Pela primeira vez desde 2009, a taxa de câmbio real de equilíbrio do Brasil terminou um trimestre “sobredesvalorizada” em relação a uma cesta de moedas. A conclusão é de estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV). O chamado desalinhamento médio foi de -6,4% no terceiro trimestre – ou seja, o real fechou o trimestre passado 6,4% mais fraco do que sugeriam os fundamentos naquele momento. A moeda brasileira encerrou o primeiro semestre com “sobrevalorização” média de 11,2%.
Em setembro – mês em que o dólar bateu em quase R$ 4,25, um recorde -, o real ficou 16,6% mais desvalorizado do que o indicado pelos fundamentos.
A pesquisa foi elaborada pelo coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da FGV, Emerson Fernandes Marçal. O documento visa estimar a taxa de câmbio real que permite zerar o déficit em transações correntes.
Segundo o estudo, a forte depreciação da taxa de câmbio efetiva real e a melhora dos fundamentos externos explicam a mudança do desalinhamento cambial. Marçal chama atenção para o fato de a posição internacional de investimento e o déficit do balanço de bens e serviços terem apresentado “melhora expressiva” ao longo de 2015.
“A contração econômica e a depreciação cambial evitaram uma piora ainda mais acentuada do saldo comercial de bens e serviços”, diz Marçal, para quem a melhora na posição internacional se deve provavelmente a alterações dos preços dos ativos brasileiros em moeda estrangeira por conta da depreciação do câmbio. Por outro lado, os termos de troca, outra variável para a determinação da taxa de câmbio de equilíbrio, continuaram se deteriorando.
Marçal pondera que a existência do desalinhamento cambial não implica necessariamente “correções abruptas da taxa de câmbio num futuro próximo em qualquer direção” e diz que a medida deve ser interpretada como um equilíbrio para o longo prazo. “Alterações não previstas dos fundamentos, como, por exemplo, alterações de termos de troca, na posição externa de investimentos, podem fazer com que a taxa de equilíbrio se altere”, acrescenta o economista.
O modelo utilizado pela FGV utiliza como variáveis para determinação da taxa de equilíbrio a posição internacional de investimentos líquida como proporção do Produto Interno Bruto, os termos de troca relativo, balança de bens e serviços e o indicador de preços relativos entre os setores produtores de bens transacionáveis (“tradables”) e não transacionáveis (“nontradables”).
“Com tais variáveis, estima-se a taxa de câmbio de equilíbrio de longo prazo. Os desvios desta em relação à taxa de câmbio observada são os desalinhamentos cambiais.”
Valor Econômico – SP