20/11/2015 17:00
Em meio à crise e aos descaminhos da economia brasileira, é instigante e inspirador conhecer a história de empreendedores que estão avançando, muitos deles tendo começado do zero e que encontraram nichos, oportunidades que ninguém enxergou, para se dar bem no mundo dos negócios. Na maioria dos casos, são exemplos de superação, de garra e disposição para vencer. Com suas ideias e projetos, estão puxando o bonde da retomada e seguem investindo. Reunidos no último final de semana em Campos de Jordão (SP), por ocasião do 6º Fórum de Empreendedores, promovido pelo Lide, muitos deles contaram suas histórias e relataram qual o caminho das pedras a ser trilhado para o sucesso. Conheça alguns exemplos:
De garoto de rua a fundador da Saga Games
Alessandro Bonfim tinha tudo para dar errado. Abandonado pelo pai e com padrasto alcoólatra e violento, mergulhou no mundo do videogame como fuga. Chegou a ganhar vários torneios. Resolveu sair de casa e foi morar na rua, onde fez de tudo um pouco. De faxineiro a limpador de carros, acabou finalmente conseguindo um emprego como vendedor numa escola de informática. Evoluiu, virou gerente e, com as reservas do que ganhava, comprou a escola na qual trabalhava, transformando-a depois na primeira do Brasil especializada no ensino da arte de fazer games. Com nove unidades e 11 mil alunos regulares, quis alçar voos mais altos. Bonfim foi aos EUA, onde travou contato com os gigantes dessa indústria. Esteve na Pixar e na Gnomon e, através delas, conseguiu trazer para cá um gigantesco evento anual com os papas dos efeitos digitais e a participação de mais de 2,5 mil pessoas por dia. O País entrou no circuito obrigatório desse mercado, que hoje movimenta mais de US$ 500 bilhões ao ano, e Bonfim conquistou apoio e suporte para montar a Axis School of Visual Effects. Inaugurada em março de 2013, introduziu há alguns meses, em pleno recesso do mercado, um regime diferenciado de expansão baseado em franquias com aulas pela rede.
De motorista de ônibus a dono da terceira maior indústria de sorvetes do País
Antônio Santos soube como poucos aliar oportunidade e prazer para uma trajetória bem-sucedida no empreendedorismo. Ex-motorista de ônibus interestadual em Goiânia, onde o sol abrasador invariavelmente despertava nele a vontade de tomar picolés que raramente encontrava, dada a escassez do produto em seus roteiros, resolveu se demitir e com o dinheiro da rescisão comprou um freezer e uma pequena máquina para fabricação própria. Entrou em um curso para aprender a fazer sorvete e começou na garagem de casa, de onde podia trabalhar e ficar mais perto da família. O resultado veio rápido. Em pouco tempo. tinha faturado o suficiente para erguer uma linha de produção. Nascia a Creme Mel Sorvetes, hoje com 34 mil pontos de venda em 17 estados, 1.500 funcionários e expectativa de faturamento de R$ 300 milhões neste ano. Ainda em 2015, Santos adquiriu a Zeca Sorvetes, marca regional de grande crescimento no Nordeste, que levou seu grupo a se situar como um dos três maiores do Brasil no setor, atrás apenas da Kibon e da Nestlé.
A ex-advogada que apostou no ercado da beleza
Mônica Burgos virou empresária aos 30 anos, com uma guinada geral na vida que a fez largar a profissão de advogada e o marido. Com três filhos para criar, mudou-se da Bahia para o Rio, onde decidiu estudar moda e beleza. Travou contato com o universo das fragâncias de perfume através de um amigo que produzia artesanalmente. Resolveu levar alguns frascos para vender em sua terra natal entre as amigas. As encomendas foram aumentando e, em sociedade com um designer gráfico, montou a empresa Avatim, especializada em produtos de higiene pessoal e essências. Com treze anos de existência, a Avatim já se converteu numa rede com 67 lojas espalhadas pelo País, 43 distribuidores, 170 pontos de venda, fábrica e mais de mil revendedores. Em 2015, os planos continuam. Mônica planeja dobrar os investimentos. Não fala em números. Diz apenas que continua lucrando e crescendo, independentemente da retração do consumo. Nada mal para quem começou o negócio com apenas R$ 4 mil no bolso.
O feirante que agora enfrenta grandes supermercados
Ricardo Roldão iniciou sua trajetória na barraca do pai, aos 10 anos, vendendo limão na feira. Aos poucos, foi trocando de produtos, mais rentáveis, e se especializou no comércio de embutidos. Em um Fusca, ele o pai passaram a percorrer as ruas anunciando a mercadoria de porta em porta. Arregimentou freguesia e logo estava abrindo a primeira loja. Sua tática era tentar vender a mercadoria com preços sempre abaixo da concorrência. O Roldão Atacadista ganhou fama de barateiro e viu a procura explodir. Atualmente com 25 lojas em São Paulo, o Roldão deve faturar mais de R$ 2,2 bilhões neste ano, o que equivale a um crescimento de 5% média que vem mantendo nos últimos tempos. A fórmula para melhorar os resultados, ensina ele, está no baixo custo operacional. Enquanto as demais redes giram com um taxa de 23% de custo operacional, devido à sofisticação que adotam em seus estabelecimentos cobrando mais por isso! a Roldão trabalha na casa dos 10%.
O rei do varejo no interior
Romeu Zema e o pai, que considera seu professor, criaram um gigante do varejo desistindo de atuar nas capitais e preferindo crescer nas cidades do interior. Juntos, pegaram um armazém falido e o converteram numa rede de lojas que hoje atua no varejo de eletroeletrônicos, móveis, vestuário, distribuição de combustíveis e concessionárias de veículos, atendendo exclusivamente clientes que antes quase não tinham acesso a esses serviços por morarem longe dos grandes centros. A estratégia de atuar em nichos deu supercerto e atualmente o Grupo Zema conta com 520 filiais, 6.800 funcionários e um faturamento que em 2015 deve ultrapassar a casa de R$ 3,5 bilhões. Bem acima dos R$ 2,8 bilhões registrados no ano passado. Zema centrou esforços num público que os demais desprezavam e virou rei.
O garçom de churrascaria vai dominar as Olimpíadas
O uruguaio Daniel Mendez veio tentar a sorte no Brasil e foi muito além dos seus sonhos. Começou como garçom de churrascaria e virou o jogo. Com a compra de seu primeiro restaurante, passou a a comercializar também refeições para fora e, apostando nesse diferencial, em 1992 criou a Sapore, que se converteu numa das maiores redes de alimentação corporativa da América Latina. Atualmente, a Sapore cuida das refeições de mais de um milhão de pessoas todos os dias. Conta com 1.100 restaurantes, 15 mil funcionários e está abrindo mais 28 unidades neste ano. A Sapore ganhou a concorrência para servir as refeições dos atletas durante as Olimpíadas e terá de entregar 22 mil pratos diariamente na Vila Olímpica, numa logística poucas vezes vista. Em 2015, a Sapore já cresceu 8% e concorre de igual para igual com multinacionais que controlam o segmento.
Revista IstoÉ Dinheiro – SP