29/07/2015 às 05h00
Por Renato Rostás | De São Paulo
Com o objetivo de ampliar seus lançamentos em mercados emergentes, a General Motors (GM) decidiu dobrar seu investimento previsto no Brasil para o período entre 2014 e 2019. Agora, a montadora prevê aplicar R$ 13 bilhões no país durante esses anos, sendo que a nova parcela de R$ 6,5 bilhões vai para a criação de uma família de seis modelos de veículos da marca Chevrolet e faz parte de um programa maior de US$ 5 bilhões em investimentos também destinados ao México, à China e à Índia. O anúncio foi feito ontem em São Paulo pelo presidente global da fabricante, Dan Ammann. O executivochefe informou que o volume de recursos para o mercado brasileiro é um dos mais significativos dessa nova estratégia. A GM utilizou um câmbio de R$ 3,20 para o dólar no período ou seja, os investimentos seriam de cerca de US$ 2 bilhões, ou 40% do total previsto ao redor do mundo. Após a entrevista coletiva, Jaime Ardila, responsável pelas operações da companhia na América do Sul, afirmou que nenhuma parcela desse montante vai para a fábrica em São José dos Campos (SP). A cifra vai se concentrar nas unidades de Joinville (SC), São Caetano do Sul (SP), Mogi das Cruzes (SP) e Gravataí (RS). “Ainda buscamos maior competitividade em São José, mas não conseguimos. A fábrica, além de ter salários e benefícios muito maiores do que a média, tem muita inflexibilidade nos contratos trabalhistas”, explicou o executivo. O evento foi utilizado, também, para anunciar a saída de Ardila do grupo. O diretor, que completou 60 anos recentemente, alegou questões pessoais para deixar a empresa. “Saio para ficar mais tempo com a minha família, dada a minha idade”, disse. Para seu lugar, a GM recrutou Barry Engle, atualmente na Agility Fuel Systems, mas que já presidiu a concorrente Ford no Brasil. “Agradecemos a contribuição [de Ardila] em todo o mundo, especialmente aqui na América do Sul, que é uma região muito significativa para a GM”, declarou Ammann. “Estou confiante de que o futuro da companhia será muito bom, com crescimento e sucesso”, acrescentou Ardila. A produção dos novos automóveis no Brasil está marcada para 2019, mas o ainda presidente da GM na América do Sul disse que será feito “de tudo” para que o início ocorra mais cedo. O executivo afirmou também que dos seis modelos previstos, nenhum deve ser popular, ou seja, na faixa dos R$ 30 mil. Ele reforçou que a montadora continua estudando a venda de um carro nessa faixa por aqui, mas que as condições econômicas ainda não tornam sua fabricação possível. Ao redor do mundo, os US$ 5 bilhões aplicados na marca Chevrolet para os emergentes criam uma oportunidade de elevar as vendas em 2 milhões de unidades por ano, de acordo com Ammann. O volume a ser produzido no Brasil ainda terá uma parcela destinada a exportações para a Argentina, primeiramente. Mas as vendas a mercados externos já estão melhorando, completou Ardila, com a ajuda do câmbio. “O que falta agora é o governo assinar acordos comerciais para o setor automotivo. Vemos oportunidades no Peru e na Colômbia, mas precisamos de termos que facilitem o comércio”, disse Ardila. O orçamento adicional de R$ 6,5 bilhões ao Brasil não será usado para uma nova fábrica. Os investimentos irão para desenvolvimento de produtos, aumentar a eficiência das peças utilizadas e modernizar as atuais linhas de montagem. O executivo responsável pela América do Sul explicou que por enquanto não há perspectiva de criação de empregos por conta dos recursos a serem aplicados. “Acredito que agora, provavelmente, nossos fornecedores vão criar mais empregos e vamos saber mais sobre contratação de pessoal nosso quando chegarmos mais perto do início da produção.” No outro lado, de demissões, Ardila comentou que ainda não há nada definido, mas que a montadora fará o máximo, dentro do Programa de Proteção ao Emprego (PPE) do governo federal, para evitar cortes. Atualmente, o quadro da GM no Brasil conta com 19 mil funcionários. Santiago Chamorro, presidente da fabricante no Brasil, e Ammann, o executivochefe global, lembraram que a situação econômica e política no Brasil encontrase enfraquecida, mas reforçaram que o investimento divulgado significa que as oportunidades de longo prazo continuam. “Claro que vemos desafios no país, mas a marca [Chevrolet] está há muito tempo aqui e vai continuar ainda por muito tempo no mercado”, disse Ammann.
Valor Econômico – SP