01/09/2015 às 05h00
Por Tanya Powley | Financial Time
A necessidade de formar filas para despachar as malas no aeroporto pode estar com os dias contados. As companhias aéreas estão intensificando tentativas de automatizar o processo de checkin, que abrem a possibilidade de o passageiro chegar com as malas já etiquetadas e prontas para serem embarcadas, sem qualquer assistência dos funcionários. Empresas como a British Airways estão testando a etiquetagem eletrônica permanente de malas, que eliminaria a necessidade de um novo rótulo de papel a cada voo do passageiro. Assim que um viajante faz o checkin online, ele poderá posicionar seu smartphone acima da etiqueta eletrônica da mala, que se atualizará com um código de barras contendo os detalhes de seu voo. Essa etiqueta poderá ser rapidamente escaneada no autosserviço de embarque de malas antes de o passageiro se encaminhar para passar pela segurança. A British Airways, controlada pelo International Airlines Group (IAG), pretende lançar suas etiquetas digitais de malas no ano que vem, após novos testes. “Muitas companhias estão testando as etiquetas eletrônicas de malas. Gostaríamos de ver essa tecnologia se generalizar, e não custar mais que US$ 4 a US$ 5, para que as pessoas possam comprar quantas quiserem”, diz Paul Behan, diretor de experiência de passageiros da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), a principal entidade de classe das companhias aéreas mundiais. Behan diz que uma das vantagens da etiqueta eletrônica é ela poder ser atualizada remotamente caso haja algum contratempo na rota, o que garante que a etiqueta conterá os detalhes do novo voo. A companhia aérea australiana Qantas foi pioneira em lançar etiquetas eletrônicas em 2010 e a tecnologia também está sendo testada pela Air France e pela Turkish Airlines. Sua popularização está sendo lenta porque as aéreas se concentraram em investimentos em bens de capital mais urgentes. “Numa época em que o retorno sobre o capital é tão difícil, será que você vai gastar dinheiro nisso em vez de comprar uma quantidade X de aviões?”, questiona Jonathan Keane, da consultoria de administração Oliver Wyman. Mas com o aumento dos lucros prevêse neste ano que o setor gerará as margens mais sólidas desde meados da década de 60 , as companhias aéreas estudam formas de melhorar a experiência do cliente, ao mesmo tempo em que cortam ainda mais os custos. O Aeroporto de Gatwick, em Londres, já divulgou planos de criar a maior área de autosserviço de embarque de malas como parte de seu investimento de 1 bilhão de libras esterlinas na readequação do Terminal Norte. A companhia aérea de baixo custo EasyJet tem 12 embarques de malas por autosserviço em Gatwick e pretende alcançar cerca de 60 até o fim de 2016, quando concluir a readequação, segundo Sophie Dekkers, diretora da EasyJet para o Reino Unido. Segundo o relatório de bagagem deste ano emitido pela empresa Sita, especialista em tecnologia da informação voltada para o transporte aéreo, apenas 9% das companhias aéreas oferecem embarques de bagagem totalmente baseados em autosserviço. O documento prevê que esse percentual subirá para 70% até o fim de 2017. Várias companhias, como a Swiss International, a Lufthansa, a AirFrance, a Iberia e a Alaska Airlines, já permitem que os passageiros imprimam as etiquetas de suas malas para determinadas rotas. Mas surgiram preocupações relacionadas à faixa verde que tem de constar das etiquetas emitidas dentro da União Europeia (UE), para tornálas facilmente identificáveis em relação às malas originárias de países alheios ao bloco. A Iata começará um teste no âmbito da UE a partir de setembro, que pretende solucionar algumas dessas preocupações. Os passageiros serão solicitados a imprimir a etiquetas em cores, para que a faixa verde ainda possa ser vista, mas a entidade espera fazer gestões junto à UE para eliminar a faixa ou substituíla por outro mecanismo identificador de malas. Barreiras regulatórias também afetam a disseminação do autosserviço. No Reino Unido, é preciso que checagens de identidade garantam que as malas sejam embarcadas na presença de seus donos. Behan diz que a Iata está negociando com o Departamento de Transportes uma possível revisão no sentido de a norma ser alterada. “Uma das alternativas que estamos examinando é a identificação biométrica”, diz ele. Automatizar o processo de embarque da bagagem, além disso, poderá reduzir os custos das companhias aéreas com pessoal. No entanto, Keane, da Oliver Wyman, acredita que as companhias aéreas terão, mesmo assim, de administrar a alocação de funcionários para dias de operações irregulares, por exemplo, quando ocorre um problema inesperado, como a queda do abastecimento de energia elétrica sofrida pelo aeroporto de Heathrow neste mês. “[O autosserviço] pode contribuir para baixar os custos, mas será que significa que se pode ter um terminal sem funcionários? Acho que não”, diz ele.
Valor Econômico – SP