20/11/2015 às 05h00 Por Ana Paula Ragazzi | Do Rio O BTG Pactual, controlador da varejista carioca Leader, injetou nos últimos meses mais de R$ 100 milhões no caixa da companhia, apurou o Valor. Essa operação deverá ser contabilizada como um “adiantamento para futuro aumento de capital”. Em agosto o Valor informou que o BTG preparava um aumento de capital na Leader de até R$ 300 milhões. Apesar de essa operação não ter sido concretizada, parte dos recursos já foi liberada. Esse tipo de adiantamento é utilizado para atender necessidades momentâneas do fluxo de caixa da empresa. No futuro, os recursos são incorporados ao capital social. A família Gouvêa, fundadora da Leader e que tem 30% da empresa, não aportou dinheiro novo. Neste ano difícil para o varejo, por conta das condições macroeconômicas do Brasil, a Leader tem também encontrado dificuldades internas. Ela ainda faz os pagamentos da aquisição de uma concorrente, a Seller, feita em junho de 2013. Os pagamentos deveriam ser feitos em cinco anos com o fluxo de recursos obtido pelo negócio. Mas a operação ainda não gera recursos suficientes, daí a necessidade da antecipação de recursos feita pelo controlador. Tanto o BTG quanto os Gouvêa estão descontentes com os resultados do negócio, de acordo com informações de mercado. Apesar do cenário difícil, os números têm sido mais fracos do que o esperado. A consultoria Enéas Pestana & Associados chegou à Leader no início deste ano com a missão de melhorar os seus resultados, mas eles têm piorado. Em outubro, as vendas ‘mesmas lojas’ (abertas há mais de um ano) registraram queda próximo a 20%, segundo fontes. A compra da Seller e as dificuldades de integração são um problema a mais para a operação. O BTG ficou com o controle da Leader em 2012 e desde então dá as cartas no negócio. É do banco a decisão de nomear ou destituir executivos. O BTG já teria decidido que até o fim do ano, época crucial para o varejo, tudo permanece como está na Leader. Mas em janeiro do ano que vem Pestana deverá deixar o conselho da Leader, assim como os executivos indicados por ele para a diretoria, entre eles o presidente Alexandre Vasconcellos, exGrupo Pão de Açúcar (GPA), assim como Pestana. O contrato para a prestação de consultoria ainda está sob avaliação, podendo ou não ser revisto. Pestana trabalha para outra empresa que recebeu recursos do BTG, a rede de farmácias BR Pharma, que começar a apresentar melhora de seus resultados. Procurados pelo Valor, Pestana e BTG não deram entrevista. Os resultados fracos da operação da Leader são obviamente influenciados pelas condições macroeconômicas, mas na visão de especialistas do setor, a consultoria errou a mão ao promover uma reestruturação muito profunda na empresa, num momento delicado como este para a economia. “Não dá para mexer muito no negócio num momento como esse porque qualquer erro se transforma num desastre”, diz um especialista. O vestuário masculino e feminino é o carrochefe da Leader. O especialista aponta que a equipe de Pestana não possui em seus quadros especialistas no setor de vestuário. Mas a empresa é, na verdade, um caso diferente no setor de varejo. Além de roupas, vende também artigos de cama, mesa e banho, brinquedos e utilidades domésticas e de decoração. Quando adquiriu a Leader, em 2012, a tese de investir em uma empresa de bens de consumo voltada a consumidores da classe C fazia todo sentido no Brasil, que vivia um período de aumento de renda. O cenário, no entanto, virou. Apesar das dificuldades, acreditase que acertando a mão na gestão e também nas coleções de roupas, a Leader teria potencial para se recuperar.
Valor Econômico – SP