4 DE NOVEMBRO, 2015 – 06H00
Dívidas antigas são negociadas com desconto e o crédito é restabelecido
Os lojistas de Belém querem facilitar ao máximo o pagamento de dívidas, para que os consumidores possam recuperar o crédito neste final de ano, mesmo em um cenário de inflação, desemprego e juros altos. A intenção atende a uma tradição do mês de novembro, quando o comércio lojista da capital costuma renegocia as dívidas dos clientes, para que, com os nomes limpos, eles possam comprar em dezembro, quando o volume de vendas é maior. No esforço pela recuperação de crédito, as lojas que têm crediário e cartão próprio costumam, nesta época, estabelecer condições especiais de pagamento de prestações em atraso para o devedor disposto a quitar suas pendências, independente da data da compra.
A Yamada, por exemplo, oferece desconto de 100% dos juros, taxas e multas até o dia 30 deste mês, opção que é ainda mais atrativa do que a que foi oferecida no ano passado, quando o grupo deu descontos de juros de acordo com o tempo do débito, ou seja, quanto maior o tempo, menor o desconto. É que este ano, as festas de fim de ano, que dão ao comércio o seu maior faturamento anual, encontram o País em plena crise econômica, com inflação, taxas de juros (que encarecem o crediário) e desemprego em alta.
’Se a gente não facilitar, a pessoa não tem como pagar”, disse a funcionária do setor comercial Nádia Brito. Além disso, a Yamada já antecipou sua queima de estoque, que antes só ocorria após as festas de fim de ano. Todas as semanas, as lojas do grupo fazem promoções com descontos de até 70% nos preços de alguns produtos. Sempre que vamos trocar de coleção ou queremos eliminar algum produto, fazemos liquidações, é a chamada ponta de estoque. Antes, se você tinha uma coleção de 10 itens, você esperava vender oito para liquidar os dois restantes. Agora, no máximo, se espera vender sete e já se faz a liquidação, explicou Ricardo Yamada, da área comercial.
A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belém (CDL) estima um aumento de 30% da inadimplência na praça de Belém. O empresário está disposto a oferecer o máximo de facilidades, dentro de sua condição, é claro. É o chamado espírito de facilitar, frisa o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belém (CDL), Álvaro Cordoval de Carvalho. Mesmo com um cenário econômico ruim, o varejo quer encerrar o ano com uma boa performance.
Para movimentar as vendas, programam-se diversas condições de pagamento, mas isso varia em cada um dos cerca de 3 mil estabelecimentos cadastrados na CDL Belém. Álvaro Cordoval informa que o perfil do maior devedor está na faixa etária entre 30 e 50 anos de idade, contudo, diz ele, os jovens começam a ficar sem pagar também.
Mãe de três crianças e desempregada há dois anos, a ex-confeiteira da Estação das Docas Sílvia Letícia Soares de Oliveira, 31 anos, bem que gostaria de renegociar seu débito de quase mil reais com a loja C&A, mas, sem renda, admite que não tem chances. Na última sexta-feira, 13, Sílvia Letícia caminhava pela avenida João Alfredo com as duas filhas, Marília e Sophia, de 8 e 7 anos de idade, e na companhia do marido, Willians de Deus, que trabalha com telemarketing e comunicação visual, pintando faixas e cartazes. A família, que mora na avenida Pedro Álvares Cabral, pesquisava preços para trocar um colchão de cama, entre outras coisas básicas para a casa, contou Silvia Letícia, que só não tinha a companhia do filho Matheus, de 9 anos.
Eu fui procurar saber em quanto estava minha dívida e vi que ela disparou. Vontade eu tenho de pagar e tirar o meu nome do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), cheguei a parcelar de cinco vezes, dava 200 e pouco reais por mês, mas só consegui pagar uma, contou a dona de casa, salientando que, em três anos, o débito pulou de R$ 200, valor original da dívida, para quase mil reais. A Loja C&A, além de vender confecções e acessórios, empresta dinheiro aos clientes.
O Liberal on-line – PA