09/10/2015 20:00
// Por: Fabíola Perez
Até pouco tempo atrás, voar era sinônimo de muita dor de cabeça em qualquer aeroporto no Brasil. No Aeroporto Internacional de São Paulo (Guarulhos), o principal do País, a preocupação estava por todos os lados: poucas vagas no estacionamento, longas filas de espera, desorganização na hora do check-in e confusão para localizar o terminal correto. Os restaurantes abarrotados na área de embarque comprometiam o conforto e a tranquilidade dos passageiros.
Para piorar, muitos viajantes tinham a bagagem extraviada e um atendimento insatisfatório para localizá-las. Todos esses fatores ganharam contornos ainda mais caóticos considerando o aumento exponencial do fluxo de brasileiros que passaram a usar o transporte aéreo, nos últimos anos. O número de usuários quase triplicou entre 2003 e 2013, último balanço disponibilizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Em uma década, os usuários de Guarulhos saltaram de 11,5 milhões para 36 milhões, representando um crescimento de seis milhões de viajantes além de sua capacidade.
A infraestrutura não estava acompanhando o aumento da demanda. Era preciso mudar. Essa realidade começou a se transformar em maio de 2014, quando a concessionária GRU Airport pagou R$ 16,2 bilhões no leilão realizado pelo governo federal, em 2012, para administrar Guarulhos por 20 anos, inaugurou um novo terminal de embarque e desembarque. A GRU é uma associação entre as empresas Investimentos e Participações em Infra-Estrutura e ACSA, da África do Sul. O novo terminal foi destinado exclusivamente aos voos internacionais de longa distância, com 192 mil m2 e capacidade para receber 12 milhões de viajantes por ano, e contribuiu para desafogar os dois espaços originais.
Teremos um aeroporto tão moderno quanto os de outros países, diz Marcus Santarém, presidente da GRU Airport. Estaremos mais preparados para atender o aumento de demanda de passageiros e a oferta das companhias aéreas. Os gargalos do aeroporto de Guarulhos começaram a se desfazer, mas ainda há inúmeros desafios. O atual é colocar em prática o projeto da reforma dos terminais antigos sem impactar negativamente o bem estar dos usuários. Se a concessionária construiu a ampliação do zero, sem a presença de passageiros, agora terá de promover uma grande reforma com os espaços em plena operação.
Para se ter ideia da dificuldade, 75% dos viajantes circulam pelos terminais 1 e 2, que realizam voos nacionais e internacionais de curta distância. O terminal 3, que concentra 80% dos voos para o exterior, detém 25% do fluxo de passageiros. Para evitar transtornos aos passageiros, a GRU Airport aumentou o prazo de conclusão da obra, para maio de 2016. As obras dessa segunda fase do plano de investimentos em infraestrutura começaram em outubro de 2014. Fizemos uma pesquisa para identificar as principais falhas do aeroporto e foram apontados serviços como estacionamento, restaurantes e defasagens na área de embarque, afirma Santarém.
Com o terminal 3, a percepção dos passageiros em relação ao aeroporto melhorou muito. E os novos investimentos devem impactar diretamente na sensação de conforto e segurança dos viajantes. A previsão é de que, com a modernização dos terminais 1 e 2, Guarulhos chegue ao patamar dos melhores aeroportos do mundo. A principal mudança nos terminais 1 e 2 será na área de embarque, que se tornará um espaço único e integrado. No terminal 1, ficarão apenas os voos nacionais, o que permite extinguir as áreas de controle de passaporte e alfândega.
Os portões de acesso também serão reestruturados, com nova identificação para facilitar o trânsito dos usuários. Para dar mais comodidade ao viajante, as antigas estruturas metálicas da década de 1980 serão removidas e a largura do corredor de circulação nos saguões vai passar de três para sete metros. O setor de raio X, onde são feitas as inspeções de bagagem de mão e identificação de metais, também será centralizado. A obra, no entanto, não é considerada como uma expansão. Trata-se de um projeto de modernização e reaproveitamento de espaços, até então mal utilizados.
Será mais fácil para o passageiro se orientar, já que o acesso será feito por um único local e não mais por quatro, diz o presidente da GRU. Inspiradas na engenharia asiática e europeia, as adaptações estão ajudando a dar mais eficiência e qualidade ao 29º maior aeroporto em movimentação de passageiros do mundo e o maior do Brasil e da América Latina em de fluxo de passageiro e de carga. O investimento em tecnologia foi um dos pontos-chave da mudança. Foi construído um centro de processamento de dados que reúne sistemas responsáveis pela operação e administração de todo o aeroporto.
A grande inovação, porém, diz respeito à tecnologia que promete dar mais agilidade no embarque e desembarque dos passageiros no terminal 3. Foram instalados portões com controle de passaporte eletrônico. Segundo estudos, o tempo médio de espera nas cabines é de três minutos. Nos portões eletrônicos, a passagem é feita em 30 segundos. Todo o processo é controlado remotamente pela Polícia Federal. O projeto vai permitir o bom aproveitamento de uma área de 23 mil metros quadrados, diz Santarém. A ideia é transformar o novo terminal em padrão de serviços a ser oferecido em todo o aeroporto.
A concessionária coleciona números crescentes em relação à expansão. A oferta de vagas de estacionamento passou de 3,9 mil para 8,5 mil. Os pátios, que antes tinham capacidade para 79 aeronaves, agora abrigam 123. Por fim, a área dos terminais dobrou, passando de 191 mil metros quadrados para 387 mil. O resultado começa a aparecer na pesquisa de satisfação de passageiros, realizada trimestralmente pela Secretaria de Aviação Civil.
No segundo trimestre deste ano, o Aeroporto de Guarulhos alcançou a sua maior nota, com uma evolução de quase 30% em 12 meses, encerrados em junho de 2015. Os destaques foram a cordialidade dos funcionários, o pouco tempo despendido na fila de aduana e imigração, a agilidade no check-in, entre outros. Há, no entanto, muito trabalho pela frente. O principal aeroporto do País é o antepenúltimo entre 15 avaliados. Mas, se as obras seguirem no ritmo atual, São Paulo e todo o País terão o maior aeroporto com a melhor qualidade de serviços.
Revista IstoÉ Dinheiro – SP