13/08/2015 às 05h00
Por Henry Mance | Financial Times, de Londres
A Pearson formalizou a venda de sua participação de 50% no capital da editora responsável pela publicação da revista “The Economist” por 469 milhões de libras esterlinas (cerca de US$ 730 milhões) em dinheiro, na medida em que persiste em sua investida de se concentrar em ativos ligados à educação. Com o negócio, a Exor, o veículo de investimentos da família Agnelli, pagará 287 milhões de libras esterlinas pela maior parte da participação da Pearson, o que a transformará na maior acionista isolada do Economist Group, com 43% do capital da empresa. O Economist Group fará a recompra do restante da participação da Pearson por 182 milhões de libras esterlinas, o que aumentará as carteiras de todos os atuais acionistas como as famílias Rothschild, Schroder e Cadbury. O grupo também venderá sua sede em Londres, no bairro central de St James’s, para ajudar a financiar a transação. O negócio avalia o Economist Group em 955 milhões de libras esterlinas (cerca de US$ 1,5 bilhão), incluindo sua dívida líquida de 17 milhões de libras esterlinas. Essa avaliação equivale a seis vezes o preço que o fundador da Amazon, Jeff Bezos, pagou pelo deficitário “Washington Post” em 2013. O acordo ocorre após a Pearson ter anunciado, em julho, a venda do jornal “Financial Times” e de títulos afins à japonesa Nikkei, por 844 milhões de libras esterlinas (US$ 1,3 bilhão). A Pearson vai ganhar, líquidos, cerca de 1 bilhão de libras (US$ 1,54 bilhão) em renda apurada com as duas vendas, o que melhorará seu endividamento. John Fallon, seu CEO, sugeriu que é pouco provável que faça aquisições de grande porte no curto prazo. O analista Claudio Aspesi, da gestora de investimentos Bernstein, disse sobre a venda: “Teríamos preferido que a Pearson se concentrasse, em 2015 e 2016, em desempenho operacional. Mas os preços oferecidos tanto pelo ‘FT’ quanto pela participação em ‘The Economist’ eram irrecusáveis”. A Exor, que investiu no Economist Group pela primeira vez em 2009, vai aumentar sua participação de 4,7% para 43,4%. A Exor terá o direito de nomear seis dos 13 diretores do Economist Group. Antes de vender o “Financial Times” e 50% da editora que edita a revista “The Economist”, a Pearson havia vendido a vinícola Château Latour em 1989. Os museus de cera de Madame Tussauds foram vendidos nove anos depois, seguidos por investimentos na Lazard e na empresa de produção de TV responsável pela série “Baywatch”. Mas se o CEO da Pearson pensou que o estreitamento do foco conquistaria automaticamente a adesão de investidores, pode se decepcionar. As ações da Pearson caíram 20% desde o fim de março. Mesmo a venda das participações no FT Group e no Economist Group por valores superiores a avaliações de analistas não conseguiu reverter a tendência. “É intrigante”, diz David Reynolds, analista do banco de investimento Jefferies. “Há uma percepção de que o impacto da tecnologia e de todas as coisas digitais ainda não cumpriu seu curso na área editorial educativa.” Alguns investidores estão questionando a capacidade da Pearson de se beneficiar disso após quatro anos sem crescimento orgânico da receita. Embora a empresa disponha agora do dinheiro para grandes aquisições, sua capacidade de fazer aquisições inteligentes está cercada de dúvidas. “Há olhares fuzilantes dos investidores sobre eles”, diz um dos dez maiores acionistas. Outro grande acionista adverte: “Há um cipoal de coisas a resolver, especialmente nos EUA… A última coisa que se quer no momento é outra aquisição.” Fallon diz que a Pearson está “às vésperas de mais um período de crescimento estrutural concentrado”. Ele tenta transformar a Pearson em uma empresa puramente da área educativa, capaz de produzir software mundialmente e de vender sistemas de aprendizagem mais caros, em vez de livros didáticos. “A velha Pearson” como se refere carinhosamente um analista à empresa do período aproximadamente entre 2005 e 2010 foi estimulada pelos gastos do governo em educação, pelo crescimento da economia e pelos contratos obtidos nos EUA. Gastou bilhões de libras esterlinas na compra de empresas de educação digital e em mercados emergentes. Desde então, no entanto, a empresa se defrontou com três grandes problemas. O primeiro é o que a empresa descreve como pressões cíclicas, sofridas principalmente nos EUA, onde o grupo auferiu 60% de sua receita de 4,9 bilhões de libras esterlinas em 2014. Entre essas pressões estão uma recuperação da economia que está em estágio inicial e insuficiente para puxar matrículas nas faculdades, e a oposição política de alguns Estados ao Common Core, plano com apoio do governo federal para implementar padrões escolares comuns no país e do qual a Pearson é um fornecedor fundamental. Em julho, a Pearson disse que as pressões são “ligeiramente piores, no conjunto, do que prevíamos no início do ano”. Analistas do Morgan Stanley concluíram que “as perspectivas de uma mudança para melhor em 2016 parecem mais fracas” observando que outros Estados americanos poderão sair do programa Common Core. O segundo problema é a migração dos livros didáticos e materiais impressos para produtos digitais e serviços de aprendizagem. A Pearson concluiu um plano de reestruturação de dois anos no fim do ano passado, que envolveu o fechamento de alguns depósitos de livros e a reformulação das equipes de vendas. Mas isso pode não ser suficiente, diz o analista Simon Baker, do Société Générale. O terceiro obstáculo é o legado das aquisições rápidas, que deixou a Pearson às voltas com uma série de tecnologias e infraestruturas. A empresa tem cerca de 50 centros de dados nos EUA, e seu software de aprendizagem muitas vezes foi montado de formas diferentes. Fallon diz que esse “cipoal” estará desembaraçado, em grande medida, até o fim de 2017, o que levará à queda dos custos com tecnologia e à elevação das margens de lucro a partir do ano seguinte. Ele argumenta que a Pearson tem atualmente quatro áreas de foco que impulsionarão o crescimento: escolas virtuais& 894; universidades online& 894; escolas particulares de línguas, como a Wall Street English da China& 894; e material para tarefas acadêmicas em educação superior, inclusive materiais digitais. Investir nesses produtos é a prioridade da Pearson. “Eles respondem atualmente por metade da nossa receita& 894; em breve, responderão por 75%”, diz Fallon. Aspesi, do Bernstein, diz que a Pearson está “finalmente abordando a integração das divisões de educação digital em um conjunto coerente de produtos e serviços”. Desde 2010, a Pearson gastou 2,8 bilhões de libras esterlinas (US$ 4,3 bilhões) em dinheiro com aquisições. Duas das maiores a rede de escolas de línguas Grupo Multi e a SEB, que vende sistemas de aprendizagem ocorreram no Brasil, mercado defendido por Fallon que entrou, posteriormente, em recessão. Fallon disse que antes de 2010 “estávamos indo um pouco demais além dos nossos limites”. Agora diz: “Não estamos buscando território virgem. Estamos buscando reforçar as plataformas de crescimento que já temos”. Alguns acham que isso significa que a aquisição de um alvo que é objeto de rumores, o grupo de software educativo Blackboard cujos proprietários, um grupo de private equity, miram uma saída de vários bilhões de dólares é grande demais e que, para isso, é cedo demais. (Tradução de Rachel Warszawski)
Valor Econômico – SP