09/12/2015 às 05h00 Por Ana Paula Ragazzi e Adriana Mattos | Do Rio e de São Paulo Enfrentando dificuldades financeiras, a Lojas Leader deverá nos próximos dias anunciar uma nova gestão. O controle da varejista está sendo negociado. Há, pelo menos, um ano a Leader precisa de um aumento de capital de R$ 400 milhões. A operação não foi efetuada por conta de desentendimentos em relação ao valor da companhia calculado pelo controlador, BTG Pactual (70% do capital), e a família Gouvêa (30%), fundadora do negócio. A família, que não aportaria mais recursos, teria sua fatia reduzida na empresa. A falta da capitalização agravou a situação da varejista, que tem recorrido a empréstimos do BTG, que já somam R$ 150 milhões, e que deverão ser contabilizados como adiantamento para futuro aumento de capital. BTG e os Gouvêa iniciaram negociação para a venda do controle de volta para a família. O BTG tem participação na Leader por meio de diversos veículos, da carteira proprietária do banco, mas também da gestora de “private equity”. A venda da parte proprietária seria suficiente para que os Gouvêa voltem ao controle. E também serviria às necessidades do banco de aumentar sua liquidez, embora o negócio não tenha o retorno esperado. Ao mesmo tempo, o BTG também negocia a venda da fatia dos fundos para outros fundos de private equity, apurou o Valor. Na busca por investidores, o BTG tem afirmado que, apesar do alto endividamento, a Leader tem uma marca forte e tem escala, com faturamento de R$ 2,5 bilhões há potencial para a varejista se recuperar. Na semana passada, o atual presidente da Leader, Alexandre Vasconcellos, apurou o Valor, comunicou ao conselho seu desejo de deixar o cargo. Ele foi indicado para a Leader por Enéas Pestana, cuja consultoria trabalha para a varejista. Pestana, que ainda é conselheiro da Leader, também deverá deixar a empresa. A consultoria chegou há oito meses e fez um diagnóstico do negócio, contratada pelo BTG. Apresentou ao conselho, composto também por representantes dos dois acionistas, um plano de negócios aprovado por todos. A execução ficou sob responsabilidade da diretoria, com fiscalização do conselho e monitoramento da consultoria. Um aspecto crucial desse plano era a capitalização, que não foi concluída. A Harpia, um dos veículos de investimento do BTG na Leader, divulgou laudo de avaliação da varejista com dados do terceiro trimestre. A Leader é avaliada em cerca de R$ 1 bilhão. A empresa tinha R$ 50 milhões em caixa e a conta de estoques somava R$ 225 milhões. Do lado dos passivos, a conta com fornecedores estava em R$ 403 milhões e os empréstimos e financiamentos, em R$ 811 milhões. “A Leader já entrou neste ano mais difícil de crise econômica em dificuldades e com um histórico de reestruturação, o que piorou a performance”, avalia uma fonte. A varejista paulista Seller, adquirida há dois anos pela Leader, é um dos grandes problemas. As vendas da varejista não crescem, a integração entre Seller e Leader (com cerca de 160 lojas somadas) pouco evoluiu e as ações tomadas tiveram pequeno impacto. Segundo uma fonte, algumas apostas não deram certo, mas é difícil achar responsáveis ou erros, uma vez que o negócio sempre foi acompanhado de perto pela consultoria e pelos acionistas. Descapitalizada e com endividamento no curto prazo, a Leader passou a ficar numa situação difícil com fornecedores. “Isso coloca mais pressão sob a gestão, que precisa gerar mais recursos, fazendo liquidações para buscar uma venda rápida e fazer caixa, prejudicando as margens”, diz um especialista. O comprometimento de liquidez levou a atrasos no pagamento à indústria por períodos mais longos. “Num quadro como esse, o fornecedor reduz as entregas, pois não quer aumentar a exposição ao risco. Isso afeta duramente o negócio, pois faltará produto na loja”. As rupturas nas lojas aumentaram, apurou o Valor, algo delicado para um negócio focado em vestuário, que precisa de renovação constante de produtos. “A Leader está operando há meses com a corda muito esticada, recorrendo ao controlador”, diz uma fonte. A discussão sobre o valor da companhia no aumento de capital chegou a apontar para um possível procedimento arbitral, mas recentemente, o BTG dava sinais que poderia negociar, para cessar perda de caixa da empresa. Então veio o dia 25 de novembro e prisão de André Esteves, presidente do BTG. O Valor apurou que a família está disposta a assumir a gestão e retomar o controle, mas colocará na mesa de negociação o fato que terá de aportar pelo menos R$ 300 milhões na operação. O que se terá num curto prazo é uma transição da gestão, com saída de Vasconcellos e da consultoria Enéas Pestana. Só após a definição de um novo comando, a Leader poderá ter um novo plano de ação. De acordo com fontes, a recuperação judicial poderia ser uma decisão estratégica para preservar o negócio da empresa num primeiro momento. A chegada de um novo sócio também seria uma saída, mas novamente a questão seriam os preços de negociação. Procurados pelo Valor, BTG, Leader e os Gouvêa não deram entrevista.
Valor Econômico – SP