deverá ser tratado para permitir o sucesso dessas empresas, sob aspectos de divulgação eficiente de informações e regras de resgate.
Outro ponto destacado é a disposição de investir pequenas quantias, que indica a necessidade de atenção aos custos de regulação. Quando a conversa é sobre qual a quantia que estão dispostos a colocar nessa aplicação, os investidores se mostram mais conservadores: 63% investiriam menos de R$ 5 mil; e 15%, entre R$ 5 mil e R$ 10 mil; ou seja, 78% aplicariam menos de R$ 10 mil. Apenas 13% investiriam entre R$ 10 mil e R$ 50 mil; 4% entre R$ 50 mil e R$ 100 mil e outros 4%, acima de R$ 100 mil.
A grande preocupação dos investidores com essa modalidade de investimento é em relação a fraudes e à falência dos negócios, que alcançaram média 3,96 e 3,94 em uma escala em que deveria atribuir 1 ao que classificavam como baixo risco e 5, alto. Também há receio com a falta de informação sobre o andamento do negócio (3,85); a falta de liquidez para deixar o investimento (3,58), e diluição da participação (3,32).
Em relação aos segmentos, a CVM pediu que avaliassem o grau de interesse, considerando uma escala em que 1 seria “pouco” e 5, “muito”. Tecnologia conseguiu a maior média, de 4,49; seguida de saúde, 3,60; alimentos, 3,46; e real estate, 2,81. Também foram mencionados de forma espontânea por alguns entrevistados os setores de educação e esportes e lazer.
Vasco destacou que a pesquisa identificou que regras de divulgação eficientes e inspeções regulares podem atenuar as principais preocupações dos entrevistados (fraude, falências etc.).
Valor Econômico – SP