Nos últimos meses, consumidor tem buscado mais o chamado cash and carry, onde é possível economizar até 25%
Publicado em 11/10/2015, às 08h00
Quem costuma fazer feira em supermercados e hipermercados espanta-se quando experimenta o chamado atacarejo. Não que os preços estejam baixos nos atacados de autosserviço com cara de varejo (ou em qualquer outro lugar). A inflação cravou 8,61% no Recife no acumulado dos últimos 12 meses até setembro. Mas, nas compras mais pesadas de mês, os cash & carry (pague e leve, na tradução para o português) têm sido uma boa alternativa para as famílias.
As redes misturam atacado e varejo, abaixam o preço se o cliente levar um volume maior do produto e oferecem embalagens de grandes dimensões, em geral mais econômicas. Em locais como Assaí Atacadista, Atacadão e Deskontão, é possível economizar entre 15% e 25% na comparação com o varejo tradicional.
Já foi-se o tempo em que os atacarejos eram locais escuros, de corredores estreitos, com estoques dispostos de maneira bagunçada, onde o cliente era mal atendido e as formas de pagamento eram restritas.
Antes era mais evidente a majoritária presença dos pequenos e médios comerciantes. Hoje a presença do consumidor final nas lojas da rede aumentou consideravelmente, comenta o presidente do Assaí Atacadista, do Grupo GPA, Belmiro Gomes. A rede tem 89 lojas em todo o Brasil. Só não está presente na região Norte.
O modelo não é novo. Porém, a demanda pelo atacado de autosserviço vem crescendo já há alguns anos e ganhou força nos último meses. Notamos que o consumidor está sempre em busca de opções mais econômicas. E, em um cenário econômico mais desafiador, o segmento é uma alternativa para as pessoas que preferem fazer compras mensais maiores e em grupos, reforça Belmiro.
Um levantamento da consultoria Nielsen realizado entre maio e junho mostra que, enquanto o setor de supermercados teve uma queda de 41,0% para 40,3% na importância de compras de abastecimento entre 2014 e 2015, o setor de cash & carry saltou de 56,3% para 64,7% no mesmo período. A importância dos hipermercados também cresceu, mas num ritmo menor, de 42,2% para 47,8% de um ano para o outro.
A vantagem do autosserviço está no baixo custo operacional. O estoque fica disposto na própria área de compras, o que facilita a reposição e economiza espaço e despesa com transporte. O quadro de funcionários também é reduzido. Não existem, por exemplo, embaladores nos caixas. O cliente embala a própria mercadoria e leva para casa em sacolas retornáveis ou caixas de papelão. O conforto não é o forte.
Outra grande rede que segue investindo na expansão como parte da estratégia multiformato é o Atacadão, do Grupo Carrefour. Entre janeiro e setembro, inaugurou sete lojas no País. Atualmente está presente em todas as regiões, com 117 unidades de autosserviço e 22 centrais de distribuição e atacados.
Kennedi Morais, gerente do Deskontão (do grupo pernambucano KarneKeijo) de Casa Amarela, Zona Norte do Recife, contabiliza uma expansão de 3% na quantidade de clientes entre setembro de 2014 e setembro de 2015. A loja recebe cerca de 50 mil pessoas mensalmente e tem ficado cheia em início de mês. O faturamento subiu 5% no acumulado do ano.
Uma procura que era mais evidente entre as classes C, D e E tem destacado-se também para as classes A e B, apesar de os atacados de autosserviço oferecerem um mix reduzido de produtos, quando comparados a varejistas tradicionais.
APOSTAS
Cada rede aposta no seu diferencial. Belmiro explica que o Assaí investe na política de dois preços. A partir de uma pequena quantidade de um determinado produto do mesmo sabor, fragrância ou tipo, já é possível pagar o valor de atacado e economizar. O consumidor não precisa comprar uma caixa de um produto para conseguir valores mais competitivos, explica.
O Deskontão tem três lojas no Estado: Ceasa, Casa Amarela e Imbiribeira. Por enquanto, não planeja abrir a quarta. Em 2015, o foco tem sido a melhoria das lojas, com investimentos no leiaute, e ampliação do mix de produtos. Um dos pontos fortes da empresa é a parte de refrigerados, uma herança do negócio de food service do KarneKeijo, fundada oficialmente em 1978 em Igarassu.
Kennedi observa também a mudança de hábitos das família e grupos que se juntam para comprar em maior quantidade. As pessoas têm procurado marcas mais baratas e as embalagens maiores. A mudança de marca tem sido forte nos setores de material de limpeza e higiene e biscoitos, por exemplo. Leite, os clientes têm levado mais as caixas fechadas, para baratear a compra. E colocado no carrinho mais aves do que carne vermelha, observa.
Também caiu o consumo de salgadinhos, bebidas alcoólicas, queijos, requeijão, cereais. Os itens mais procurados são os da cesta básica: feijão, arroz, macarrão, açúcar, óleo de soja, leite. Segundo análise de tendências da Nielsen de fevereiro a abril, todas as Cestas Nielsen, que agregam mais de 132 categorias de produtos entre bebidas (alcoólicas e não alcoólicas), alimentos perecíveis, limpeza, higiene e beleza, apresentaram uma desaceleração de abril de 2014 a abril de 2015. Além disso, mais da metade das marcas retraíram -3% ou mais nas vendas em volume.
Jornal do Commercio on-line – PE