Em busca de toda e qualquer fonte de recursos para reforçar seu balanço, o BTG Pactual intensificou o processo de venda de ativos. A movimentação inclui agora uma das “joias da coroa” do banco, a Recovery, empresa de recuperação de créditos podres. Também está em negociação a fatia que o BTG detém na problemática varejista Leader e as redes de farmácias controladas pela Brasil Pharma, apurou o Valor. Ontem, o banco obteve cerca de R$ 2,4 bilhões com a venda das ações da Rede D’Or, de hospitais.
Além de participações em empresas, a lista de ativos em negociação inclui operações de crédito fechadas pelo BTG e cotas de fundo imobiliário que pertenciam ao banco (leia Negociação de créditos da instituição infla volume de debêntures no secundário).
No caso da Recovery, avaliações preliminares de executivos que participaram das conversas estimam que a empresa – e o seu portfólio de operações de créditos inadimplentes – valham cerca de R$ 1,2 bilhão. Não foi aberto, por ora, um processo formal de venda e o formato não está definido. A operação pode incluir toda a participação acionária detida pelo banco, apenas uma fatia ou simplesmente as carteiras de crédito podre compradas pela empresa, apurou o Valor.
O BTG Pactual tem 82% da Recovery. Do restante, 10,9% estão com o IFC, braço de investimentos privados do Banco Mundial, e outros 7,1% com os sócios originais da companhia. A Recovery atua na cobrança de operações de crédito inadimplentes compradas de bancos e financeiras. A empresa tem cerca de R$ 45 bilhões, em valor contábil, de operações de crédito sob gestão.
Segundo uma fonte com conhecimentos das conversas, a Recovery é composta de duas partes. Apenas a estrutura responsável pela cobrança, que ganha uma comissão toda vez que recupera um empréstimo, estaria avaliada em até R$ 400 milhões. Já as carteiras de crédito podre sob gestão valem entre R$ 750 milhões a R$ 1 bilhão, nas contas desse executivo. A percepção no mercado é que vender apenas as carteiras seria uma solução mais rápida, trazendo liquidez imediata ao banco, e com forte demanda de compradores.
O banco está consultando investidores locais e estrangeiros interessados no ativo. Nomes internacionais especializados em créditos podres, como os fundos LoneStar, Apollo Global Management e Oaktree estão envolvidos.
A carteira detida pela Recovery representa 40% dos investimentos em créditos podres em todo mundo do IFC, que não deve vender sua participação na empresa, segundo um executivo. Procurado, o IFC respondeu que está “acompanhando de perto a investigação para entender seu desenrolar e resultado”, sem dar mais detalhes.
Além da Recovery, o banco também está em conversas para vender o controle da rede de varejo Leader de volta para a família Gouvêa, fundadora da companhia. O BTG adquiriu o controle da rede em 2012 e os fundadores ficaram no negócio como minoritários. Ainda são conversas iniciais e o maior obstáculo é a determinação do preço, segundo uma fonte.
O BTG tem 70% da rede e a família fundadora, 30%. A questão central é que a empresa precisa de um aporte de até R$ 300 milhões para redução do endividamento. Na situação atual do BTG, a hipótese de uma capitalização ficou muito mais complicada. Na operação de compra da Leader, feita em duas fases – de 40% e 30% – teriam sido colocados pouco mais de R$ 1 bilhão na rede.
Ao mesmo tempo em que estuda outro caminho para a Leader, o BTG ainda pode avançar numa possível venda das empresas controladas pela Brasil Pharma, a holding de farmácias do banco. Segundo apurou o Valor, o Itaú BBA estaria sondando fundos de private equity para buscar interessados nas operações da Rosário, Santa’ana e Farmais. Dias atrás, a direção da empresa chegou a negar, antes da crise que assola o banco, a venda de mais redes.
Na avaliação de um gestor de fundos de private equity, dos ativos que restam na carteira do BTG apenas a venda da Recovery e da rede de estacionamentos Estapar contribuiria de forma relevante para reforçar o caixa do banco. “Os demais investimentos não estão maduros ou são problemáticos, e estão dentro de um fundo que conta também com recursos de clientes”, afirma.
O plano de venda de ativos do BTG deu um passo importante ontem, com a venda da participação minoritária na Rede D’Or, de hospitais, ao fundo soberano de Cingapura (GIC). A transação trará R$ 2,38 bilhões ao banco. A operação foi fechada em quatro dias e foi dada preferência ao fundo por sua maior agilidade para levantar recursos. Tanto que o americano Carlyle, que também tinha interesse na compra, agora vai negociar diretamente com o GIC para aumentar sua participação, que hoje é de 10,3%, segundo uma fonte. Com a aquisição, o GIC fica com pouco mais de 28% da Rede D’Or e o controle permanece com a família Moll, com 60%. Procurados, o BTG Pactual, a Recovery e a Leader não comentaram o assunto.
Valor Econômico – SP