13/10/2015 às 05h00
Por Cibelle Bouças | De São Paulo
Os brasileiros compraram, no período de 12 meses até maio deste ano, 18,9 milhões de pares de tênis esportivos pirateados. Esse volume correspondeu a 23% do total de tênis esportivos consumidos no país no último ano. Os dados fazem parte de uma pequisa inédita realizada pelo Ibope sob encomenda da Associação pela Indústria e Comércio Exportivo (Ápice), entidade que representa as marcas Adidas, Asics, Alpargatas, Nike, Oakley, Puma, Specialized, Skechers e Under Armour. O Ibope ouviu uma amostra de 2.002 consumidores brasileiros em todo o país e, a partir dos dados obtidos, fez projeções de consumo de artigos esportivos. De acordo com os estudos, os brasileiros compraram em um ano 80,6 milhões de pares de tênis esportivos. Desse total, 77% eram produtos originais e 23%, produtos piratas. O valor médio pago por par de tênis foi de R$ 376 para produtos originais e de R$ 146,60 para artigos ilegais (61% abaixo do preço de um par original). A Ápice estima que as indústrias do setor tenham deixado de movimentar R$ 1,6 bilhão em 12 meses com a perda de vendas para produtos piratas. As companhias também deixaram de empregar 145 mil pessoas, que seria o número necessário para a fabricação de 19 milhões de pares por ano. O governo federal, por sua vez, deixou de arrecada R$ 637 milhões em impostos com o comércio de produtos esportivos ilegais. O Ibope perguntou aos entrevistados que motivos levaram a comprar produtos originais e piratas. O conforto foi fator decisivo para 21% dos consumidores que optaram pelos produtos originais. A qualidade e o preço foram fatores de decisão para 16% desses consumidores. Entre os brasileiros que optaram pelos produtos piratas, 26% informaram que o principal motivo da escolha foi o preço, seguido por conforto (12%) e qualidade (7%). O Ibope também ouviu os consumidores sobre o consumo de roupas esportivas. De acordo com a pesquisa, os brasileiros consumiram em 12 meses até maio 683,7 milhões de peças. Desse volume, 57,1% eram produtos originais e 42,9%, eram produtos pirateados. O gasto médio com peças de roupas esportivas foi de R$ 473 para produtos originais e de R$ 214,30 para peças falsificadas uma diferença de 54,7% em relação ao produto legítimo. Marina Carvalho, diretorapresidente da Ápice, considerou alto o nível de pirataria no setor. “É um dado muito grande. Isso representa R$ 1,6 bilhão em receita que as indústrias deixam de faturar. É um valor expressivo”, afirmou. Ainda de acordo com a executiva, a diferença no preço do produto original para o produto falsificado reflete basicamente o impacto de impostos e gastos que as indústrias têm para manter funcionários contratados formalmente. De acordo com a Ápice, esse é o primeiro estudo que dá indicadores sobre o tamanho do mercado pirata de tênis esportivos. A meta da entidade é aproveitar os dados da pesquisa para reforçar com o governo a necessidade de se implementar políticas mais rigorosas para o combate à pirataria. Uma das bandeiras da Ápice é incentivar o Congresso a aprovar o projeto de lei (PL) 333/99, que altera a Lei de Propriedade Intelectual e pretende igualar a pena por falsificação de marca à pena por violação de direitos autorais. Segundo Marina, o trabalho com as autoridades começou há três anos. Atualmente, existem seis processos de investigação de contrabando de tênis esportivos no país. A Ápice também desenvolve ações em parceria com o Fórum Nacional Contra a Pirataria (FNCP) no combate à venda de produtos ilegais no país. Edson Vismona, presidente da FNCP, disse que os artigos esportivos estão entre as principais categorias de produtos pirateadas no país, juntamente com óculos, cigarros, TV por assinatura, perfumes, música e filmes. A FNCP estima que, por ano, o prejuízo com pirataria no país gire em torno de R$ 100 bilhões. Desse total, R$ 70 bilhões seriam vendas de produtos ilegais e outros R$ 30 bilhões, impostos que deixam de ser recolhidos. “Existe um sentimento no Brasil de que a pirataria não é algo importante e que não causa problemas, mas proporciona problemas enormes à economia e à saúde das pessoas, que consomem produtos sem certificação de qualidade”, afirma.
Valor Econômico – SP