O controle de custos é fundamental agora, mas assumir um conformismo é acabar com as chances de crescimento no futuro
Muito ouvimos falar em inovação nos últimos anos e a palavra de ordem ganhou ainda mais força em tempos de crise econômica. Mais do que as empresas, será que o nosso País está preparado para inovar? Um tema que pode servir para a nossa reflexão é o serviço de mobilidade Uber. A ideia é disruptiva e a receptividade do app nos países em que opera vem servindo para o mundo como um índice informal para medir o nível de abertura à inovação. Nos últimos dias, os vereadores aprovaram a proibição do serviço na cidade de São Paulo.
No dia a dia, o que percebemos é que o País está na lista daqueles que não ajudam ou estimulam a inovação. Proibir um serviço como este é ir contra a livre-concorrência, que não evolui, e quem sente esse peso é o consumidor. E a questão está aí. O consumidor demanda inovação para manter a cadeia de vendas e de marketing. E esse movimento é que alimenta a economia, para que ela se recupere da atual situação de desaceleração.
Quanto mais leio e escuto sobre a crise, mais fico com a certeza de que deve ser encarada como um momento de oportunidade. De produtividade e de inovação. É notório que, no cenário atual, a velocidade das mudanças e a disponibilidade de informações crescem de forma exponencial e globalizada. A sobrevivência das empresas está relacionada, mais do que nunca, à sua capacidade de captar, absorver e responder às demandas requeridas pelo ambiente.
Está mais do que claro que o omnichannel não é mais uma tendência. Ele já se transformou em realidade. Hoje, não há mais diferença entre loja física ou virtual. Está virando rotina o cliente conhecer o produto na loja física e efetuar a compra pela internet, ou vice-versa. O consumidor atual é, por natureza, multicanal e cross canal, ou seja, compra em diversos canais no momento que for mais conveniente e prático para ele. O consumidor não distingue mais on-line e off-line, está tudo junto e misturado.
As empresas não podem ser inconsequentes neste momento com o reflexo de cortarem o músculo das operações, pois pelo próprio ciclo natural da economia (oferta/demanda, estado das economias internacionais e etc), sairemos deste cenário fúnebre e voltaremos a crescer. Quem fizer esses cortes agora vai ficar pior lá na frente. É hora de inovar, de sermos criativos e produtivos. O controle de custos e fluxo de caixa é um fator fundamental para as empresas em um momento como este, mas assumir um conformismo de estagnação, é acabar com as chances de crescimento no futuro.
Fica evidente ainda que esse é um caminho sem volta, porque o consumidor já sabe o que deseja. O que se faz necessário no momento é uma revisão de caminho por parte dos varejistas e da nossa legislação. Precisamos entender como o Governo brasileiro e a cultura dos consumidores e empresários aceitarão as modificações que se apresentam. Quantos paradigmas e quantas leis deverão ser revisadas para que o omnichannel seja implementado, de forma de fato inovadora no Brasil?
Uma ilustração simples para mostrar que o caminho está apenas no início é observarmos que as lojas de shopping center não podem efetuar vendas on-line, pois o formato de cobrança dos shoppings não permite, já que ele é remunerado sobre a receita da loja. Um vendedor não pode, por exemplo, efetuar o fechamento da compra pelo seu celular ou tablet, pois a legislação não permite que um vendedor exerça função de caixa.
Isso mostra que proibir o uso de um aplicativo é só mais uma vez colocar o Brasil na contramão da evolução. Precisamos entender que o consumidor mudou e que o outro lado da cadeia deve estar atento à essa mudança. O consumidor quer facilidade na hora de consumir, quer opções diferenciadas e, contra isso, não podemos lutar.
*Ana Paula Andrade é country manager da Marco Marketing Brasil, empresa especializada em Field Marketing
Revista No Varejo on-line – SP