23/10/2015 às 05h00
Por Sérgio Ruck Bueno | De Porto Alegre
Apesar da queda acentuada nos volumes vendidos por conta da redução da demanda nos mercados interno e externo, a Grendene encerrou o terceiro trimestre com evolução de 5,9% no lucro líquido ante igual período de 2014, para R$ 133,5 milhões. O ganho foi possível graças a ajustes de preços no mercado interno suficientes para cobrir a alta dos custos e, nas exportações, a descontos em dólar inferiores à desvalorização do real no período, disse o diretor de relações com investidores Francisco Schmitt. O volume de calçados vendidos pela companhia recuou 14,4% no trimestre, mas a receita bruta subiu 0,6%, para R$ 734,5 milhões. No mercado interno, a retração foi de 15,2% em volume, o que levou a uma redução de 5,8% no faturamento, para R$ 556,8 milhões. Já no mercado externo as vendas físicas encolheram 11,3% no trimestre, enquanto o faturamento em dólares caiu 18,3%, para US$ 50 milhões, mas cresceu 27,6% em reais, para R$ 177,7 milhões. Com isso, no acumulado dos nove meses em comparação como mesmo período de 2014, a participação da Grendene nas exportações brasileiras de calçados recuou de 38,6% para 36% em volume e de 22,7% para 21,2% em receita em dólares, com embarques de 31,2 milhões de pares por US$ 147,1 milhões. Conforme Schmitt, a estratégia de precificação permitiu, mesmo num cenário de retração de consumo “pior do que o esperado” pela companhia, uma alta de 2,3% na receita líquida no terceiro trimestre ante igual período do ano passado, para R$ 615,3 milhões, acompanhada pela alta de 2,7 pontos na margem bruta, para 50,4%. O lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) também cresceu 16,7%, para R$ 137,7 milhões. “Nossa opção tática foi priorizar as margens e não os volumes”, comentou o executivo. No mercado externo, enquanto a cotação média do real ante o dólar recuou 55,55% entre o terceiro trimestre de 2014 e o terceiro de 2015, o preço médio dos calçados da Grendene na moeda americana recuou, conforme a empresa, apenas 7,8%, para US$ 4,95 por par. Em reais, a alta foi de 43,6%, para R$ 17,55 o par. No Brasil, o preço médio dos produtos subiu 11%, para R$ 15,10, e “mais do que compensou a queda dos volumes”, disse Schmitt. Com o consumo de calçados em queda, a Grendene também desativou o terceiro turno de operação em suas 11 fábricas ao longo do segundo e do terceiro trimestre, disse o executivo. O número de funcionários está em torno de 23 mil, um pouco abaixo da média normal de 24 mil a 25 mil para esta época do ano devido à não reposição da rotatividade de mão de obra. “Não fizemos demissões”, afirmou o diretor. Schmitt confirmou que as vendas totais da empresa em 2015 ficarão abaixo de 200 milhões de pares, ante 204,9 milhões em 2014. No acumulado até setembro, foram vendidos 125,5 milhões de pares, com queda de 9,3% em comparação com o mesmo período de 2014. A capacidade instalada total da companhia é de 250 milhões de pares por ano, mas não há previsão de fechamento ou desativação de plantas industriais. Segundo o executivo, a estimativa da Grendene é que o consumo de calçados no país recuou 8% no acumulado dos nove primeiros meses e deve encerrar o ano com retração de até 10%. Ele também considera “difícil” prever uma retomada em 2016 por conta das expectativas de nova queda no Produto Interno Bruto (PIB) e do aumento do desemprego. Mesmo assim, o que deixa o setor razoavelmente “tranquilo” por enquanto é que não está havendo acúmulo de estoques no varejo, pois as lojas seguem comprando mesmo, que em volumes menores, disse Schmitt. A operação de móveis TOG, iniciada no fim de 2014 a partir de uma associação da Grendene com o estilista Philippe Starck e os empresários Andrés Esteves e Nizan Guanaes, gerou uma receita bruta de R$ 1,4 milhão e um prejuízo de R$ 14,8 milhões nos nove meses. A maior parte do faturamento provém das vendas na Europa, porque a crise e a desvalorização do real prejudicam a comercialização dos móveis italianos da empresa no país. Schmitt admitiu que o desempenho do negócio está abaixo do esperado e por isso a companhia está rediscutindo os rumos da operação com os demais acionistas, mas não deu mais detalhes sobre o assunto.
Valor Econômico – SP