01 de novembro de 2015
Gestão centralizada e focada em qualidade é base de expansão da rede chefiada pelo empresário Júnior Durski
O chef Júnior Durski tem um jeito especial para não perder as contas do número de restaurantes que a rede Madero tem: o telefone de cada um está na agenda do celular, numerado por ordem de inauguração. O número 60 será inaugurado na terça-feira (3), em Miami. Até o fim do ano, serão 63. E outros 30 no ano que vem. Ou 40, dependendo do nosso fluxo de caixa, avisa. O Madero foi o vencedor da categoria comércio e serviço grande na edição do prêmio Bem Feito no Paraná 2015, uma realização da Gazeta do Povo em parceria com a Escola de Comunicação e Negócios da Universidade Positivo.
O ritmo de expansão da marca ganhou velocidade nos últimos cinco anos. Não por acaso. Durski patinou como dono de restaurante no início da carreira de chef e levou algum tempo de prejuízo e aprendizado até azeitar a engrenagem. Advogado por formação, trabalhou como madeireiro desde a juventude, apoiado nos negócios da família, tradicional de Prudentópolis. Morou na Amazônia, onde a necessidade o empurrou para o fogão: acostumado à boa mesa, sem muitas opções em Machadinho D’Oeste (RO), cozinhou no almoço e no jantar durante os 15 anos em que permaneceu no Norte do país.
No retorno ao Sul em 1999, então como trader do setor de madeira, a cozinha falou mais alto. Animado com o sucesso dos pratos que fazia para os amigos e de olho na rentabilidade de bons restaurantes que frequentava, inaugurou o Durski, especializado em culinária eslava, com cardápio inspirado nas receitas de família. Não tinha nenhuma experiência no segmento, fazia a conta burra que todo mundo faz, do custo da matéria-prima contra o preço do cardápio. Claro que não deu certo, conta. Outros fatores contribuíram para o prejuízo, como a localização em uma região pouco segura, mas o restaurante era o hobby do madeireiro bem sucedido.
Sem conseguir colar o sucesso da crítica ao faturamento do negócio, o chef decidiu apostar em outra proposta gastronômica. Carnívoro declarado, comprou o imóvel ao lado do Durski para otimizar o trabalho da equipe que ficava ociosa na primeira unidade. Investiu no churrasco, o único modo de preparo que o chef admite para consumir carne. Como churrasco cinco vezes por semana. As outras duas, hambúrguer, diz.
O Madero Prime Steak House foi criado com as referências recolhidas em um mês de pesquisa em mais de 50 restaurantes nos Estados Unidos. Durante um ano, antes de abrir a casa, estudou a produção de cada etapa do hambúrguer. Resolvida a questão da qualidade da comida, encomendou à esposa, arquiteta, o ambiente que melhor se adequasse à proposta do novo restaurante. Todo o investimento só serviu para aumentar a experiência do chef na elaboração de receitas, porque o faturamento continuava no negativo. No máximo, empatando.
O desempenho fraco dos dois restaurantes não desanimou o chef. A qualidade do produto atraiu parceiros para novas unidades. Até o quinto restaurante, a operação não decolou. Cansado de arcar com o prejuízo, Durski mudou de estratégia: o melhor hambúrguer do mundo não podia ser o mais caro, nem o mais demorado. A versão express da marca ajustou custos e produção, e o desconto de 41% no preço refletiu em um crescimento dez vezes maior nas vendas. As lojas explodiram de vender. Deu fila na porta e eu ganhei no volume, conta.
CONTÊINERES
Lançada em 2014, a versão em contêineres é a nova aposta do Madero. Instalada em rodovias e cidades de menor porte, a operação é de rápida montagem e tem alta rentabilidade. Os pedidos são feitos no balcão e o resultado entusiasma o fundador. Hoje abrimos um por mês. Se pudesse, abriria quatro, diz. Dos 30 restaurantes previstos para 2016, 20 serão contêineres.
Empresário monitora cadeia produtiva do início ao fim
A marca Madero ganhou força e relevância no mercado gastronômico de Curitiba e do Paraná. Júnior Durski abriu mão do mercado madeireiro em 2011 para dedicar-se exclusivamente aos restaurantes. E o negócio ganhou formato profissional, exigindo mais conhecimento do fundador sobre todos os detalhes do segmento, da produção à estratégia de expansão. Aprendi na marra, observando, estudando propostas de negócios, fazendo adaptações, conta.
Obcecado por qualidade, Durski mantém toda a cadeia produtiva sob seu controle e já dissolveu parcerias por conta da sua exigência. Pão, hambúrguer, molho, pastel, sorvete ou maionese, tudo tem o selo Madero. A empresa também detém a logística da distribuição dos insumos que abastecem a rede. Serviços administrativos, política de contratação, alojamento de funcionários, layout de lojas, manutenção de equipamentos e veículos usados pela empresa, tudo é centralizado sob a gestão do fundador. Tenho pavor de terceirização, diz.
Todas as áreas sob o grande guarda-chuva Madero exigiram profissionalização da gestão. Para garantir o pleno funcionamento da engrenagem, Durski montou uma equipe comprometida com os resultados.
Mercado de capitais
A empresa vem sendo preparada para entrar no sofisticado mercado de capitais. O primeiro movimento foi a emissão de R$ 88 milhões em debêntures, adquiridas pelo fundo HSI, em julho deste ano. Abrir o capital é projeto para 2018, mas tudo vai depender do ritmo do mercado. A empresa com gestão profissionalizada serve para tudo: para crescer, para ser negociada com fundos ou fazer IPO, avalia.
Durski mantém uma política de participação de resultados que remunera sócios gestores das unidades. A direção da empresa também já tem sociedade comprometida na abertura de capital, a chamada stock option. Mas o controle vai permanecer com Durski. Na partilha final, a intenção é ficar com 60% das ações e o restante distribuir entre os acionistas. Ninguém me tira daqui. Amo meu negócio, diz.
Bom de garfo desde criancinha
Criado pelos avós maternos em Ponta Grossa até os quatro anos de idade, Junior Durski cresceu acostumado com mesa farta e boa comida. Uma das lembranças mais vivas na memória do chef é o açougue que o avô mantinha para beneficiar as carnes que abastecia os funcionários da propriedade. Linguiça, bacon e churrasco sempre fizeram parte da dieta, conta.
As receitas de família passaram pelas gerações, em ambas as origens: polonesa e ucraniana. E a criatividade também. O picadinho Santos Dumont é um exemplo. Surpreendida pela chegada de mais um convidado para o almoço no caso, o próprio aviador-inventor , em visita à Prudentópolis, a avó fez render a carne da refeição em um picadinho reforçado com tomate e cebola. Receita de família, repetimos até hoje, diz.
Gazeta do Povo – PR