04/09/2015 às 05h00
Por Corinne Gretler | Bloomberg
A fabricante suíça de chocolates especiais Lindt & Spruengli está de olho em novas aquisições após comprar a Russell Stover Candies, aproveitando a desvalorização das moedas do Brasil e da Rússia para crescer nesses dois países. Os futuros negócios serão menores que a aquisição da Russell Stover por 1,5 bilhão de francos suíços (US$ 1,6 bilhão) no ano passado, disse ontem o executivochefe Ernst Tanner em uma entrevista. Ele não quis revelar os nomes de futuros alvos, nem especificar onde a Lindt os está buscando, mas observou que a companhia sediada em Kilchberg, na Suíça, vê o Brasil, a Rússia e o Japão como mercados atraentes. “Ainda temos poder de fogo para um negócio”, disse Tanner. Conhecemos todas as fabricantes de chocolates nobres do mundo e sabemos quais poderíamos comprar e quais devemos evitar.” A compra da Russell Stover dos Estados Unidos permitiu à Lindt roubar da Nestlé o posto de terceira maior empresa do setor de chocolates da América do Norte, atrás apenas das concorrentes Hershey e Mars. Agora, com as economias e as moedas dos mercados emergentes em queda, a companhia considera ter uma oportunidade para investir no longo prazo. A ação da Lindt fechou ontem na Bolsa de Zurique em alta de 1,46%. O valor de mercado da companhia supera 14,3 bilhões de francos. Pelo menos metade das lojas a serem abertas pela companhia este ano estará no Brasil, onde a economia está encolhendo, o real perde valor e um escândalo de corrupção ameaça o mandato da presidente Dilma Rousseff. “A presidente Dilma diz que a recessão vai se prolongar por seis a 12 meses”, disse Tanner, de 69 anos. “Mas eu acho que o mercado brasileiro é muito importante, um grande mercado para os chocolates, e com nossa qualidade podemos ir bem longe.” A fabricante dos coelhinhos das Páscoa Lindt Easter, embrulhados em folhas de alumínio, pretende ter cerca de 50 lojas no Brasil em três a cinco anos. A companhia firmou no ano passado uma joint venture com o grupo CRM, um fabricante local de chocolates nobres, na tentativa de estabelecer a marca Lindt no sexto maior mercado de chocolates do mundo. Tanner disse não ver necessidade de produzir no Brasil, ainda. Em vez disso, pretende continuar vendendo no país os chocolates fabricados na Suíça. “Antes da desvalorização do real o mercado era caro”, acrescentou Tanner. “A competição era muito pequena e a qualidade era apenas razoável. Junto com a CRM queremos estabelecer a Lindt de uma maneira mais forte.” A desvalorização do real, que este ano perdeu cerca de 20% de seu valor em relação ao franco suíço, está tornando mais barato crescer no Brasil, diz Patrik Schwendimann, analista do Zuercher Kantonalbank de Zurique. Isso também vale para a Rússia, onde o rublo perdeu cerca de um terço de seu valor. “No Brasil, eles estão agora com uma vantagem dupla, por estarem abrindo uma porta com a joint venture e pelo fato de estar mais barato para investir”, acrescenta Schwendimann. A China, onde a Lindt ingressou em 2012, continuará em banho maria por até dez anos, uma vez que o mercado local de chocolates nobres continua muito pequeno, afirma Tanner. A China desvalorizou o yuan em 11 de agosto, despertando temores de que sua economia possa estar em situação pior que o anteriormente previsto. O país consome 3% da produção mundial de chocolates, segundo a Euromonitor. “Não somos aqueles que podem estabelecer um mercado de chocolates”, afirma Tanner. “Prefiro me concentrar onde o mercado está, do que arriscar tudo na China, onde não há um mercado de chocolates.” (Tradução de Mario Zamarian)
Valor Econômico – SP